Nota Prévia a «A Guerra dos Camponeses Alemães» [N98]
11 de Fevereiro de 1870
Primeira Edição: Nota Prévia à Segunda Edição: Escrito por Engels por volta de 11 de Fevereiro de 1870. Publicado na segunda edição de Der deutsche Bauernkrieg, Zweiter Abdruck, Leipzig. Outubro de 1870. Publicado segundo o texto da segunda edição.
Aditamento ao Prefácio de 1870 para a Terceira Edição de 1875: Publicado no livro: F. Engels, Der deutsche Bauernkrieg, Leipzig, 1875. Publicado segundo o texto do livro. Traduzido do alemão.
Fonte: Obras Escolhidas em três tomos, Editorial “Avante!”
Tradução: Álvaro PINA
Nota Prévia à Segunda Edição de 1870
A obra que se segue foi escrita em Londres, no Verão de 1850, ainda sob a impressão directa da recém-consumada contra-revolução; veio a público nos cadernos 5 e 6 da Neue Rheinische Zeitung. Politisch-ökonomische Revue[N99], dirigida por Karl Marx, Hamburgo, 1850. Os meus amigos políticos na Alemanha desejam que seja reimpressa, e eu venho ao encontro desse desejo, pois que ela ainda hoje, para meu desgosto, é actual.
Ela não tem a pretensão de fornecer material autonomamente investigado. Pelo contrário, todo o material referente aos levantamentos camponeses e a Thomas Münzer foi recolhido de Zimmermann[N100]. O seu livro, ainda que aqui e ali com lacunas, continua a ser a melhor compilação do factual. E no meio de tudo o velho Zimmermann tinha prazer na sua matéria. O mesmo instinto revolucionário que aqui em toda a parte surge a favor da classe oprimida fez dele mais tarde um dos melhores da esquerda mais extrema[N101] em Frankfurt. Desde então envelheceu um pouco, segundo se diz.
Se, pelo contrário, falta à exposição de Zimmermann a conexão interna; se ela não consegue demonstrar as controvérsias religiosas e políticas como a imagem reflectida das lutas de classes desse tempo; se ela nestas lutas de classes só vê opressores e oprimidos, bons e maus, e a vitória final dos maus; se a sua inteligência da situação social que condicionou tanto a eclosão como o desfecho da luta é altamente insuficiente, a verdade é que isso foi erro do tempo em que o livro nasceu. Pelo contrário, para o seu tempo este é, excepção honrosa entre as obras idealistas alemãs de história, ainda considerado muito realista.
A minha exposição tentou, bosquejando o decurso histórico da luta apenas nos seus contornos, esclarecer a origem da guerra dos camponeses, a posição dos diferentes partidos que nela entram, as
teorias políticas e religiosas nas quais estes partidos procuraram tornar-se claros sobre a sua posição, e por fim o resultado da própria luta como necessidade, a partir das condições sociais de vida historicamente presentes destas classes; por conseguinte, demonstrar a constituição política da Alemanha de então, as rebeliões contra ela, as teorias políticas e religiosas do tempo, não como causas mas como resultados do estádio de desenvolvimento em que se encontravam então na Alemanha a agricultura, a indústria, as vias terrestres e fluviais, o comércio de mercadorias e de dinheiro. Esta visão da história, a única materialista, não parte de mim, mas de Marx, e encontra-se igualmente nos seus trabalhos sobre a revolução francesa de 1848-1849(1*) nessa mesma Revue e no 18 de Brumário de Louis Bonaparte.(2*)
O paralelo entre a revolução alemã de 1525 e a de 1848-1849 estava demasiado perto para então se largar mão dele completamente. A par da uniformidade do decurso, no qual sempre um mesmo exército principesco esmagou diversos levantamentos locais uns atrás dos outros, a par da muitas vezes ridícula semelhança da entrada em cena dos habitantes das cidades em ambos os casos, a diferença veio entretanto clara e nitidamente a lume:
«Quem lucrou com a revolução de 1525? Os príncipes. — Quem lucrou com a revolução de 1848? Os grandes príncipes, a Áustria e a Prússia. Atrás dos pequenos príncipes de 1525, prendendo-os a si por meio do imposto, estavam os pequenos burgueses filisteus [die kleinen Spiessbúrger], atrás dos grandes príncipes de 1850, atrás da Áustria e da Prússia, subjugando-os rapidamente por meio da dívida pública, estão os grandes burgueses modernos. E por trás dos grandes burgueses estão os proletários.»(3*)
Tenho pena de ter de dizer que nesta frase se fez à burguesia alemã uma honra excessiva. Eles tiveram a oportunidade, tanto na Áustria como na Prússia, de «por meio da dívida pública subjugar rapidamente» a monarquia; nunca, e em parte nenhuma, foi esta oportunidade aproveitada.
A Áustria, pela guerra de 1866[N102], caiu de presente no colo da burguesia. Mas ela não sabe dominar, ela é impotente e incapaz para tudo. Só há uma coisa que ela sabe: é esbravejar contra os operários assim que estes se mexem. Ela continua ainda ao leme apenas porque os Húngaros precisam dela.
E na Prússia? Sim, a dívida pública é certo que se multiplicou vertiginosamente, o défice está declarado permanente, as despesas do Estado crescem de ano para ano, os burgueses têm a maioria na câmara, sem eles não podem nem ser elevados os impostos nem contraídos empréstimos — mas onde está o seu poder sobre o Estado? Ainda há poucos meses, quando de novo estava diante deles um défice, eram eles que tinham a melhor posição. Apenas com alguma perseverança podiam ter forçado algumas bonitas concessões. Que fazem eles? Vêem como uma concessão suficiente que o governo lhes permita depor-lhe aos pés perto de 9 milhões, não por um ano, não, anualmente e para todo o sempre.
