Não adianta mais gritar “não vai ter golpe”. O golpe já está em andamento. Não no modelo tradicional da interrupção violenta da ordem institucional pelos militares, mas na forma sutil da criação de um Estado de exceção no país.

A decisão de tirar Dilma Rousseff do poder, de destruir os partidos de esquerda e de desmoralizar a figura do maior líder popular do Brasil, o ex-presidente Lula, são as etapas mais visíveis nesse neogolpe autoritário, midiático e antipopular.

Mas tem mais. A movimentação golpista não quer apenas o ganho presente, com o impeachment da presidente, nem mesmo as conquistas futuras, como impedir Lula de concorrer em 2018. É preciso destruir as conquistas populares de uma vez por todas.

As ações de hoje, quando instituições, como o Ministério Público e a Polícia Federal deixaram de lado sua função de controle para assumir postura nitidamente política, fere o Estado de Direito no Brasil. Não se trata de uma investigação ou de um julgamento, mas da aplicação de uma pena antecipada: o constrangimento a qualquer preço. Mesmo que arrisque a democracia e quebre a economia.

O que está na mira da oposição, travestida de combate à corrupção? São as conquistas sociais, a distribuição de renda, a política externa independente, as cotas, a defesa das empresas nacionais, a ampliação dos direitos humanos.

Por isso o que vale para o governo não vale para a oposição. A delação pode ser prova em alguns casos e desprezada em outros. Um pedalinho vale mais que um avião cheio de pasta de cocaína. Propina de Furnas não tem o mesmo valor de mercado que a da Petrobras. Não somos todos iguais perante a lei, como arroga insistentemente a turma de Curitiba.

O neogolpe tem um ingrediente a mais: o papel da mídia. Os telejornais, revistas e jornais seguem hoje o cronograma da Lava-Jato. Servem para testar, incitar e criar atmosfera. Não servem mais para informar.

A irresponsabilidade de todo esse processo, que chega ao seu ápice com as operações de hoje, escorado no show midiático e na falta de consistência jurídica, ganha agora as ruas. Não dá para evitar a disputa política, mas é preciso deixar de lado o ódio de classe e defender as conquistas populares.

 

João Paulo Cunha é jornalista e colunista do Brasil de Fato MG.