Na segunda-feira, “a Polícia Federal prendeu o prefeito Ruy Muniz”, seu marido, que ela citou “na hora de anunciar o voto”. Nas palavras dela, “O meu voto é pra dizer que o Brasil tem jeito. E o prefeito de Montes Claros mostra isso pra todos nós com a sua gestão. Sim! Sim! Sim! Sim! Sim! Sim! Sim! Sim! Sim! Sim! Sim!”.

De Marcelo Rezende: “A deputada diz que o marido é um exemplo para o fim da corrupção… Foi preso numa operação chamada ‘Máscara da Sanidade II – Sabotadores da Saúde’, investigação de fraude para favorecer hospitais privados ligados ao prefeito”.

No mais, o questionamento à votação foi contido, no “JN”. O telejornal reproduziu os votos relativamente sóbrios de dois deputados do PSDB, Carlos Sampaio e Bruno Araújo, um da Rede, o do ex-ministro das Comunicações Miro Teixeira e um do PT, Arlindo Chinaglia, fechando com comentários de Marina Silva, da Rede, e FHC, do PSDB.

Até o registro das críticas a Eduardo Cunha foi com freio puxado, com os deputados Jarbas Vasconcelos, do PMDB, e Rubens Bueno, do PPS, e nada dos ataques de PT e Psol. Também nada de Jair Bolsonaro (PSC-RJ), de longe o voto mais controverso, com repercussão mundo afora.

Na Record, Marcelo Rezende citou o deputado e pré candidato a presidente pelo PSC –empatado com Geraldo Alckmin, do PSDB, pelo último Datafolha– dizendo que Bolsonaro pode falar “um monte de asneiras”, mas também fala “coisas certas”.

O apresentador partiu daí, na verdade, para criticar o deputado Jean Wyllys (Psol-RJ), “que ganhou fama naquele ‘BBB’, naquele reality show. Não sei se ele é azul, se ele é cor de abóbora, o que ele faz ou deixou de fazer, mas o que ele está fazendo aí é cuspir, cuspir” em Bolsonaro.

No “Jornal da Band”, Ricardo Boechat se viu isolado no questionamento ao deputado por “dedicar o seu voto à memória de um notório torturador”.

“Torturadores não têm ideologia. Torturadores não têm lado. Torturadores são apenas torturadores. É o tipo humano no nível mais baixo que a natureza pode conceber. São covardes, são assassinos e não mereceriam em momento algum serem citados como exemplo.”

O mais baixo

No exterior, o inglês “Guardian”, que já havia dedicado longo perfil ao fenômeno Jair Bolsonaro no final da semana, noticiou que o impeachment foi aprovado por um Congresso “hostil e manchado pela corrupção”.

“Numa noite sombria, pode-se dizer que o ponto mais baixo foi quando Jair Bolsonaro, o deputado de extrema direita do Rio de Janeiro, dedicou seu votou ‘sim’ a Carlos Brilhante Ustra, o coronel que chefiou a unidade de tortura do DOI-Codi durante a era ditatorial. Rousseff, ex-guerrilheira, estava entre os torturados”, informou o jornal.

Na Alemanha, como relatado pela “Deutsche Welle”, o site da revista “Der Spiegel” publicou a análise “A insurreição dos hipócritas”, dizendo que o Congresso mostrou sua “verdadeira cara” e colocou o “avariado navio Brasil” numa “robusta rota de direita”.

“A maior parte dos deputados evocou Deus e a família na hora de dar o seu voto. Jair Bolsonaro até mesmo defendeu, com palavras ardentes, um dos piores torturadores da ditadura militar.”

E começaram a sair os editoriais. O francês “Le Monde”, citando os processos contra Michel Temer, as contas suíças de Eduardo Cunha e o fato de Lula manter forte apoio popular, vê o Brasil pós impeachment “à beira da ruptura”.

O “Guardian” vê o impeachment com pessimismo, dizendo que, se a intenção da Lava Jato era “purificar a política brasileira, o resultado paradoxal é o oposto. A presidente não foi implicada, mas quase todos que a impediram são suspeitos de corrupção, inclusive Eduardo Cunha”.

E “agora muitos temem que a campanha contra a corrupção vai desvanecer, exceto por uma concentração final de fogo em Lula”. Finalizando, “uma oposição desacreditada vai tomar o lugar de um PT desacreditado. É difícil imaginar um cenário mais sombrio para o Brasil”.

Já o “New York Times” lembrou que acusação usada para embasar o impeachment “pareceu uma desculpa arranjada conforme os deputados citavam uma ladainha de queixas antes de aprová-lo sonoramente”. E acrescentou:

“O caso contra Ms. Rousseff é sobre muito mais do que tomar liberdades para equilibrar o orçamento, o que outros governantes no Brasil fizeram sem atrair maior escrutínio. Na essência, é um referendo sobre o Partido dos Trabalhadores, que está no poder desde 2003”.