Pedro Onça era um camponês do Pará, analfabeto, que assinava seu nome com digitais. Conhecia e  entendia a natureza como poucos, e por isso preservava e respeitava. Muito jovem, foi chamado por um homem muito conhecido no meio político, à época do interventor do Pará, o general Magalhães Barata. O senhor Cariolano. Conhecido por “ matador de índios”, Cariolano era um servidor dos políticos da época.

Maranhense, o Pedro Onça tinha como função orientar onde existia, nas matas do Pará e Maranhão, castanha, seringais, ferro, manganês e minérios; ou seja, qualquer tipo de metal. Na década de 1960, já com sua companheira Chica, descobriu um pequeno castanhal e ali se instalou, criou os filhos.

Pedro Onça gostava de ouvir Cariolano e suas histórias. De 1965 para 1966, conheceu o garimpeiro Osvaldo –um garimpeiro diferente –, amigo e companheiro. Na nossa conversa, perguntei porque Osvaldo era diferente. Ele era amigo de dois rapazes que Cariolano admirava muito. Indaguei quem eram estes dois? João Amazonas e Pedro Pomar! “Eu estou conhecendo um amigo dos dois”, ele dizia sobre Osvaldão.

Cariolano morreu sem conhecê-los. Não falou nada para o Osvaldo. Este relato me foi passado só quando chamei ele e a Chica, companheira de mais de 50 anos, para pedir os documentos dele e fazer o pedido de anistia de quatro camponeses. Duas mulheres e dois homens, que são Dircy, viúva do Zé Ribeiro, da República Camponesa de Goiás; Neusa Rodrigues Lins, de São Geraldo (Pará); e Pedro Onça, da Sobra de Terra, como era conhecido município, hoje, chamado de Piçarra. Outro é Otacílio Alves de Miranda, o Baiano, da Dona Felicidade, em Marabá.

Eu, também camponês, consegui ser anistiado junto aos meus companheiros de luta libertária. Conseguimos anistiá-los, em 2006, quando a Comissão não fazia isso, por entender que camponês não tinha conotação política. Esta façanha só aconteceu com o segundo presidente da Comissão de Anistia do Ministério da Justiça, o jurista Marcello Lavenére Machado.

Pedro Onça, este camponês, foi nosso companheiro e amigo fiel. Foi preso, torturado, levado para a mata para servir de guia, e nunca nos traiu. Pedro Onça é um herói camponês na Guerrilha do Araguaia.

Faleceu no dia 26 de março de 2015, na Piçarra. No sepultamento, dia 27, estavam prefeitos e vereadores do Maranhão, Pará e Tocantins. Entre eles, estava o prefeito de Araguaná, Alan Brasil, muito amigo do PCdoB. Foi vereador pelo PT na Piçarra, graças ao presidente do PCdoB naquele município, o Pedro Onça.

Este é um breve relato, despedindo-me do herói camponês, presidente do PCdoB na área da luta libertária, na Piçarra, onde permaneceu por toda a vida; sepultado ali, depois de 51 anos.

Micheas Gomes de Almeida, o Zezinho do Araguaia, é sobrevivente da Guerrilha ocorrida entre 1972 e 1975.