Não quero censurar os pobres «Nacional-Liberais»[N103] na câmara mais do que eles merecem. Sei que foram abandonados por aqueles que estão atrás deles, pela massa da burguesia. Esta massa não quer dominar. Ela continua a ter o 1848 atravessado.
Por que motivo a burguesia alemã desenvolveu esta notável cobardia, veremos mais adiante.
De resto, a frase acima confirmou-se completamente. Desde 1850, um retrocesso cada vez mais decidido dos pequenos Estados, que apenas servem ainda como alavancas para as intrigas prussianas ou austríacas, lutas cada vez mais enérgicas entre a Áustria e a Prússia pela dominação exclusiva, por fim o violento conflito de 1866, após o qual a Áustria conserva as suas próprias províncias, a Prússia submete directa ou indirectamente todo o Norte[N104] e os três Estados do Sudoeste(4*) são temporariamente deixados como que em suspenso.
Para a classe operária alemã, de importância em toda esta acção principal(5*) é apenas isto:
Primeiro, que os operários pelo sufrágio universal alcançaram o poder de se fazer representar directamente na assembleia legislativa.
Segundo, que a Prússia avançou com um bom exemplo e engoliu três outras coroas de direito divino.(6*) Que depois deste procedimento ela ainda possua a mesma imaculada coroa de direito divino que anteriormente se atribuía — nisso nem mesmo os Nacional-Liberais acreditam.
Terceiro, que na Alemanha há ainda apenas um adversário sério da revolução — o governo prussiano.
E quarto, que os Germano-Austríacos têm agora finalmente de se pôr a questão de saber o que querem ser: alemães ou austríacos? A que é que se preferem agarrar — à Alemanha ou aos seus apêndices transleithânicos extra-alemães? Que têm de desistir de uma coisa ou de outra era já há muito evidente, mas foi sempre escamoteado pela democracia pequeno-burguesa.
No que diz respeito às demais controvérsias importantes por causa de 1866, que desde então são discutidas até ao enfado entre os «Nacional-Liberais» de um lado e o «Partido Popular»[N105] do outro, a história dos próximos anos há-de mostrar que esses dois pontos de vista só se digladiam com tanta veemência pelo facto de serem os pólos opostos de uma mesma tacanhez.
Nas relações sociais da Alemanha o ano de 1866 quase nada alterou. A meia dúzia de reformas burguesas — as mesmas medidas e pesos, liberdade de movimentação, liberdade de negócios, etc, tudo dentro dos limites adequados à burocracia — nem sequer atingem o que a burguesia de outros países oeste-europeus há muito possui e deixam intacta a chicana principal, todo o sistema das concessões burocráticas[N106]. Para o proletariado, de qualquer modo, todas as leis de liberdade de movimentação, de cidadania, de abolição de passaporte e outras são tornadas completamente ilusórias pela prática corrente da polícia.
O que é muito mais importante do que a acção principal de 1866 é o ascenso da indústria e do comércio, dos caminhos-de-ferro, telégrafos e da navegação oceânica a vapor na Alemanha a partir de 1848. Conquanto este progresso ainda fique atrás do que no mesmo tempo foi feito em Inglaterra e até na França, para a Alemanha ele é inaudito, e fez mais em vinte anos do que antes fizera um século inteiro. A Alemanha só agora entrou a sério e irrevogavelmente no comércio mundial. Os capitais dos industriais multiplicaram-se rapidamente, a posição social da burguesia elevou-se em conformidade. A característica mais segura de florescimento industrial, a falcatrua, instalou-se em ampla medida e acorrentou condes e duques ao seu carro triunfal. Capital alemão constrói agora caminhos-de-ferro russos e romenos — que a terra lhe seja leve! — em vez de como há quinze anos os caminhos-de-ferro alemães andarem a mendigar junto de empresários ingleses. Como é então possível que a burguesia não tenha conquistado também para si a dominação política, que se comporte de maneira tão cobarde contra o governo?
A burguesia alemã teve a pouca sorte de, à boa maneira alemã, vir demasiado tarde. O seu tempo de florescimento calha num período em que a burguesia dos outros países europeus ocidentais já está politicamente em decadência. Em Inglaterra a burguesia não conseguiu levar ao governo o seu verdadeiro representante, Bright, a não ser por um alargamento do direito de voto que nas suas consequências tem de pôr fim a toda a dominação burguesa. Em França, onde a burguesia como tal, como classe no seu conjunto, só dominou dois anos, em 1849 e 1850, na república, ela só pôde prolongar a sua existência social cedendo a sua dominação política a Louis Bonaparte e ao exército. E na acção recíproca tão infinitamente intensificada dos três países europeus mais avançados já não é hoje possível que na Alemanha a burguesia institua confortavelmente a sua dominação política se esta em Inglaterra e em França já deu o que tinha a dar.
Esta é precisamente uma particularidade característica da burguesia face a todas as classes dominantes anteriores: há no seu desenvolvimento um ponto de viragem a partir do qual toda a ulterior intensificação dos seus meios de poder, e principalmente portanto dos seus capitais, apenas contribui para a tornar cada vez mais incapaz para a dominação política. «Atrás dos grandes burgueses estão os proletários.» Na mesma medida em que a burguesia desenvolve a sua indústria, o seu comércio e os seus meios de intercâmbio, ela cria proletariado. E num certo ponto — que não precisa de surgir em toda a parte ao mesmo tempo ou no mesmo estádio de desenvolvimento — ela começa a notar que este seu duplo proletário se lhe escapa das mãos. A partir desse momento ela perde a força para a dominação política exclusiva; olha em seu redor em busca de aliados com os quais, segundo as circunstâncias, partilha a sua dominação ou aos quais a cede completamente.
