Destêrro
Destêrro
Bom mesmo é ter um mundo
De que participem
Laranjas e máscaras.
É andar pela noite
Atrás do já sabido
E perder-se de espanto.
Bom mesmo é ter o dom
Da sabida alegria,
Ver sobre a pedra o ramo
Recém-aparecido
E chorar pelas flores.
Bom mesmo é o vinho e a mágoa,
A nostalgia e o sangue
Da matéria servil,
Andar pelos mercados
E partir sem memória
De herança ou benefício.
Ter a rosa das horas
No proveitoso ofício
De viver, esquecer.
Bom mesmo é a claridade
Quando a treva se tece
De olhos cerrados (palmas
Postas para a audiência).
Ter estrelas abertas,
Saber-se estar caindo
E investir inocências.
Bom mesmo é andar-se dentro
Da tentação, sonhar-se
Um santo flagelado
E assomar-se de homem:
Arriscar um presente
Que os futuros consomem.
Aqui estamos perdidos.
Bom mesmo é o descaminho:
Nossos olhos, abertos,
E o coração – sozinhos.
Walmir Ayala – Livro: Poemas da paixão