EUA devastaram direitos social e trabalhista na Guatemala, diz autor de livro sobre golpe no país
No ano de 1954, a Guatemala foi vítima do primeiro golpe de Estado na América Latina orquestrado pelos EUA. Considerado um dos processos de transição mais violentos da região no século XX, a ação deixou pelo menos 250 mil pessoas mortas nos anos seguintes ao golpe. Além disso, destruiu o florescimento de organizações trabalhistas, que, na época, traziam novas perspectivas de desenvolvimento social e protagonismo popular aos camponeses.
Esse é o cenário do livro A CIA contra a Guatemala: movimentos sociais, mídia e desinformação, do jornalista Leonardo Severo. Com artigos e reportagens que investigam a realidade local, o autor relata como a ação dos EUA na Guatemala interrompeu uma série de reformas em curso no país que transformavam a realidade local.
Em entrevista a Opera Mundi, Severo explica que o livro busca entender como a articulação entre grandes corporações e o governo norte-americano resultou na devastação de direitos sociais e trabalhistas da população guatemalteca.
Assista à entrevista em vídeo com o jornalista Leonardo Severo, autor do livro ‘A CIA contra a Guatemala: movimentos sociais, mídia e desinformação’:
“A Guatemala vivenciou uma período democrático entre 1934 e 1954. Com o governo de Jacobo Árbenz, floresceram mudanças, como reforma agrária, que empregaram milhares de camponeses. Com isso, esses trabalhadores tiveram melhoras significativas em suas condições, tornando-se protagonistas de suas próprias vidas. Isso forçou ditaduras da região, como da Nicarágua, Honduras e outros países a terem uma postura mais decente em relação aos trabalhadores. Isso incomodava os EUA, pois essa situação atingia gravemente os interesses da United Fruit, uma companhia bananeira, responsável e ‘dona’ daquele ‘quintal’ chamado Guatemala”, relata Severo.
Como a United Fruit tinha influência dentro do Departamento de Estado dos EUA e da CIA — documentos oficiais de Washington comprovam essa relação —, explica Severo, foi planejado um plano para que a Guatemala fosse invadida e todos os direitos trabalhistas conquistados pela população fossem destruídos. O objetivo era frear qualquer avanço social que pudesse colocar em xeque os interesses das corporações norte-americanas na América Latina.
Para Severo, a soma da violência nos anos seguintes ao golpe e a destruição de direitos trabalhistas resultaram na devastação de índices sociais no país. De acordo com a ONU (Organização das Nações Unidas), a Guatemala ocupa as primeiras colocações em índices de homicídios e desaparecimentos de líderes trabalhistas.
“O circo montado em prol dos interesses dos EUA e de suas corporações se transformou em desemprego, fome e miséria na Guatemala. Atualmente o país tem um índice de sindicalização de apenas 2%, pois, se você monta um sindicato, sua filha é estuprada, você é ameaçado de morte, matam sua família, etc. É um nível de barbárie indescritível, resultado da pressão de interesses das transnacionais e do capital financeiro, que pressionam para que as leis reproduzam necessidades comerciais”, analisa.