Projeto Vou Voltar cartografa histórias de idas e vindas entre o Nordeste e o Sudeste brasileiros
A Escola da Cidade – Faculdade de Arquitetura e Urbanismo exibe, de 03 a 29 de novembro de 2015, a exposição “Vou Voltar – cartografias de lá e de cá”, das artistas Mariana Vaz e Mirella Marino. Organizada em torno da pesquisa das condições de vida e de histórias de personagens reais, residentes na capital paulista e no sertão dos estados da Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará, a exposição traz a público textos, fotografias e vídeos, mostrando uma leitura subjetiva desses espaços e chamando atenção para os dados da Pesquisa Nacional por Amostragem de Domicílio – PNAD 2012 – do IBGE que atestam um saldo praticamente nulo de migração do Nordeste para o Sudeste brasileiros. As fotografias e relatos das personagens entrevistadas ilustram diferentes realidades sócio-econômicas, assim como um universo cambiante de valores e de identidades inéditos na história recente do país.
Capão Redondo, São Paulo
O imaginário das relações entre o Nordeste e o Sudeste brasileiro é povoado por histórias das migrações dos nordestinos para o sul em busca de melhores condições de vida, salários e empregos. As artistas agregam um novo substrato de imaginários, narrativas e formas de vida a essa miríade de histórias, reconhecendo novas realidades para além dos números. No blog do projeto – www.vouvoltar.com – escrevem um diário de bordo ilustrado de suas viagens ao Nordeste, revelando histórias surpreendentes de quem foi, voltou, tornou a ir, voltou de novo, não quer ir, não quer voltar e ainda não sabe se vai ficar ou não.
Apresentada por meio de textos e áudios, exibe histórias dos entrevistados no espaço expositivo e também espalhadas pelo edifício, como por exemplo:
Vânia opera quatro grandes máquinas de bordar no terceiro box no mercado de Aparecida, na Paraíba – um pequeno vilarejo com cerca de 8 mil habitantes ao longo da rodovia BR 230. Ela morou 18 anos em São Paulo, na Mooca, e trabalhava no Brás, na feira da madrugada. Voltou em 2008 para Aparecida : “sempre trabalhei aqui e ganho quase a mesma coisa que ganhava lá”. Como o custo-de-vida é bem menor, ela diz que vive melhor. As pessoas vão pra lá “atrás de uma oportunidade melhor, mas chegam e percebem que não é o que eles pensam (…) Hoje em dia aqui é muito bom. Antigamente, não tinha trabalho, mas hoje tem”.
O destaque, porém, são as duas linhas de fotografias justapostas, que constrõem panoramas de cidades: uma delas exibe uma compilação de imagens do sertão do Nordeste , das localidades onde estiveram, e a outra, imagens do Capão Redondo.
“Muitos jovens que conhecemos tinham vindo a São Paulo a passeio ou para experimentar a vida por aqui. As condições em suas cidades de origem – ou nas cidades próximas – estão melhores, principalmente nas áreas urbanas e, assim, as possibilidades de escolhas deles se abriram. Podem escolher voltar e, os que se vão, vão a passeio e não para migrar. E ainda podem preferir mudar para cidades maiores e capitais do próprio Nordeste e ficar mais próximos às suas famílias.”
Sertão Nordestino
“Se São Paulo atrai pela liberdade de poder ganhar o próprio dinheiro ou pelos salários, há a percepção de que o preço de viver por aqui é alto por diversos fatores, como o cansaço gerado pelas grandes distâncias entre a casa e o trabalho, a sensação de que aqui vive-se só para trabalhar, o temor de sair à rua, entre outros. Como resumiu Lulu, que recentemente voltou a morar em São José da Lagoa Tapada depois de 12 anos em São Paulo: ‘mais quantidade do que qualidade’”.
“As histórias das vidas em trânsito integram o cotidiano do sertão paraibano e cearense. Os sertanejos têm papo fácil e são grandes contadores de causos. Diversas vezes ao dia, em diferentes situações, alguém nos abordava e puxava assunto: ‘vocês não são daqui, né?’. Ao saber-nos de São Paulo, contavam-nos suas idas e vindas ou as de familiares”, escrevem.
Branca: da Paraíba para o Capão Redondo
A exibição na Escola da Cidade, entretanto, é o resultado de uma pesquisa mais extensa, cujo início relaciona-se à vida da paraibana de São José da Lagoa Tapada (7.564 habitantes) Branca, que chegou a São Paulo a contragosto aos 15 anos e hoje mora no Capão Redondo, na zona sul, cercada de parentes. “Queríamos saber se Branca sonharia com o regresso; se conheceria ou saberia de gente que está regressando. ‘Gosta daqui? Sonha em voltar pra lá?’ No relato de Branca sobre sua vida, seus amigos e parentes, descobrimos exemplos das transformações que os números apontam”, escrevem as artistas.
Vencedoras do ProAC 15 – Concurso de Apoio a projetos de Artes Visuais no Estado de São Paulo 2014, Marina e Mirella saíram a campo, primeiramente visitando e registrando depoimentos de pessoas da região onde morava Branca e, depois, no Capão Redondo, em parceria com o programa Fábricas de Cultura, onde a família dela se estabeleceu. Em ambas as estadas, realizaram um trabalho de cunho cartográfico, com histórias, depoimentos, personagens, impressões, imagens de suas idas e vindas. Já a última etapa do projeto acontece desde outubro na Escola da Cidade – Faculdade de Arquitetura e Urbanismo localizada no centro de São Paulo, com a participação de alunos-estagiários da Instituição.
Mariana Vaz é artista-empreendedora com atuação em performance, intervenção urbana, vídeo e direção teatral. Mirella Marino, artista visual. Paulistas paulistanas, nascidas no final da década de 1970, residentes em São Paulo.
“Abrimos nossos ouvidos aos sujeitos e às suas narrativas sobre idas e voltas deles, de parentes, de amigos…. Percursos ao longo dos quais se perguntam sobre si mesmos – ora questionam sua identidade, ora procuram construir uma nova identidade na alteridade”, declaram.
Serviço:
Exposição: Vou Voltar – cartografias de lá e de cá
Abertura: 03 de novembro, terça-feira, às 19 horas
Período expositivo: 04 a 29 de novembro de 2015
Escola da Cidade
Rua General Jardim, 65, Vila Buarque
CEP: 01223-011 – São Paulo – SP
www.escoladacidade.edu.br
Tel.: (11) 3258 8108
Horários: de segunda a sexta, das 9 às 20h30
Entrada gratuita e livre