Na Alemanha este ponto de viragem surgiu para a burguesia já em 1848. E a verdade é que a burguesia alemã não se assustou então tanto com o proletariado alemão como com o francês. A batalha de Paris de Junho de 1848[N21] mostrou-lhe o que tem a esperar; o proletariado alemão estava precisamente agitado na medida bastante para lhe provar que também aqui estava já no solo a sementeira para a mesma colheita; e desde esse dia à acção política da burguesia faltou acutilância. Procurou aliados, vendeu-se a eles por qualquer preço — e ainda hoje não deu um passo em frente.
Estes aliados são todos de natureza reaccionária. Lá está a realeza com o seu exército e a sua burocracia, lá está a grande nobreza feudal, lá estão os pequenos Junker das hortas, lá estão mesmo os padres. Com todos estes a burguesia fez pactos e combinações apenas para manter a sua querida pele, até que por fim nada mais lhe ficou para traficar. E quanto mais o proletariado se desenvolveu, quanto mais ele começou a sentir-se como classe, a agir como classe, tanto mais pusilânimes se tornaram os burgueses. Quando a estratégia admiravelmente má dos Prussianos em Sadowa[N107] triunfou sobre a dos Austríacos, ainda admiravelmente pior, era difícil dizer quem respirou mais aliviado — o burguês prussiano, também batido em Sadowa, ou o austríaco.
Os nossos grandes burgueses agem em 1870 ainda exactamente da mesma maneira que agiram os médios burgueses de 1525. No que diz respeito aos pequenos burgueses, mestres artesãos e merceeiros, esses ficarão sempre iguais a si mesmos. Têm esperança de trepar até à grande burguesia à custa de vigarices, temem ser lançados no proletariado. Entre o temor e esperança, salvarão a sua valiosa pele durante a luta e depois da luta juntar-se-ão aos vencedores. E esta a sua natureza.
A acção social e prática do proletariado tem acompanhado o ascenso da indústria desde 1848. O papel que os operários alemães hoje desempenham nas suas associações sindicais, cooperativas, associações e assembleias políticas, nas eleições e no chamado Reichstag demonstra só por si que profunda transformação a Alemanha imperceptivelmente sofreu nos últimos vinte anos. Reverte em suprema honra dos operários alemães terem sido eles os únicos a conseguir enviar para o Parlamento operários e representantes dos operários, ao passo que nem os ingleses nem os franceses o atingiram até agora.
Mas também o proletariado ainda não escapa ao paralelo com 1525. A classe dependente, exclusivamente e por toda a vida, do salário do trabalho continua a não constituir ainda, e por ampla diferença, a maioria do povo alemão. Também ela está portanto dependente de aliados. E estes só podem ser procurados entre os pequenos burgueses, entre o lumpenproletariado das cidades, entre os pequenos camponeses e os jornaleiros agrícolas.
Dos pequenos burgueses já falámos. Não são nada dignos de confiança, a não ser quando se triunfou, então a sua gritaria nas cervejarias é incomensurável. Apesar de tudo há entre eles elementos muito bons, que por si mesmos se juntam aos operários.
O lumpenproletariado, essa escumalha dos sujeitos sem dignidade de todas as classes que monta o seu quartel-general nas grandes cidades, é de todos os aliados possíveis o pior. Esta canalha é absolutamente venal e absolutamente impudente. Se os operários franceses em todas as revoluções escreveram nas casas Mort aux voleurs!, morte aos ladrões, e abateram mesmo muitos, isso não aconteceu por entusiasmo pela propriedade, mas no reconhecimento correcto de que acima de tudo é preciso ver-se livre deste bando.
Todo o dirigente operário que utiliza estes miseráveis como guarda ou neles se apoia logo por aí se revela traidor ao movimento.
Os pequenos camponeses — pois os maiores pertencem à burguesia — são de espécie diversa. Eles por um lado ou são camponeses feudais e têm de prestar ainda corveias ao clemente senhor.
Depois de a burguesia ter desperdiçado o ensejo, o que foi da sua culpa, de redimir esta gente da servidão feudal, não será muito difícil convencê-los de que é só da classe operária que eles têm a esperar a redenção.
Ou então são rendeiros. Neste caso existe sobretudo a mesma relação que na Irlanda. Sobe-se tanto a renda que o camponês e a família, no caso de colheitas médias, só escassamente consegue viver, e no caso de más colheitas quase morre de fome, não consegue pagar a renda e deste modo torna-se completamente dependente da mercê do proprietário fundiário. Por esta gente a burguesia só faz alguma coisa quando é obrigada a isso. De quem hão-de esperar salvação, a não ser dos operários?
Restam os camponeses que exploram a sua própria pequena propriedade fundiária. Estes, na sua maioria, estão tão carregados de hipotecas que dependem tanto do usurário como o rendeiro do senhor da terra. Também a eles fica apenas um salário de trabalho escasso e ainda por cima extremamente inseguro por causa dos bons e maus anos. Da burguesia não podem esperar nada, pois é precisamente pelos burgueses, os capitalistas usurários, que eles são sugados. Mas na maioria são muito apegados à sua propriedade, embora esta na realidade não lhes pertença, mas ao usurário. Contudo terá de lhes ser explicado que eles só podem ser libertados do usurário quando um governo dependente do povo transformar todas as dívidas de hipotecas numa dívida ao Estado e deste modo fizer baixar a taxa de juro. E isto só a classe operária o pode conseguir.
