Uma nota sobre a nota
Programaticamente, as agências de risco iniciam sua cantilena e os insultos pela chantagem preparatória ao caminho de claro contraponto aos interesses nacionais dos países em desenvolvimento (taxa de juros baixa para expansão da economia, política cambial que garanta moeda desvalorizada por um extenso período, política fiscal expansionista e de gasto público, função ativa do Estado e das estatais etc.). E o pano de fundo do anúncio da agência dos diagnósticos fraudulentos e das interesseiras “profecias autorrealizáveis” desenha o agravamento da crise econômica no centro capitalista, agora expandindo-se com força à periferia.
Nas palavras certeiras de Moniz Bandeira, o que ocorre no Brasil (“e contra o Brasil”) é uma campanha de interesses econômicos estrangeiros, devido a vários fatores, entre outros, a inserção do nosso país “no banco do BRICS, com a Rússia e a China, associada aos interesses políticos domésticos, de uma oposição sem ética, sem compostura, servindo aos interesses antinacionais”. [1]
Como efeito, os conglomerados financeiros e suas agências, amplificados enormemente com a ascensão do neoliberalismo, surgem na verdade com a emergência do imperialismo e a estrutura monopolista das grandes empresas e bancos. Teoricamente, o risco de crédito resulta da possibilidade de que uma (ou mais de uma) das partes não cumpra (m) suas obrigações contratuais, ocasionando perdas do principal para o (s) parceiro (s).
Mais precisamente, as agências acompanham desde o início os interesses dos trustes norte-americanos; e não à toa a s&p data de 1922 em que se funde a Standars Estatistics e toma a forma atual já a partir de 1941; a Moodys data de 1909. Mas as classificações de risco tiveram suas origens em 1850, com a expansão dos mercados de títulos de dívidas das companhias ferroviárias norte-americanas. Antes do período chamado de “o ciclo ferroviário”, prevaleciam amplamente nos mercados de capitais eram títulos soberanos de alguns países europeus (Holanda e Inglaterra), onde os investidores locais confiavam para emprestar dinheiro.
Ontem e hoje: fraudes e especulação
Aliás, no caso da grande crise iniciada na Tailândia em 1997 e a seguir generalizada à Ásia e logo globalmente, descrevem Farhi e Cintra que Stiglitz et alli identificaram que as agências “reduziram as notas dos países do Sudeste Asiático em crise, mais do que a deterioração de seus fundamentos econômicos justificaria”; o que exacerbou o custo dos empréstimos externos, causando a evaporação dos fluxos de capitais internacionais e contribuindo para amplificar mais ainda crise na região asiática. [2]
Nesta análise esclarecedora de Maryse Farhi e Marcos Cintra, no caso da crise russa (1998), os sucessivos cortes nas classificações do risco país provocaram o efeito “claramente pró-cíclico, pois acentuaram os movimentos de fuga de capitais e de desconfiança dos investidores”. O que levou: a) em maio de 1998, no furacão de um ataque especulativo “o governo russo a triplicar as taxas básicas dos juros”, as agências realizaram forte corte nos ratings do país e dos títulos de sua dívida pública interna e externa, levando à exacerbação da fuga de capitais”; b) em setembro de 1998, as agências reduziram a classificação de risco do Brasil, e, novamente, em janeiro de 1999 quando, o governo brasileiro passou a um regime de câmbio flutuante.
O capital financeiro serviçal do neocolonialismo e da guerra
A ideologia “econômica” motivadora das “notas” da agência Standards & Poor’s deve ser interpretada ipsis verbis pelas imagens abaixo. Seus interesses sociais e de classes, em última instância fundamentam, manipulam, projetam e se confundem notavelmente com a resultante política da faceta mais agressiva do capital financeiro neocolonialista e reiteradamente criminoso.
Assim, a ninguém interessado no assunto se deve dar ao direito da ignorância ou da ingenuidade: as agências de risco são de propriedade de bancos de investimentos dos Estados Unidos.
NOTAS
[1] Ver: “Agências de risco estão a serviço de especuladores e de interesses econômicos e políticos dos EUA”, entrevista de L.A.M.Bandeira, em: Carta Maior, 11|09|2015.
[2] Ver: “Informação dos investidores: classificação de riscos, contabilidade e conflitos de interesses”, Farhi e Cintra, FEE, 2002.