A grande encruzilhada
Quando nos encontramos diante de uma encruzilhada, não nos resta senão refletir com a cabeça fria. O que nos espera no fim de cada caminho a ser escolhido? Vivemos hoje um momento em que qualquer decisão será grávida de consequências para o destino do povo brasileiro.
Mais da metade do eleitorado optou por uma proposta de governo que conjugasse a retomada do crescimento com a manutenção de uma política social distributiva da renda nacional. Essa diretriz norteou as políticas públicas dos últimos 12 anos.
Quando olhamos em retrospecto, vemos que as linhas mestras foram desenhadas no final da ditadura. Criou-se então uma corrente ideológica ancorada em ideais de centro-esquerda e representada por sindicalistas independentes, cristãos progressistas e intelectuais socialistas democráticos. O seu eixo distributivista conseguiu tirar da pobreza extrema 36 milhões de brasileiros, segundo dados da OIT. A pressão da máquina neoliberal não conseguiu desmontar a legislação trabalhista ou arrastar os governos ao desemprego em massa. Nem ceder à tentação das privatizações lesivas ao bem público. E o Brasil passou a ser a sétima economia do mundo.
Nesse meio-tempo, o inveterado mal da corrupção, que vinha de longe, continuou a seduzir funcionários, empresários e políticos de amplo espectro. Mas agora há espaço institucional para julgar com isenção os culpados. O que é um progresso moral e jurídico. O caminho sensato é punir os agentes da corrupção sem destruir o que restou de um ideal humanizador do sistema capitalista. O outro caminho, que leva a lutas ferozes pelo poder, só a cegueira poderia escolhê-lo.
*Professor da USP e integrante da Academia Brasileira de Letras