Por toda a parte onde domina a média ou grande propriedade fundiária os jornaleiros agrícolas constituem a classe mais numerosa no campo. É este o caso em toda a Alemanha do Norte e Oriental, e aqui encontram os operários industriais das cidades os seus aliados mais numerosos e mais naturais. Assim como o capitalista está para o operário industrial, está o proprietário fundiário ou grande rendeiro face ao jornaleiro agrícola. As mesmas medidas que ajudam um têm também de ajudar o outro. Os operários industriais só se podem libertar quando transformarem o capital dos burgueses, i.e., as matérias-primas, máquinas e ferramentas e meios de vida requeridos para a produção, em propriedade da sociedade, i.e., na sua própria propriedade, por eles utilizada em comum. Do mesmo modo os operários rurais só podem ser redimidos da sua miséria atroz quando sobretudo o seu principal objecto de trabalho, a própria terra, for arrancada à posse privada dos grandes camponeses e dos senhores feudais ainda maiores e transformada em propriedade social e cultivada por cooperativas de operários rurais por sua conta comum. E aqui chegamos à famosa resolução do congresso operário internacional de Basileia: a sociedade tem interesse em transformar a propriedade fundiária em propriedade comum, nacional[N108]. Esta resolução foi tomada principalmente para os países em que existe a grande propriedade fundiária e, em conexão com ela, exploração de grandes quintas, e nestas grandes quintas um senhor e muitos jornaleiros. Este estado é porém ainda predominante em grande medida na Alemanha, e por isso a resolução era precisamente para a Alemanha, logo a seguir à Inglaterra, altamente actual. O proletariado agrícola, os jornaleiros — eis a classe de que em grande massa se recrutam os exércitos dos príncipes. Eis a classe que agora envia para o Parlamento, por força do sufrágio universal, a grande quantidade dos senhores feudais e Junker; mas eis também a classe que está mais perto dos operários industriais das cidades, que com eles partilha das mesmas condições de vida, que está até mais afundada na miséria do que eles. Dar vida a esta classe, que é impotente porque está fragmentada e dispersa, cujo poder oculto o governo e a nobreza conhecem tão bem que intencionalmente deixam cair na ruína as escolas para que ela permaneça ignorante, dar vida a esta classe e arrastá-la para o movimento, eis a tarefa imediata, mais urgente, do movimento operário alemão. A partir do dia em que a massa dos jornaleiros tenha aprendido a entender os seus próprios interesses, a partir desse dia é impossível na Alemanha um governo reaccionário, feudal, burocrático ou burguês.
Aditamento ao Prefácio de 1870 para a Terceira Edição de 1875
As linhas precedentes foram escritas há mais de quatro anos. Elas conservam ainda hoje a sua validade. O que era correcto depois de Sadowa e da divisão da Alemanha confirma-se também depois de Sedan[109] e da edificação do sacro império alemão da nação prussiana[N110]. Muito pouco conseguem mudar na orientação do movimento histórico acções principais(7*) «que abalam o mundo» da chamada grande política.
O que pelo contrário estas acções principais conseguem é acelerar a velocidade deste movimento. E a este respeito os autores dos «acontecimentos que abalaram o mundo» atrás referidos tiveram êxitos involuntários, que para eles próprios são certamente altamente indesejados mas que têm de aceitar de bom ou mau grado.
Já a guerra de 1866 abalou a velha Prússia nos seus alicerces. Já tinha custado trabalho meter de novo debaixo da velha disciplina o elemento industrial rebelde das províncias ocidentais — burguês e proletário — depois de 1848; no entanto, isso fora conseguido, e o interesse dos Junker das províncias orientais era de novo, a seguir ao do exército, o dominante no Estado. Em 1866 quase toda a Alemanha do Noroeste se tornou prussiana. Abstraindo do insanável dano moral que a coroa prussiana de direito divino recebeu ao engolir três outras coroas de direito divino,(8*) o centro de gravidade da monarquia deslocou-se agora significativamente para ocidente. Os cinco milhões de Renanos e Vestefalianos foram reforçados, primeiro com os 4 milhões de alemães anexados directamente e depois com os 6 milhões anexados indirectamente, pela Liga da Alemanha do Norte. E em 1870 juntaram-se-lhes ainda os 8 milhões de alemães do Sudoeste[N111] pelo que agora, no «novo Reich», face aos 14 milhões e meio de velhos prussianos (das seis províncias a leste do Elba, entre os quais além disso 2 milhões de polacos) estavam 25 milhões que há muito tinham escapado ao feudalismo dos Junker da velha Prússia. Assim, precisamente as vitórias do exército prussiano deslocaram a inteira base do edifício do Estado prussiano; a dominação dos Junker tornou-se cada vez mais insuportável ao próprio governo. Mas ao mesmo tempo o desenvolvimento industrial agudamente rápido tinha substituído a luta entre Junker e burgueses pela luta entre burgueses e operários, pelo que também no interior as bases sociais do velho Estado experimentaram uma completa transformação. A monarquia em lenta decomposição desde 1840 tivera por condição fundamental a luta entre nobreza e burguesia, na qual alcançou o equilíbrio; a partir do momento em que a questão passou a ser, não já proteger a nobreza contra a pressão da burguesia mas proteger todas as classes possidentes contra a pressão da classe operária, a velha monarquia absoluta teve de passar completamente para a forma de Estado elaborada expressamente para este fim: a monarquia bonapartista. Já explicitei esta passagem da Prússia para o bonapartismo noutro lugar (Wohnungsfrage [Questão da Habitação], 2.° cad., p. 26 e segs.)(9*). O que ali não tinha de acentuar, o que aqui porém tenho de acentuar muito essencialmente, é que esta passagem foi o maior progresso que a Prússia fez desde 1848, de tal modo a Prússia tinha ficado atrás do desenvolvimento moderno. Ela contiruava a ser precisamente um Estado semifeudal, e o bonapartismo é em todo o caso uma forma de Estado moderna que tem por pressuposto a eliminação do feudalismo. A Prússia tem por conseguinte de se decidir a varrer os seus numerosos resquícios feudais, a sacrificar os Junker como tais. Naturalmente, isto acontece na forma mais suave e de acordo com a apreciada melodia: Immer langsam voran!(10*) Assim p. ex. no muito celebrado regulamento dos concelhos. Ele abole os privilégios feudais do Junker individual na sua quinta, mas apenas para os restaurar como prerrogativas da totalidade dos grandes proprietários fundiários para todo o concelho. A coisa permanece, apenas é traduzida do dialecto feudal para o burguês. O Junker da velha Prússia é transformado à força em qualquer coisa como um squire(11*) inglês, e ele nem precisa de se irritar muito com isso, porque um é tão estúpido como o outro.
