América Latina: integração regional com soberania e desenvolvimento
As duas imagens que ilustram este editorial são altamente simbólicas não só pelos personagens presentes em cada uma delas, mas porque sintetizam diferentes períodos de uma mesma luta: a dos povos latino-americanos contra a dominação imperialista europeia e estadunidense.
Na ilustração figuram revolucionários históricos como Che Guevara, Emiliano Zapata, Simón Bolívar, José Martí, Tupac Amaru e vários outros. Na foto, tirada durante a 3ª Cúpula da Comunidade dos Estados Latino-Americanos e do Caribe (Celac), estão os presidentes do bloco, juntamente com o presidente da China.
Guardadas todas as devidas diferenças políticas e os condicionantes históricos, as duas imagens sintetizam a opção patriótica desses povos pela paz, pelo desenvolvimento, pela integração, a cooperação, a solidariedade, a autodeterminação, a soberania, a independência, a identidade e pelo direito de escolher os próprios caminhos para soerguerem sua vida política e social.
Ao longo de dois séculos, o ideal do libertador Simón Bolívar de criar a “grande Pátria Americana” inspirou inúmeros combates e batalhas pela independência. Neste início de século 21, o sonho da integração regional e a busca soberana pela autodeterminação dos povos e Nações do continente prossegue em outros termos, mas com igual tenacidade, através do estreitamento de laços políticos, econômicos, sociais e culturais entre os países que lograram constituir importantes instrumentos de integração e cooperação como a União de Nações Sul-Americanas (Unasul), o Mercado Comum do Sul (Mercosul), a Aliança Bolivariana para as Américas (Alba), a Celac e o Foro de São Paulo.
A última Cúpula das Américas (abril de 2015, Panamá) foi palco de uma cena importante deste épico longa-metragem latino-americano. Pela primeira vez a socialista Cuba participou do encontro continental. Em seu pronunciamento – cujos principais trechos reproduzimos nesta edição de Princípios – o presidente cubano Raúl Castro ressaltou “o direito inalienável de todos os Estados de escolherem seu sistema político, econômico, social e cultural, como condição essencial para garantir a coexistência pacífica entre as nações”.
As palavras de Castro são oportunas para o momento político que vive a região, sobretudo a América do Sul. Nas duas últimas décadas, após longo período de dominação da direita pró-imperialista, diversos países lograram eleger governos progressistas, defensores (alguns mais, outros menos) de bandeiras históricas da esquerda e que apostam em um novo caminho de desenvolvimento, distinto do modelo neoliberal. Não foi fácil vencer as duras batalhas eleitorais. Também não está sendo fácil resistir aos ataques sucessivos que as oligarquias desalojadas do poder promovem rotineiramente contra esses governos. Ataques que muitas vezes flertam com o golpismo. As sucessivas crises políticas na Venezuela são um retrato claro desse ambiente de tensão permanente.
Nesta edição de Princípios temos artigos e pronunciamentos de diversas lideranças de esquerda. Mesmo sendo de países e partidos diferentes, são unânimes na avaliação de que os governos progressistas da região inspiram esperança em todo o mundo, o qual, infelizmente, vive um contexto marcado politicamente pela ascensão do conservadorismo. Por isso, integrar, desenvolver e resistir são palavras de ordem imprescindíveis para a luta dos povos de toda a América Latina.
Adalberto Monteiro
Editor