Eu era inda petiz quando ela pôs-se a amar-me,
Flauta de sete tons resolvendo confiar-me.
Ouvia-me a sorrir, e, em pequenas porções,
Hinos monumentais e serenas canções,
Aqueles de divina inspiração, e estas
Frígias e de pastor, pelas sonoras frestas
Com dedos finos pude à avena oca entoar.
Da aurora à noite, atento eu costumava estar
Da donzela às lições, sob os carvalhos mudos.
E com prêmio eventual a alegrar-me os estudos,
Sacudindo os anéis da bela fronte, então
Ela vinha colher a flauta em minha mão:
De hábito divino o objeto era animado,
E enchia o coração o fascínio sagrado.
(1821)

Livro: Poesia Escolhida
Poesia de Todos os Tempos
Autor: Aleksandr Púchkin
Organização e Tradução: José Casado
Edição Bilíngüe
Editora Nova Fronteira