Deste modo tem por conseguinte a Prússia o destino curioso de completar no fim deste século, na forma agradável do bonapartismo, a sua revolução burguesa, que iniciara em 1808-1813 e levara um pouco mais adiante em 1848. E se tudo se passar bem, e o mundo continuar sossegadinho, e nós chegarmos até lá, então talvez possamos ver no ano de 1900 como o governo na Prússia eliminou realmente todas as instituições feudais, como a Prússia chegou finalmente ao ponto em que estava a França em 1792.
Abolição do feudalismo, expresso pela afirmativa, significa estabelecimento de condições burguesas. Na mesma medida em que tombam os privilégios da nobreza a legislação aburguesa-se. E aqui depara-se-nos o cerne da relação da burguesia alemã com o governo. Vimos que o governo é obrigado a introduzir estas reformas lentas e mesquinhas. Mas face à burguesia ele apresenta cada uma destas pequenas concessões como um sacrifício feito em benefício dos burgueses, uma concessão arrancada à coroa com esforço e sofrimento, em troca do qual eles, os burgueses, agora por seu turno teriam também de conceder algo ao governo. E os burgueses, se bem que vendo os factos com bastante clareza, aceitam este engano. Daqui nasceu então aquele acordo tácito que forma a base muda de todos os debates do Reichstag e da Câmara em Berlim: por um lado o governo reforma as leis a galope de caracol no interesse da burguesia, elimina os entraves feudais e nascidos da fragmentação estatal [Kleinstaaterei] à indústria, cria unidade monetária, de medidas e de pesos, liberdade de negócio, etc, põe à disposição ilimitada do capital, por meio da liberdade de movimentação, a força de trabalho da Alemanha, favorece o comércio e as falcatruas; por outro lado a burguesia cede ao governo todo o poder político real, vota impostos, empréstimos e soldados e ajuda a redigir todas as novas leis de reforma de maneira tal que permaneça em vigor pleno a velha violência policial sobre indivíduos malquistes. A burguesia compra a sua gradual emancipação social com a renúncia imediata ao poder político próprio.
Naturalmente, o móbil principal que torna aceitável à burguesia um tal acordo é, não medo ante o governo mas medo ante o proletariado.
No entanto, sendo embora lamentável a entrada da nossa burguesia na cena política, não há que negar que no aspecto industrial e comercial ela faz finalmente o que lhe compete. O ascenso da indústria e do comércio, a que se fez referência na introdução à segunda edição,(12*) desenvolveu-se desde então com uma energia de longe ainda maior. O que a este respeito aconteceu no distrito industrial da Renânia-Vestefália desde 1869 é perfeitamente inaudito para a Alemanha e lembra o ascenso nos distritos fabris ingleses no início deste século. E o mesmo se passará na Saxónia e na Alta-Silésia, em Berlim, Hannover e nas cidades marítimas. Temos finalmente um comércio mundial, urna indústria realmente grande, uma burguesia realmente moderna; mas em troca tivemos também um craque real e ficámos igualmente com um proletariado real, vigoroso.
Para o historiógrafo futuro, o troar dos canhões de Spichern, Mars-la-Tour[N112] e Sedan, e o que a isso se prende, terá muito menor importância na história da Alemanha de 1869 a 1874 do que o desenvolvimento despretensioso, em progresso tranquilo mas constante, do proletariado alemão. Logo em 1870 pôs-se aos operários alemães uma prova difícil: a provocação de guerra bonapartista e o seu efeito natural — o entusiasmo nacional geral na Alemanha. Os operários socialistas alemães não se deixaram induzir em erro um único instante. Nem um só impulso de chauvinismo nacional se revelou entre eles. No meio do delírio mais louco da vitória, continuaram frios, exigiram «uma paz justa com a República Francesa e nenhuma anexação», e nem mesmo o estado de sítio os reduziu ao silêncio. Entre eles não teve curso qualquer glória das batalhas, qualquer palavreado sobre a «magnificência imperial» alemã; o seu único objectivo continuou a ser a libertação do proletariado europeu inteiro. Pode bem dizer-se: a uma prova tão difícil, e que eles passaram com tanto brilho, não foram até hoje submetidos os operários de nenhum outro país.
