Atitude dos promotores de São Paulo contra Lula é um monumento à trapaça
Uma das vantagens mais interessantes da hipocrisia, talvez o vício preferido dos que se acham acima da lei, é seu baixo custo. A rigor, fazendo a conta na ponta do lápis, a hipocrisia não custa nada, quando se considera que o hipócrita ataca a honra de outros para benefício próprio. É o que fizeram os promotores Cassio Conserino, José Carlos Blat e Fernando Henrique Araújo, com suas militâncias política e banditismo, se utilizando de um cargo público, como disse o Instituto Lula sobre o pedido de prisão preventiva do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
A função de promotor público não pode servir para esse tipo de conduta condenável. Conserino — o chefe da trupe — e seus iguais, como o juiz Sérgio Moro, parecem dispostos a superar tudo o que já foi feito neste país em matéria de embuste; só deverá ser superada, talvez, pela próxima investida de algum deles contra Lula ou alguém do seu círculo político. Não há inocentes nesse ataque de terceira classe, mesquinho, desonesto e sem o menor vestígio de vida inteligente; desde o primeiro dia dessa campanha contra o ex-presidente ainda não apareceu nada que pudesse ser descrito pela palavra “sinceridade”.
O exercício do cargo público impõe obrigações formais perante todos os brasileiros, sem exceções. A primeira delas é o respeito. Os promotores, pela posição que ocupam e pelo juramento que fizeram ao assumir o cargo, não têm o direito de tratar os brasileiros como uma manada de ignorantes que não dispõem da capacidade de pensar com um mínimo de independência — e por isso não precisam ouvir argumentos, explicações e raciocínios que façam nexo ou respeitem fatos. A vale-tudo não teve limites nessa ofensiva inescrupulosa. Se Lula não for preso, garantem Conserino e seus iguais, o Brasil vai acabar.
Por ser nordestino, operário e de origem paupérrima, ou por lembrar que passou fome na infância, Lula não tem condições de ser candidato a presidente em 2018, depreende-se de fatos como esse, pois não há um dado concreto para o embasamento da conduta torpe dos promotores. Só alguém da direita tem o direito de se apresentar como honesto e receber diploma de herói, conclui-se da peça vil e imoral que eles produziram.
Monumento à trapaça
O resultado prático de toda essa insensatez é que o pedido de prisão, que deveria ter argumentos sóbrios e fiéis à verdade dos fatos, acabou sendo a mais hipócrita de todas as que até agora têm sido assacadas contra Lula. Um cavalheiro, segundo o ensinamento de Oscar Wilde, nunca deve trapacear quando está com boas cartas na mão. Mas a atitude dos promotores tornou-se um monumento à trapaça. Eles deveriam ser, minimamente sóbrios, em vez de se apresentarem nas telas da televisão como néscios.
A única coisa realmente em jogo é um interesse inconfesso e ignominioso: a conquista da Presidência da República por meios golpistas. Ou por outra: um atalho para o retorno das oportunidades de negociatas, como era comum nos tempos em que a direita governou o país. Não existe a mais remota sinceridade nos alertas desses promotores. Não existe motivo para acreditar em suas promessas de “limpeza”. Não há a menor sinceridade quando eles dizem que o Brasil é vítima de “ataques” de tubarões imaginários — e não dos tubarões de carne e osso, mantidos gordos como predadores do povo brasileiro.
A complicação que o Brasil vive hoje vai além da falta de decência, de lucidez e de bons modos desses promotores. Campanhas persecutórias como essa são transitórias, mas os seres humanos que participam delas são permanentes. Eles continuarão sendo exatamente os mesmos. Independente de se consumar a ienteção desses promotores, eles não vão fazer um ato de contrição e se arrependerem da sua hipocrisia, da sua atitude deformada pela falsificação da realidade; não se transformarão em pessoas que nunca foram. Falta, para isso, um insumo básico: caráter. Só a luta e o engajamento da sociedade pode conter arbitrariedades como essa e, consequentemente, todo seu arcabouço político arbitrário.