Texto de Rose Silva

O evento teve a participação do cientista político Sebastião Velasco e Cruz, do historiador e professor da Universidade Federal do ABC Valter Pomar,  da jornalista e integrante dos Jornalistas Livres Laura Capriglione e dos argentinos Homero Rodolfo Saltalamacchia, cientistas político, professor Universidade Nacional Três de Fevereiro, e Ernesto Bohoslavsky, historiador, professor Universidade Nacional de General Sarmiento. A mesa foi coordenada pela vice-presidenta da Fundação Perseu Abramo, Iole Ilíada.

Segundo Ilíada, o fato de a direita ser um fenômeno pouco estudado tornou o tema emergente  devido ao momento político que vivemos no Brasil. “Temos a percepção de que a direita saiu do armário e tem vindo a público de forma direta e sem pudor, com manifestações homofóbicas e racistas, demonstrando claramente o avanço político e social destes valores. Com isso, aumenta a necessidade de conhecer sua força”, afirmou. Para investigar a questão, a Fundação Perseu Abramo instituiu ainda uma linha de pesquisa sobre a questão e vem promovendo uma série de lançamentos locais da publicação.

Velasco e Cruz, um dos organizadores do livro, afirmou que o objetivo era fazer uma publicação que municiasse pessoas comprometidas com a democracia no Brasil, ativistas, militantes, em um trabalho com sentido prático. “Por isso trouxemos para o cerne objetos de análise que não aparecem com tanta frequência na narrativa, com um capítulo sobre o poder judiciário, os partidos políticos, os think tanks”, afirmou. “A tradução de Direita, Volver hoje no Brasil é o golpe que está em curso, no qual a direita tenta a prisão de Lula e a destruição institucional de seu partido”, disse.

Para ele, o objetivo dos golpistas foi apresentado num documento programático intitulado Ponte para o futuro, um futuro de retrocesso social e político. Trata-se de uma agenda incompatível com os direitos assegurados pela Constituição federal, com a consequente exclusão de uma parcela significativa da sociedade. “Este golpe não termina enquanto o programa não for implementado, por isso a palavra de ordem não vai ter golpe continua atual”, concluiu.

Em sua apresentação, o argentino Ernesto Bohoslavsky explicou a vitória de Maurício Macri em uma perspectiva histórica. Segundo ele, não existiu na Argentina durante o século XX um partido de direita capaz de gerar hegemonia. “A direita foi vitoriosa em 1910 e desde então, até 1995, ela não ganhou nenhuma eleição. A vitória de Macri em 2015 nos coloca algumas questões. Foi a primeira vez que o partido (Pró) disputou a presidência e foi vencedor, embora não tenha representação territorial em todo o país.  Apesar de ser uma organização que representa as classes médias e camadas acima, obteve também votos de setores populares. Trata-se, portanto, da melhor e mais bem-sucedida direita pós-peronista”, afirmou. Como consequência, ele aponta que a polícia compreendeu perfeitamente os resultados eleitorais e estabeleceu-se um novo protocolo entre as forças policiais e a sociedade. “Voltaram a ser utilizados e foram relegitimados velhos métodos de violência contra jovens favelados, imigrantes e vendedores ambulantes”.

Para Homero Rodolfo, assistimos hoje à repetição dos ciclos direita-esquerda que se sucedem no continente. E está cada vez mais evidente a presença de um governo supranacional, que se sobrepõe às democracias nacionais. “Uma expressão disso são os novos tratados comerciais, cuja assinatura implica medidas que interferem na soberania interna dos países”, disse. “Na Argentina, quem governa são profissionais da indústria com capacidade política bastante limitada”, observou.

A jornalista Laura Carpiglione falou sobre a disputa de espaço com a direita nos meios de comunicação e a importância da inteligência nas redes sociais. “Durante algum tempo tivemos a ilusão de que as redes eram território neutro. Porém, cada vez mais o poder econômico se manifesta também neste espaço e prioriza quem patrocina suas ações. Por isso tivemos de expandir nossa atuação, com o objetivo de envolver formadores de opinião e os vários movimentos sociais que têm objetivos parecidos. Nós, que representamos o outro lado, temos de fazer a luta política de forma mais ampla do que simplesmente defender programas partidários. Quando conseguimos, é possível atingir milhões de pessoas”, afirmou.

Segundo o historiador Valter Pomar, a pauta da contra-reforma estabelecida com o golpe  já está sendo implementada e pretende o regresso do Brasil a condições econômicas e sociais pré-1930. “A direita no Brasil, o grande capital e as classes dominantes têm uma disposição democrática utilitária, passageira e ilusória. Independentemente do desfecho imediato, encerrou-se o período estratégico em que era possível usar governos nacionais progressistas para fazer reformas. A partir de agora, sem fazer as reformas estruturais isso não será mais possível”.