Ao estado de sítio da guerra seguiram-se os processos de alta traição, de lesa-majestade e de lesa-funcionalismo, as chicanas policiais, sempre crescentes, da paz. O Volksstaat[N55] tinha em regra três a quatro redactores ao mesmo tempo na prisão, as outras folhas em proporção. Cada um dos oradores do partido em alguma medida conhecidos tinha de ir a tribunal pelo menos uma vez por ano, e aí era quase regularmente condenado. Expatriações, confiscações, dissolução de reuniões, sucediam-se umas às outras sem interrupção. Tudo baldado. Para o lugar de cada um dos presos ou expatriados aparecia imediatamente um outro; por cada reunião dissolvida convocavam-se outras duas e cansava-se o arbítrio policial num local a seguir a outro por meio de perseverança e da observância rigorosa das leis. Todas as perseguições tiveram por efeito o contrário do fim pretendido; muito longe de quebrarem, ou ao menos vergarem, o partido operário, apenas conduziram a ele sempre novos recrutados e consolidaram a organização. Na sua luta com as autoridades, como com os burgueses individuais, os operários por toda a parte se revelaram como os intelectualmente e moralmente superiores, e provaram nomeadamente nos seus conflitos com os chamados «dadores de trabalho»(13*) que agora são eles, os operários, os homens cultos, e os capitalistas os boçais. E no meio de tudo isto conduzem a luta predominantemente com um humor que é a melhor prova de como estão seguros da sua causa e conscientes da sua superioridade. Uma luta assim conduzida, num solo historicamente preparado, tem de proporcionar grandes resultados. Os êxitos das eleições de Janeiro[N113] são até aqui os únicos na história do movimento operário moderno, e o espanto que provocaram em toda a Europa foi completamente justificado.
Os operários alemães têm sobre os do resto da Europa duas vantagens essenciais. Em primeiro lugar, a de pertencerem ao povo mais teórico da Europa e terem conservado o sentido teórico que a chamada «gente culta» da Alemanha tão completamente perdeu. Sem a precedência da filosofia alemã, nomeadamente de Hegel, o socialismo científico alemão — o único socialismo científico que jamais existiu — nunca teria nascido. Sem esse sentido teórico entre os operários este socialismo científico nunca lhes teria entrado tanto como entrou na massa do sangue. E que esta é uma vantagem inestimável revela-se por um lado na indiferença ante toda a teoria, que é uma das principais causas pelas quais o movimento operário inglês, apesar de toda a organização excelente de cada um dos sindicatos, avança tão lentamente, e por outro lado na desordem e na confusão que o proudhonismo na sua forma original causou a Franceses e Belgas, e na sua forma posteriormente caricaturada por Bakúnine a Espanhóis e Italianos.
A segunda vantagem é a de os Alemães terem sido quase os últimos no tempo a entrar no movimento operário. Tal como o socialismo teórico alemão nunca esquecerá que está aos ombros de Saint-Simon, de Fourier e de Owen, três homens que apesar de todas as fantasias e apesar de todo o utopismo se contam entre as cabeças mais importantes de todos os tempos e anteciparam genialmente coisas cuja correcção nós agora demonstramos cientificamente — assim também o movimento operário prático alemão não deve nunca esquecer que se desenvolveu aos ombros do movimento inglês e francês, pôde aproveitar-se simplesmente das suas experiências pagas a alto preço e evitar agora os erros então inevitáveis na sua maioria. Sem a precedência das Trade Unions(14*) inglesas e das lutas operárias políticas francesas, sem o impulso gigantesco dado nomeadamente pela Comuna de Paris, onde estaríamos nós agora?
Tem de se dizer dos operários alemães que eles exploraram as vantagens da sua situação com raro entendimento. Pela primeira vez desde que existe um movimento operário a luta é conduzida em harmonia e conexão e de modo planificado nas suas três facetas — na teórica, na política e na prático-económica (resistência contra os capitalistas). E precisamente neste ataque por assim dizer concêntrico que reside a força e invencibilidade do movimento alemão.
Por um lado por esta sua posição vantajosa, por outro lado pelas peculiaridades insulares do movimento inglês e a repressão violenta do francês, os operários alemães foram colocados de momento na vanguarda da luta proletária. Não é possível predizer quanto tempo os acontecimentos lhes consentirão este lugar de honra. Mas enquanto o ocuparem, temos esperança de que o preencherão tal como é seu dever. Para tanto são necessários esforços redobrados em todos os terrenos da luta e da agitação. Será nomeadamente o dever dos dirigentes esclarecer-se cada vez mais sobre todas as questões teóricas, libertar-se cada vez mais da influência de frases tradicionais, pertencentes à velha visão do mundo, e ter sempre presente que o socialismo, desde que se tornou uma ciência, também quer ser exercido como uma ciência, isto é, estudado. A questão há-de ser difundir com zelo crescente entre as massas operárias a inteligência assim ganha, cada vez mais clarificada, tornar cada vez mais firmemente coesa a organização do partido e bem assim das associações sindicais. Se bem que os votos socialistas de Janeiro representem já um bonito exército, a verdade é que ainda lhes falta muito para constituírem a maioria da classe operária alemã; e se bem que sejam animadores os êxitos da propaganda entre a população rural, é precisamente aqui que há ainda infinitamente muito que fazer. É preciso, portanto, não nos desleixarmos na luta, é preciso arrancar ao inimigo uma cidade, um círculo eleitoral após outro; mas acima de tudo é preciso conservar o sentido autenticamente internacional, que não deixa surgir nenhum chauvinismo patriótico e que saúda com alegria cada novo passo no movimento proletário, venha ele de que nação vier. Se os operários alemães assim procederem, não marcharão precisamente à cabeça deste movimento — não é de modo nenhum do interesse deste movimento que os operários de uma qualquer nação singular marchem à sua cabeça —, mas ocuparão certamente um lugar honroso na linha de batalha; e aí ficarão preparados, se provas inesperadamente difíceis ou acontecimentos poderosos deles exigirem elevada coragem, determinação e energia elevadas.
