Lideranças sociais são vítimas de assassinatos na América Latina
García, líder do Conselho Cívico das Organizações Populares e Indígenas de Honduras (Copinh), foi morto a tiros após participar de uma manifestação contra o desalojamento forçado de 150 famílias de agricultores na localidade de Rio Chiquito, no norte do país. Jaime Balanta foi assassinado com três disparos por dois homens em frente a uma instalação militar em Cauca, departamento que registra a execução de seis líderes comunitários em apenas um mês.
Outra execução que repercutiu também fora das Américas foi a de Berta Cáceres, uma das coordenadoras do Copinh, no dia 4 deste mês, na cidade de Imbucá, em Honduras. Homens invadiram sua residência de madrugada e a executaram com vários tiros. Berta ganhou notoriedade por denunciar interesses de grandes grupos multinacionais em projetos de mineração, com impactos no meio ambiente, e a construção da barragem de Agua Zarca, projeto da hondurenha Desenvolvimento Energético e da construtora chinesa Sinohydrol – o que lhe valeu em 2015 o Prêmio Ambiental Goldman. Dois anos antes, a ativista denunciara planos dos Estados Unidos para instalar em Honduras a maior base militar em toda a América Latina.
Com relação à morte de James Balanta, a União Europeia (UE) divulgou nota oficial demonstrando sua preocupação com os recentes assassinatos no continente. A nota cobra dos governos a prestação de maior segurança a essas lideranças e exige que todos os crimes sejam esclarecidos e os responsáveis levados à Justiça.
Para a integrante da Coordenação Nacional da Comissão da Pastoral da Terra, Jeane Bellini, o que se vê atualmente na América Latina é uma nova escalada da violência que sempre existiu na região.
“As regiões antes disputadas pelo grande capital em muitos casos já foram conquistadas. Agora o agronegócio e grandes empreendedores estão procurando novas terras. Eles vêm para regiões onde unidades tradicionais e indígenas estão avançando em seu grau de organização. [Esses assassinatos] parecem repetir o que já vimos em outras épocas: é a estratégia de exterminar as lideranças pensando que com isso o povo para de se organizar e resistir” – diz Jeane Bellini.
Com relação à morosidade na investigação desses crimes, a coordenadora da Pastoral diz que isso é fruto da pouca vontade dos países de esclarecer os assassinatos, porque logo ficaria claro a responsabilidade do próprio Estado, ou por omissão ou até por conivência em alguns casos.
“Paralelamente à situação que vemos em Rondônia e no Pará, também naqueles países há uma mistura, uma promiscuidade entre a polícia, seguranças e pistoleiros do grande capital. Infelizmente, o Estado não faz a sua parte neste sentido.”
Jeane Bellini também lamenta que a informação sobre esses crimes demore a chegar à mídia convencional. Ela lembra, porém, que hoje há maior união de esforços na América Latina para denunciar e condenar esses atentados, como a nova Rede Panamericana da Amazônia (Repan).
“Esses movimentos estão sentindo a necessidade de assumir e acionar mais os órgãos internacionais, porque estão vendo a pouca vontade dos Estados. Infelizmente, na América Latina, a máquina estatal está muito mais a serviço do grande capital do que de suas populações.”
Fonte: Sputnik News