Em que país do mundo presidente eleito seria impedido depois de dois anos de governo, sem crime, e tendo sido eleito em eleicão democrática livre e justa? No Brasil.

Depois de décadas de terrorismo social praticado por partidos políticos de direita, animados por bandos de criminosos, estupradores, assassinos e fraudadores que, em muitos casos controlaram postos chaves das instituições políticas do Brasil, afinal o Partido dos Trabalhadores chegou ao Palácio do Planalto, no raiar desse milênio, luz nova e limpa que marcou o verdadeiro despertar do Brasil, o gigante tradicionalmente adormecido.

Tido como motivo de piadas e chacota da comunidade internacional antes de Lula e Dilma, o Brasil converteu-se, a partir do início dos governos do PT, em ator respeitado e importante no cenário mundial, com ação e voz no plano internacional, ouvido com reverência e atenção, quando afinal começou a distender os próprios músculos. Esse o Brasil que tirou milhões de homens e mulheres da pobreza, lançou programas sociais e educacionais em escala jamais vista nem no país nem no mundo, alcançou os mercados que, antes, o país só conhecia como pontos no mapa mundi. Lula, Dilma e o Partido dos Trabalhadores deram ao Brasil projeção muito mais ampla, e o país deixou afinal de ser destino turístico tropical, que só tinha a oferecer futebol, carnaval e cachaça.

Hoje, e graças a Lula e Dilma, o Brasil é respeitado do Japão à Jamaica, de Cape Town, no ponto sul extremo da África, a Casablanca no norte; nas Américas, do sul ao norte, dos Andes ao Alaska e no outro lado do mundo, na Oceania, na Ásia, no Oriente Médio.

Mas o país continua a ser destratado e desrespeitado em casa, por um bando corrupto e volátil de agitadores de rua, rasos e venais, os quais, se você tenta falar com eles e elas para saber o que pensam, não conseguem juntar duas frases que expliquem o que, afinal de contas, andam a berrar pela Avenida Paulista, em São Paulo. Foram adestrados e mobilizados por uma gangue de criminosos traidores ambiciosos, que só fazem repetir que a presidenta Dilma seria culpada, porque teria manipulado estatísticas e burlado a lei fiscal. Mas o advogado geral diz, na Suprema Corte do país, que não há caso contra a presidenta; que a acusação é viciada do começo ao fim; que todo o processo é um golpe de Estado que os golpistas tentam diluir num oceano de ‘judicialidades’.

Mas, se se investigam os deputados golpistas…

Será que ninguém, no Congresso Brasileiro, jamais ouviu a expressão “Aquele que nunca tiver pecado, que atire a primeira pedra?” Porque, se se põe em teste e examina-se cada um dos que votam e tentam atrair votos contra a presidenta Dilma nesse fim de semana, na sessão do Congresso em que o impeachment será votado, vê-se que ali não há inocentes ou limpos. A verdade, repito, é que cada um dos “deputados” que vote nesse fim de semana a favor do impeachment da presidenta democraticamente eleita do Brasil, terá de ser investigado e todos os detalhes de cada um desses processos terá de ser exposto à opinião pública, para que todos os conheçam.

Quem fizer uma viagem ao Inferno, lá verá muitos dos que hoje infestam a Câmara de Deputados do Brasil, gente que só trabalha a favor dos próprios interesses pessoais ou de grupos, sem vestígio de decência ou moral em muitos casos, sem noção do que sejam ética, moralidade e práticas democráticas. Gente daquele tipo que, se acontece de apertarem sua mão, você tem de conferir se ainda tem todos os dedos e a aliança.

Por causa de um punhados desses, supostos políticos, que manipularam a opinião pública para promover um caso-ficção construído por dois ou três diretamente interessados no golpe, auxiliados pelo tradicional lixo euro-gringo do sul – esses que se veem aos gritos pelos bairros mais ricos do Brasil –, o Brasil está voltando a ser, outra vez, a piada do dia, na comunidade internacional.

Golpistas apunhalaram o Brasil pelas costas

Tão duramente conquistados, agora lá se vão a credibilidade, os elogios, a boa-vontade e o respeito que o Brasil, afinal, havia conquistado. Amanhã, o respeito nenhum, a credibilidade zero, serão traduzidos em negócios zero, contratos zero no exterior para empresas brasileiras, e, aqui, em mais desemprego e, de novo, em miséria. Mais uma vez estará no poder a elite brasileira de direita, de volta ao velho poleiro que considera dela por direito divino, e que, novamente, poderá vender os mais altos interesses e as maiores riquezas do Brasil aos chefetes e cafetãos em Washington, aos super-ricos, que terão conseguido voltar ao comando, para garantir que vão e lá fiquem, no lixo, os programas sociais que estavam dando chance justa aos brasileiros mais pobres. Na sequência, as petroleiras transnacionais se mudarão para a Amazônia.

E será o fim do “sonho do Brasil”, da democracia com características brasileiras. O Brasil terá sido apunhalado pelas costas, e pelo próprio Congresso Nacional, em Brasília.

Mas e os que estarão, nesse fim de semana, fazendo avançar o projeto de desgraçar o Brasil, por acaso perdem o sono? Claro que não, porque todos têm os bolsos gordos de dólares – dólares, não reais. Mas, e fiquem sabendo todos, o eleitorado brasileiro hoje traído e apunhalado pelas costas, tem o direito de conhecer quem votou ativamente pela desgraça do Brasil, e haverá de saber quem, eleito para representar o povo do Brasil, traiu-o tão miseravelmente.

Esperemos que fracasse a maioria de dois terços dos votos necessária para que o golpe do impeachment de presidenta sem crime e que o Brasil possa prosseguir nas suas políticas públicas para fazer do mundo um lugar melhor, resgatando os brasileiros mais sacrificados por décadas de miséria gerada pelos mesmos que, hoje, ainda conspiram para destruir a democracia brasileira.

Aconteça o que acontecer, haverá eleições dentro de dois anos. Que os brasileiros deem bom uso ao próprio voto.

 

Timothy Bancroft-Hinchey trabalhou como correspondente, jornalista, subeditor, editor, editor-chefe, gerente de projeto, diretor executivo, sócio e proprietário de publicações diárias, semanais, mensais e anuais, estações de TV e grupos de mídia impressa e digital distribuídas em Angola, Brasil, Cabo Verde, Timor Leste, Guiné-Bissau, Portugal, Moçambique e ilhas de São Tomé e Príncipe; na publicação do Ministério de Relações Exteriores da Rússia Dialog e em publicações oficiais do Ministério de Relações Exteriores de Cuba. Passou as duas últimas décadas em trabalhos humanitários, conectando comunidades, trabalhando em redes com comunidades LGBT, ajudando a organizar abrigos para vítimas abusadas ou traumatizadas e, como mídia parceira, com UN Women, trabalhando para promover o projeto “Mulheres” da ONU contra violência de gênero e para o fim do sexismo, racismo e homofobia. Vegano, é também mídia parceira da Humane Society International, que luta pela proteção dos animais. É diretor e editor-chefe da versão em português de Pravda.Ru.

Traduzido pelo coletivo Vila Vudu