Londres, 1 de Julho de 1874.
Friedrich Engels
Notas de Rodapé:
(1*) K. Marx, As Lutas de Classes em França de 1848 a 1850. (Nota da edição portuguesa.)
(2*) Ver “18 de Brumário de Louis Bonaparte”. (Nota da edição portuguesa.)
(3*) F. Engels, Der deutsche Bauernkrieg [A Guerra dos Camponeses Alemães], MEW, Bd. 7, S. 413. (Nota da edição portuguesa.)
(4*) Baviera, Baden, Wurttemberg.
(5*) No original: Haupt-und Staatsaktion. Esta expressão pode ter dois sentidos principais. Como se refere na nota 83 das Collected Works, Karl Marx/Frederik Engels, volume 10, Progress Publishers, Moscow 1978: «Primeiro, no século XVII e na primeira metade do século xvm designava peças representadas por companhias alemãs ambulantes. As peças eram tragédias históricas, bastante informes, bombásticas e ao mesmo tempo grosseiras e burlescas. Segundo, este termo pode designar acontecimentos políticos de primeiro plano. Foi usado neste sentido por uma corrente da ciência histórica alemã, conhecida por “historiografia objectiva”. Leopold Ranke foi um dos seus principais representantes. Considerava Haupt-und Staatsaktion como o assunto principal.» (Nota da edição portuguesa.)
(6*) Hannover, Hessen-Kassel, Nassau.
(7*) Ver nota nº 5* acima. (Nota da edição portuguesa.)
(8*) Hannover, Hessen-Kassel, Nassau.
(9*) Ver “Para a Questão da Habitação”, pp. 377-378. (Nota da edição portuguesa.) (retornar
(10*) Sempre devagar para diante! (Nota da edição portuguesa.)
(11*) Em inglês no texto: fidalgo rural. (Nota da edição portuguesa.)
(12*) Ver início do texto,. (Nota da edição portuguesa.)
(13*) Arbeitgeber, no original alemão: designação mistificadora do capitalista nos países capitalistas de língua alemã. De facto «dador» de trabalho é o operário, embora a contragosto, nas horas de trabalho não pago, em que produz mais-valia para o capitalista. (Nota da edição portuguesa.)
(14*) Em inglês no texto: sindicatos. (Nota da edição portuguesa.)
Notas de fim de tomo:
[N21] Insurreição de Junho: insurreição heróica dos operários de Paris em 23-26 de Junho de 1848, reprimida com excepcional crueldade pela burguesia francesa. A insurreição foi a primeira grande guerra civil da história entre o proletariado e a burguesia.
[N55] Volksstaat (O Estado Popular): órgão central do Partido Operário Social-Democrata alemão (eisenachianos), publicado em Leipzig de 2 de Outubro de 1869 a 29 de Setembro de 1876. A direcção geral do jornal era assegurada por W. Liebknecht; August Bebel administrava a editora. Marx e Engels colaboraram no jornal, auxiliando constantemente a sua redacção. Até 1869 o jornal publicou-se com o nome de Demokratisches Wochenblatt (Semanário Democrático). (Ver nota 95.)
A referência é ao artigo de Joseph Dietzgen «Das Kapital. Kritik der politischen Oekonomie von Karl Marx», Hamburg 1867 («O Capital. Crítica da Economia Política, de Karl Marx», Hamburgo, 1867), publicado no Demokratisches Wochen números 31, 34, 35 e 36 de 1868.
[N98] O trabalho de F. Engels A Guerra dos Camponeses Alemães foi escrito em Londres no Verão de 1850. Como principal fonte para a exposição do material factual Engels utilizou um livro do historiador alemão Zimmermann.
No prefácio à segunda edição do trabalho, Engels analisa as modificações que se verificaram na vida política e económica da Alemanha a partir de 1848 e o papel das diferentes classes e partidos neste período. A tese teórica do marxismo da necessidade da aliança do proletariado com o campesinato é aqui concretizada e desenvolvida. Engels mostra a necessidade de uma abordagem diferenciada do campesinato e analisa quais as camadas do campesinato, e por que causas, poderão tornar-se aliadas do proletariado na sua luta revolucionária.
Quando preparava a publicação da terceira edição de A Guerra dos Camponeses Alemães Engels acrescentou ao prefácio de 1870 importantíssimas observações sobre a importância da teoria no movimento operário e socialista. O aditamento ao prefácio contém indicações sobre o carácter, as tarefas e as formas de luta da classe operária e do seu partido. Engels define três direcções, indissoluvelmente ligadas entre si, nas quais deve ser travada a luta da classe operária: nos domínios teórico, político e económico-prático.
[N99] Neue Rheinische Zeitung. Politisch-ökonomische Revue (Nova Gazeta Renana. Revista Político-Económica): revista, órgão teórico da Liga dos Comunistas, fundada por Marx e Engels. Publicou-se entre Dezembro de 1849 e Novembro de 1850; saíram seis números.
[N100] O livro do historiador alemão Zimmermann Allgemeine Geschichte des grossen Bauernkrieges (História Geral da Grande Guerra Camponesa) foi publicado em Stuttgart em 1841-1843, em três partes.
