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    América Latina

    Morre escritor e jornalista uruguaio Eduardo Galeano

    Galeano faleceu na manhã desta segunda-feira, 13 de abril, aos 74 anos, devido a complicações de um câncer de pulmão. A presidenta Dilma Rousseff lamentou, em nota divulgada nesta segunda-feira (13), a morte de Galeano, exaltou sua importância para a cultura da América Latina e prestou homenagens aos uruguaios, amigos e a família latino-americana. Em […]

    POR: Redação

    Galeano faleceu na manhã desta segunda-feira, 13 de abril, aos 74 anos, devido a complicações de um câncer de pulmão.

    A presidenta Dilma Rousseff lamentou, em nota divulgada nesta segunda-feira (13), a morte de Galeano, exaltou sua importância para a cultura da América Latina e prestou homenagens aos uruguaios, amigos e a família latino-americana.

    Em seu perfil no Twitter, o presidente nacional do Partido dos Trabalhadores, Rui Falcão, também manifestou seu pesar: “Triste: perdemos o grande Eduardo Galeano, autor de ‘As veias abertas da América Latina’, entre outros”.

    Leia a nota da Presidência da República na íntegra :
    “Hoje é um dia triste para todos nós, latino-americanos. Morreu Eduardo Galeano, um dos mais importantes escritores do nosso continente. É uma grande perda para todos que lutamos por uma América Latina mais inclusiva, justa e solidária com os nossos povos. Aos uruguaios, aos amigos e à nossa imensa família latino-americana, quero prestar minhas homenagens e lembrar que continuamos caminhando com os olhos no horizonte, na nossa utopia.
    Dilma Rousseff
    Presidenta da República”

    Leia textos de Galeano publicados em Prosa@Poesia:

    O Povo Argentino Despido Dela
    Por Eduardo Galeano

    1952
    Buenos Aires
    O Povo Argentino Despido Dela

    Viva o câncer!, escreveu certa mão inimiga num muro de Buenos Aires.Odiavam-na,odeiam-na,os bem-nutridos: por ser pobre, por ser mulher, por ser insolente.Ela os desafiava falando e os ofendia vivendo.Nascida para empregada, ou no máximo para atriz de melodramas baratos, Evita tinha saído de seu lugar.
    Amavam-na, amam-na, os mal-amados; por sua boca eles falavam e amaldiçoavam. Além do mais, Evita era a fada loura que abraçava o leproso e o esfarrapado e dava paz ao desesperado, o incessante manancial que prodigiava empregos e colchões, sapatos e máquinas de costura, dentaduras postiças, enxovais de noiva. Os míseros recebiam estas caridades vindas ali do lado, e não la do alto, embora Evita exibisse joias alucinantes e em pleno verão ostentasse casacos de visom. Não é que lhe perdoassem o luxo: o celebravam. O povo não se sentia humilhado, e sim vingado por seus atavios de rainha.
    Frente ao corpo de Evita, rodeado de cravos brancos, o povo desfila chorando. Dia após dia, noite após noite, a fileira de archotes: uma caravana de duas semanas de comprimento.
    Suspiram, aliviados, os agiotas, os mercadores, os senhores da terra. Morta Evita, o presidente Perón é uma faca sem corte.

    Eduardo Galeano
    O Século do Vento – Memória do Fogo (Vol 3)

    Garrincha
    Por Eduardo Galeano

    *
          Algum de seus muitos irmãos batizou-o de Garrincha, que é o nome de um passarinho inútil e feio. Quando começou a jogar futebol, os médicos o desenganaram: diagnosticaram que aquele anormal nunca chegaria a ser um esportista. Era um pobre resto de fome e de poliomielite, burro e manco, com um cérebro infantil, uma coluna vertebral em S e as duas pernas tortas para o mesmo lado.
          Nunca houve um ponta direita como ele. No Mundial de 58, foi o melhor em sua posição. No Mundial de 62, o melhor jogador do campeonato. Mas ao longo de seus anos nos campos, Garrincha foi além: ele foi o homem que deu mais alegria em toda a história do futebol.
          Quando ele estava lá, o campo era um picadeiro de circo; a bola, um bicho amestrado; a partida, um convite à festa. Garrincha não deixava que lhe tomassem a bola, menino defendendo sua mascote, e a bola e ele faziam diabruras que matavam as pessoas de riso: ele saltava sobre ela, ela pulava sobre ele, ela se escondia, ele escapava, ela o expulsava, ela o perseguia. No caminho, os adversários trombavam entre si, enredavam nas próprias pernas, mareavam, caíam sentados.
          Garrincha exercia suas picardias de malandro na lateral do campo, no lado direito, longe do centro: criado nos subúrbios, jogava nos subúrbios. Jogava para um time chamado Botafogo, e esse era ele: o Botafogo que incendiava os estádios, louco por cachaça e por tudo que ardesse, o que fugia das concentrações, pulando pela janela, porque dos terrenos baldios longínquos o chamava alguma bola que pedia para ser jogada, alguma música que exigia ser dançada, alguma mulher que queria ser beijada.
          Um vencedor? Um perdedor com boa sorte. E a boa sorte não dura. Bem dizem no Brasil que se merda tivesse valor, os pobres nasceriam sem cu.
          Garrincha morreu sua morte: pobre, bêbado e sozinho.

    Eduardo Galeano
    Futebol Ao Sol e à Sombra
    Tradução de Eric Nepomuceno e Maria do Carmo Brito
    L&PM Editores – edição 2002

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