O jornalista Bernardo Joffily destacou a importância da “brecha presidencialista” no avanço das esquerdas na América Latina. Vindo de uma geração que assumiu a luta armada para enfrentar a ditadura, ele destacou que o modo como a esquerda aproveitou o ciclo democrático para eleger presidentes e enfrentar a institucionalidade burguesa nos países mais diversos do continente, criando um cenário inédito no mundo. Ele avaliou que, com tantos recursos, a direita tem acumulado derrotas seguidas e “resultados minguados”.
Joffilly polemiza ao afirmar que há uma tendência conciliatória, “fruta genuinamente brasileira”, que se tornou uma encruzilhada com o encrispamento da cena eleitoral de 2014; clima que, em sua opinião, permanece. “Não é fácil para um candidato chamar duas candidatas mulheres de levianas (Dilma e Luciana Genro), sem saber o peso disso para uma mulher brasileira”, citou ele.
“A conciliação tem sido explorada pelas classes dominantes e não é necessariamente um mal em si mesma. É uma forma de luta, alternativa ao confronto de vida e morte”, diz ele. Citando Rosa Luxemburgo, ele disse que não há mal em fazer reformas, mas em abandonar a perspectiva revolucionária. “Lula é um mestre da luta conciliatória, algo que faz parte do berço sindicalista. O resultado final da greve é sempre um acordo, para o bem ou para o mal.”
Esse cenário de “encrispamento”, na opinião de Joffilly, mostra que “não vamos chegar ao paraíso terrestre da esquerda no poder indefinidamente.” “O lado de lá também aprende, tem estudos avançados, quebra a cabeça, tem gente capaz e trabalhadora e faz o dever de casa”. Apesar dos resultados minguados, em seu “brainstorm” (técnica de geração e ideias), a direita percebe que uma imprensa afinada foi se constituindo como o partido da oposição, organizador e propositor da plataforma conservadora, tornando-se um elemento que colocam como alta prioridade na disputa pela opinião pública. “No Brasil, não conseguimos um cachorro de porte para latir contra essa alcateia de lobos. Basta um cachorro para não haver unanimidade”, diz ele, citando os avanços de regulação midiática em outros países.
O jornalista lembrou o cenário partidário que se esfarelou na maioria desses país, gerando uma recomposição partidária conservadora. Na Venezuela não sobrou nenhum partido de direita, daqueles que haviam antes de Hugo Chávez. “No Brasil, vamos assistir mudanças importantes na composição dos partidos”, diz ele.
Para ele, são as reformas estruturais que têm capacidade de dar um “upgrade” (um acúmulo positivo) na democracia, tais como a reforma política e a regulação dos meios de comunicação. “Mesmo que mexamos nisso, vai ser simplório achar que garantimos esse ciclo de elege/reelege. Falta desenvolvimento econômico”, sentencia.
“Não me impressiono tanto com esse negócio de Joaquim Levy. Quero ver o conjunto da obra. Se este for o preço do crescimento econômico, estou com a Dilma e não abro”, afirmou, citando o novo ministro da Fazenda, que apresentou um pacote de ajuste fiscal, que sinaliza para medidas recessivas, e gera críticas à esquerda.
Joffily defendeu os estatísticos que o antecederam no debate, diante das críticas de que a análise eleitoral estaria muito calcada no economicismo, e numa incompreensão do conceito de classes sociais. “O conceito marxista de classe não se traduz em estatística no território nacional. Os próprios soviéticos tiveram dificuldade em expressar estatisticamente e fizeram isso de forma precária, por muito tempo.”
Ele também criticou as defesas de que não seria o momento mais adequado para uma reforma política num Congresso tão conservador, que pode estrangular partidos como o PcdoB, caso avancem propostas direitistas.  “Este é um raciocínio conservador e pouco corajoso. O Partido Comunista tem que ser o primeiro a embandeirar esta reforma estrutural. Vamos comprar a luta pelo conteúdo da reforma política que queremos”, defendeu.