Lula defende a Petrobras e convoca petroleiros a preservar maior empresa do Brasil
Ouça a íntegra do discurso de Lula:
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva conclamou a defesa da Petrobras nesta sexta-feira (3), durante sua participação na 5ª Plenária Nacional da Federação Única dos Petroleiros (FUP). O ex-presidente disse ainda que “se alguém roubou a Petrobras, que pague pelo roubo, mas que os trabalhadores não sejam punidos”. A Plenária aconteceu na Escola Nacional Florestan Fernandes do MST em Guararema (SP). “A luta da defesa da Petrobras não é só dos petroleiros. É de quem tem responsabilidade com a soberania desse país”, completou.
O ex-presidente também criticou as iniciativas para se alterar o modelo de partilha e reduzir a participação da Petrobras no pré-sal. “De repente, essa gente resolve dizer que não, que está tudo errado. A troco de quê? De trazer multinacionais para fazer aquilo que a gente tem competência de fazer? Essa gente está deixando prevalecer o complexo de vira-lata que uma parte da elite brasileira teve historicamente. Ser dono do meu nariz é muito mais importante do que ficar dependendo dos outros.”
Ao lembrar que a lei do pré-sal garante a destinação de 75% dos royalties para a educação, Lula disse que o país está “atrasado” nesse aspecto. “Quem sabe a gente venha a ser o país que mais investiu em educação?” E informou que o ex-ministro Luiz Dulci, hoje diretor do Instituto Lula, está preparando uma agenda para ele percorrer o país. “Vou viajar pelo Brasil para discutir educação.”
Lula disse que “se quiserem um brasileiro com orgulho da Petrobras, estou aqui” e sobre a abordagem da imprensa às questões da estatal, afirmou: “a Petrobras não é corrupção. É muito mais que isso. O Brasil não é só miséria como querem mostrar. Não queremos que não mostrem as coisas ruins, mas queremos que mostrem a verdade”.
O ex-presidente comentou os vazamentos seletivos da Operação Lava-Jato. “O vazamento tem interesse. É para pegar alguém ou acusar um partido. Ou seja, a pessoa só pode ser chamada de ladrão quando provar que é ladrão, não pode criminalizar a pessoa antes de ser julgada”.
Ele defendeu os funcionários da estatal. “Se alguém fez sacanagem com a Petrobras, que pague, mas que os trabalhadores não sejam punidos. Que não sejam punidos aqueles que trabalham, que são responsáveis pela construção dessa extraordinária empresa chamada Petrobras”, afirmando que em sua gestão e de Dilma o lucro médio/ano da companhia passou de R$ 4,2 bilhões para R$ 25,6 bilhões. Para o ex-presidente, a dificuldade que a Petrobras enfrenta é temporária. “Uma empresa desse tamanho é que nem o Flamengo: está ruim agora, mas tem recuperação”, brincou. Diante de reações de parte do público, emendou: “Ou o meu Vasco”. Lula é corintiano, mas vascaíno no Rio de Janeiro.
O atual pessimismo na sociedade também foi lembrado no discurso de Lula, que afirmou: “o mau humor hoje não é gratuito. Tem gente que ganha quando cai as ações da Petrobras. Eles compram para vender na alta. Acho que tem gente que dá notícia negativa todo dia, para criminalizar o PT e as esquerdas”. E rebateu “não há espaço para sermos negativos neste país, é só olhar o que nós éramos e o que somos hoje. Estamos vivendo tempos difíceis, mas vamos consertar. E é isso que a presidenta Dilma está fazendo neste momento”.
O ex-presidente defendeu a presidenta Dilma Rousseff em duas frentes: dos ataques pessoais e do momento econômico. “Estamos vivendo tempos difíceis? Estamos. Mas nós vamos consertar. E a Dilma está fazendo isso”, afirmou. Lula acredita que Dilma ainda será “motivo de orgulho”, mas disse que ela deve “encostar a cabeça no ombro do povo e conversar”. Ele também criticou a proposta de redução da maioridade penal, em discussão no Congresso, e as tentativas de mudar o regime do pré-sal.
Para Lula, as pessoas têm de ir as ruas exigir dos seus governantes, mas isso não pode ser confundido com agressão. “O povo tem mais informação por segundo do que tinha por mês, e está mais exigente. E a gente não deve se preocupar com isso. Ser exigente é ir para a rua cobrar, não é falar palavrão e xingar a Dilma ou qualquer outra pessoa. Cadê a democracia? Cadê o respeito?”, questionou. O espaço público é o local para se manifestar, segundo ele: “Se quiserem me derrubar, vão ter que me derrubar na rua”.
