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    Comunicação

    A cantiga de Jesuíno

    A cantiga de Jesuíno   Senhores que aqui estão vou cantar meu Desatino: a Canção do Cangaceiro que se chamou Jesuíno, seu Bacamarte de prata e a Estrela do seu Destino.   Queria que a luz de Ouro de uma Justiça constante brilhasse pra todo mundo no Sol de seu Diamante, e é por isso […]

    POR: Ariano Suassuna

    A cantiga de Jesuíno

     

    Senhores que aqui estão
    vou cantar meu Desatino:
    a Canção do Cangaceiro
    que se chamou Jesuíno,
    seu Bacamarte de prata
    e a Estrela do seu Destino.

     

    Queria que a luz de Ouro
    de uma Justiça constante
    brilhasse pra todo mundo
    no Sol de seu Diamante,
    e é por isso que seu nome
    foi Jesuíno Brilhante.

     

    Fazendeiro truculento
    desfeiteou seu irmão:
    ele vingou esta Ofensa,
    fez do sangue seu brasão
    e dizem que desde então
    galopava nas Estrelas
    a cantar esta Canção:

     

    “Eu tenho um Espelho de Cristal:
    foi Jesus Cristo que limpou ele do pó.
    Mas lá um dia a terra se alumia:
    ao Meio- Dia se espalha a luz do Sol!”

     

    De Guarda-peito e Perneiras,
    Chapéu de couro e Gibão,
    montado no seu Cavalo
    por nome de Zelação,
    logo virou Jesuíno
    Rei do povo do sertão!

     

    Tomava dos Poderosos
    O Ouro, a Prata e o Cobre,
    dividia o que tomava,
    distribuindo com os Pobres,
    era Bom, valente e justo,
    sangue Limpo de alma Nobre!

     

    Seu sonho era ver a terra
    – nobre terra do Sertão –
    pertencendo a todo mundo,
    na estrela da Partição,
    e é por isso que ele canta
    de Bacamarte na mão:

     

    “Eu tenho um Espelho de Cristal:
    foi Jesus Cristo que limpou ele do pó.
    Mas ele tem uma luz que alumia:
    ao Meio- Dia se protege a luz do Sol!”

     

    Então juntaram-se os Ricos
    e o governo da Nação:
    botaram – lhe uma Emboscada,
    e ele morre à traição.
    Mas o povo não esquece,
    sonha com ele o Sertão:

     

    “Jesuíno já morreu,
    morreu o Rei do Sertão!
    morreu no campo da honra,
    não entregou – se à Prisão,
    por causa de uma Desfeita
    que fizeram a seu irmão!”

     

    Mas dizem que, ainda hoje,
    se em qualquer ocasião,
    um Pobre sofre injustiça
    nos caminhos do Sertão,
    soam tiros de seu Rifle
    e o tropel de Zelação!

     

    E Jesuíno Brilhante
    não falta com sua Ação:
    queima o dono da injustiça,
    de Bacamarte na mão
    e então sua Voz se afasta
    cantando a velha Canção:

     

    “Eu tenho um Espelho de Cristal:
    foi Jesus Cristo que limpou ele do pó.
    Mas lá um dia a terra se alumia:
    ao Meio- Dia se espalha a luz do Sol!”

     

     


    Anteriormente identificado como sendo de Carlos Newton Júnior, a autoria do poema foi corrigida para Ariano Suassuna, a pedido do organizador e prefaciador do livro O Cançago na Poesia Brasileira.
    Inédito. Este poema deu origem à letra da canção “Cantiga de Jesuíno”, musicada por Capiba (Lourenço Barbosa) em 1967.

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