Deveria ter sido “o grande massacre”
Portanto, os ingleses concluíram, não fosse mais esse forfait de ‘Arrocho Fraga’, Mantega teria muito que explicar: segundo o FT, o último relatório do FMI diz que este ano o Brasil vai crescer míseros 0,2%, pior que as todas as economias do mundo. “Zero vírgula três por cento”, corrige (14 Out.) um “professor emérito” do Mackenzie e da Escola Superior de Guerra, também citando o FMI, mas esquecendo, assim como os ingleses, de dizer que não só o Brasil, mas “quase todos os países” tiveram índices de crescimento revisados para baixo.
Configura-se assim uma situação global, sistêmica, gravíssima, causada por duas ordens de problemas. A primeira: “problemas nos mercados financeiros”, “estagnação das economias avançadas” e “declínio do potencial crescimento dos mercados emergentes”. Dilemas exigindo, no Primeiro Mundo, ajuste fiscal e medidas de política monetária, nas economias emergentes, investimento público em infraestrutura, e de forma generalizada, “urgentes reformas estruturais para garantir o potencial de crescimento ou o tornem mais sustentável”.
Tudo solenemente ignorado não só por ‘Arrocho Fraga’, mas pela jornalista que mediou o debate. Ignorando o relatório do FMI, dizendo que “a crise já passou, faz cinco anos” e imaginando que a economia brasileira fosse um planeta habitável distante da Terra, ambos resumiram os problemas aos efeitos de um “modelo populista” (expressão usada pelos ingleses) que não combate a inflação, gera desconfiança no mercado financeiro, depende em excesso do BNDES, e, sobretudo, “não mobiliza capital”.
“Tudo soando como música aos ouvidos dos investidores”, confessa o FT, mas de modo algum atendendo aos reais problemas da economia, nacional ou global. Daí a utilização de recursos por agentes nacionais e estrangeiros que atuam como a ‘mão invisível’ desses investidores e geram tensões políticas e sociais mais ou menos violentas. Justamente a segunda dimensão de causas da crise, que explica – para o FT – o “frio pragmatismo e detalhismo técnico próprios de um banqueiro central” como ‘Arrocho Fraga’, mas que também evidencia toda a sua falsidade e insegurança.
Pedro Scuro Neto é membro da Fundação Maurício Grabois (Secção São Paulo)