De acordo com o ex-presidente, há candidatos que até hoje não aceitam o resultado da eleição do ano passado. “Estamos vivendo uma situação um pouco estranha. Ganhamos as eleições, numa disputa aguerrida e agressiva. Os nossos adversários me parece que não querem aceitar o resultado até hoje. Ninguém perdeu mais eleição do que eu. Sempre que perdi, eu acatei o resultado”, disse Lula. “Nunca vi tanta agressividade como a companheira Dilma tem sofrido. Inclusive com alguns irresponsáveis escondidos na internet.” Ao mesmo tempo, ele avalia que a presidenta deve “conversar com o povo que está torcendo e querendo que ela governe da melhor forma possível”.
Ele enalteceu as “boas notícias” que já estão sendo anunciadas. “Dilma já anunciou dois planos importantes, que é o Plano Safra e o Plano de Concessões, vai anunciar programa de investimento na área de energia, setor elétrico. Mais 3 milhões de casas no Minha Casa, Minha Vida, e vai anunciar outras medidas importantes”. Lula lembrou também o Plano Nacional de Educação (PNE), que “é o grande programa revolucionário neste país” e afirmou “vamos andar o Brasil defendendo este Plano”.
Ele mostrou confiança nos resultados do combate à inflação, vendo “certo pânico” atualmente com taxas a 8,5%, 9% anuais, e disse ter confiança de que a presidenta vê essa questão como prioridade. “Tenho certeza de que a presidenta Dilma tem obsessão de trazer a inflação para o centro da meta. E está tomando as medidas para isso. As pessoas esquecem quanto era a inflação quando cheguei ao governo: 12,5%.” E acrescentou que as comparações atuais são sempre feitas com a própria gestão Lula/Dilma. “Mas se comparar com o país que nós herdamos…”, emendou.
Lula lembrou que ele mesmo, em seu primeiro ano de governo, em 2003, fez ajustes na economia. “Não sei quantos de vocês me xingaram”, disse, dirigindo-se aos petroleiros. “Não há espaço neste país para a gente ser negativo. A gente só tem de olhar o que era e o que é hoje. Quem gosta de ajuste?” E ressaltou fatos que, segundo ele, não ganham a publicidade devida, como o acordo com a China, o Programa de Investimento em Logística (PIL), o Plano Safra e o Plano Nacional de Educação.
Sobre a redução da maioridade penal recém-aprovada na Câmara, o ex-presidente observou que se trata de uma injustiça. “O que explica que o Congresso queira jogar na costa de meninos de 16 anos a responsabilidade pelo que os governos não fazem?”. Lula disse também que a “meninada precisa de oportunidade e não de cadeia”.
A intolerância política foi outro tema abordado por ele em sua explanação. Lula ressaltou a necessidade de defender a democracia. “A democracia pressupõe respeitar o espaço do outro. Repartir democraticamernte os espaços públicos. E não pixar com violência a porta da casa do Jô Soares porque ele entrevistou a presidenta”.
Para terminar, Lula encorajou os trabalhadores a fazer a disputa política no Brasil. “A luta dos trabalhadores não pode ser eminentemente econômica. Tem que pensar em outras coisas. Tem que defender a empresa, proposta para melhorar a vida da empresa, mas tem de sobretudo defender a democracia deste país, o estado de direito. Porque não foi fácil o que conquistamos até agora. Não podemos abdicar disso”.
Para o ex-presidente, o movimento sindical não pode se ater à questão econômica e apresentar propostas para melhorar a gestão da empresa. Isso também deve acontecer na campanha salarial dos petroleiros neste ano. “Vocês não podem abdicar de fazer uma bela pauta e de fazer uma bela discussão política sobre o que está acontecendo na Petrobras.”
Ele recordou de uma greve dos metalúrgicos do ABC em solidariedade aos petroleiros, em 1983. “O Jair Meneguelli (que era presidente do então sindicato de São Bernardo do Campo e Diadema) gostou tanto que estendeu a greve e foi cassado”, brincou. O encontro também discute a greve dos petroleiros em 1995, com homenagens a alguns de seus líderes e participantes. Com aproximadamente 150 participantes, a plenária nacional da FUP começou ontem e vai até domingo (5).