[N101] Trata-se da ala da esquerda mais extrema da Assembleia Nacional pangermânica, que se reuniu em Frankfurt am Main durante a revolução de 1848-1849, representava sobretudo os interesses da pequena burguesia, mas foi também apoiada por uma parte dos operários alemães. A principal tarefa da Assembleia consistiu na liquidação da fragmentação da Alemanha e na elaboração de uma Constituição para toda a Alemanha. No entanto, devido à cobardia e às vacilações da maioria liberal, a Assembleia receou tomar nas suas mãos o poder supremo no país e não foi capaz de adoptar uma posição firme nas questões fundamentais da revolução alemã. A 30 deMaio de 1849 a Assembleia foi obrigada a transferir a sua sede para Stuttgart. A 18 de Junho de 1849 foi dissolvida pela tropa.
[N102] Depois de derrotadas na guerra austro-prussiana de 1866, e quando se intensificava a crise do Estado austríaco multinacional, as classes dirigentes da Áustria estabeleceram conversações com os latifundiários da Hungria e em 1867 subscreveram um acordo sobre a formação da monarquia dualista da Áustria-Hungria.
[N103] Nacionais-Liberais: partido da burguesia alemã, fundado no Outono de 1866. O seu principal objectivo era a unificação dos Estados alemães sob a hegemonia da Prússia; a sua política exprimia a capitulação da burguesia liberal alemã perante Bismarck.
[N104] Trata-se da Confederação da Alemanha do Norte, formada em 1867 sob a égide da Prússia e que incluía 19 Estados e 3 cidades livres da Alemanha do Norte e Central. A formação da Confederação foi uma das etapas decisivas da reunificação da Alemanha sob a hegemonia da Prússia. Em Janeiro de 1871 a Confederação deixou de existir, devido à formação do Império Alemão.
[N105] O Partido Popular Alemão, que surgiu em 1865, era composto por elementos democratas da pequena burguesia e de uma parte da burguesia, sobretudo dos Estados da Alemanha do Sul. O partido pronunciou-se contra o estabelecimento da hegemonia da Prússia na Alemanha e defendeu o plano da chamada «Grande Alemanha», na qual devia entrar tanto a Prússia como a Áustria. Propagandeando a ideia de um Estado alemão federativo, interveio contra a unificação da Alemanha sob a forma de uma república democrática unitária centralizada.
[N106] Em meados dos anos 60 do século XIX foi estabelecido na Prússia, para uma série de ramos da indústria, o sistema de licenças (concessões) especiais, sem as quais não era autorizada a actividade industrial. Esta legislação industrial semífeudal restringiu o desenvolvimento do capitalismo.
[N107] A batalha de Sadowa teve lugar a 3 de Julho de 1866, na Boémia. Foi a batalha decisiva da guerra austro-prussiana de 1866, que terminou com a vitória da Prússia sobre a Áustria.
[N108]Trata-se do Congresso de Basileia da Internacional, realizado em 6-11 de Setembro de 1869, no qual, a 10 de Setembro, foi aprovada a seguinte proposta dos partidários de Marx sobre a propriedade fundiária:
«1) A sociedade tem o direito de abolir a propriedade privada da terra e de a transformar em propriedade social.
«2) É indispensável abolir a propriedade privada da terra e transformá-la em Propriedade social.»
No Congresso foram também adoptadas resoluções sobre a unificação dos sindicatos à escala nacional e internacional e uma série de resoluções com vista ao reforço orgânico da Internacional e ao alargamento dos poderes do Conselho Geral.
[N109] A 2 de Setembro o exército francês foi derrotado em Sedan e feito prisioneiro, juntamente com o imperador. Entre 5 de Setembro de 1870 e 19 de Março de 1871 Napoleão III e os comandantes do exército estiveram presos em Wilhelmshöle (perto de Kassel), num castelo do rei da Prússia. A catástrofe de Sedan acelerou a efiocada do Segundo Império e levou à proclamação da república em França a 4 de Setembro de 1870. Foi formado um novo governo, o chamado «governo da defesa nacional».
[N110] Ao falar do sacro império alemão da nação prussiana, Engels parafraseia a designação de Sacro Império Romano da Nação Alemã, medieval (ver nota 140) sublinhando que a unificação da Alemanha foi feita sob a hegemonia da Prússia e foi acompanhada da prussianização da terra alemã.
[N111] Trata-se da anexação da Baviera, Baden, Wurttemberg e Hesse-Darmstadt à Confederação da Alemanha do Norte em 1870.
[N112] Em Spichern (Lorena) as tropas prussianas infligiram uma derrota às tropas francesas, em 6 de Agosto de 1870. Na historiografia a batalha de Spichern é também conhecida com a designação de batalha de Forbach. Em Mars-la-Tour (também designada como batalha de Vionville), a 16 de Agosto de 1870, as tropas alemãs conseguiram deter a retirada de Metz do exército francês do Reno, e, depois, cortar-lhe a retirada. Sobre Sedan ver a nota 109.
[N113] Nas eleições para o Reichstag realizadas a 10 de Janeiro de 1874 os sociais-democratas alemães conseguiram eleger 9 deputados; entre os eleitos contavam-se Bebel e Liebknecht, que nessa altura cumpriam uma pena de prisão.
[N140] Até Agosto de 1806 a Alemanha fez parte do Sacro Império Romano da Nação Alemã, fundado no século X e que constituía uma união de principados feudais e de cidades livres que reconheciam a autoridade suprema do imperador.