Santo André recebe espetáculo teatral gratuito sobre mulheres na Guerrilha do Araguaia
Nesta sexta-feira (3), a programação do Seminário Internacional “A Justa Rebeldia das Mulheres” dá uma pausa nos debates e palestras para a apresentação do espetáculo teatral “Guerrilheiras ou para a terra não há desaparecidos”, no Teatro Conchita de Moraes, às 16 horas, com entrada franca. O evento, que teve início ontem e segue até sábado (4), está reunindo mulheres que participaram da luta armada contra a ditadura em diversos países da América Latina e do Caribe, para contarem suas experiências.
A peça idealizada pela atriz Gabriela Carneiro da Cunhas, com direção de George Fadel e dramaturgia de Grace Passô, tem como ponto de partida a história de 12 mulheres que lutaram e morreram na Guerrilha do Araguaia, um dos mais importantes conflitos armados da ditadura militar brasileira, que aconteceu na floresta amazônica, entre os estados do Pará e Tocantins, entre os anos de 1967 e 1974
Um grupo composto por cerca de 70 guerrilheiros, sendo dezessete jovens mulheres universitárias, saíram de diversas cidades do país para participar da luta contra cerca de cinco mil homens do Exército brasileiro. Por meio de um diálogo entre a ficção e o documentário, a peça descortina a história pessoal dessas mulheres e sua participação na guerrilha e também ilumina esse importante episódio da história do país.
“Buscamos as histórias destas guerrilheiras e é delas que vamos falar. Destas mulheres que não vacilaram diante da morte”, destaca a diretora Georgette Fadel. “Temos um compromisso com a verdade, sem usar o tom de denúncia. E sim um trânsito poético”, acrescenta. Para desenvolver o projeto da peça, a idealizadora Gabriela e várias atrizes foram até as margens do Araguaia e também passaram um período entre o entardecer e o início da noite no meio da mata da Serra das Andorinhas, onde puderam sentir um pouco a sensação de estarem desprotegidas como aquelas mulheres.
Para criar os figurinos, a figurinista Desirée Bastos garimpou cerca de 50 peças, entre calças, camisas, vestidos, chapéus, roupas íntimas em brechós no Rio e bazares no Araguaia. As roupas depois foram enterradas por três semanas debaixo da terra pela própria figurinista, em um sítio da família em Figueira, em Magé, na região metropolita do Rio de Janeiro. Os trajes foram desenterrados e lavados. O resultado dessas peças deterioradas faz alusão aos corpos que nunca foram encontrados.
JUSTA REBELDIA – O evento “A Justa Rebeldia das Mulheres da América Latina e do Caribe” teve início nesta quinta-feira, às 9 horas, no Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, com a narrativa das experiências das guerrilheiras Vilma Olivares Cayul, do Chiile, Loyola Guzman da Bolívia, Basílica Espínola do Paraguai e Anda Recuero, do Panamá. A programação continuou a tarde com troca de idéias entre as palestrantes e a juventude presente no evento, realizado pelo Instituto Centro de Memória & Atualidades – IMA em parceria com a prefeitura de Santo André, por meio da Secretaria de Política para Mulheres e a de Direitos Humanos e Cultura de Paz
Na sexta, além do espetáculo haverá novas narrativas de experiências, desta vez das ex-guerrilheiras da Argentina, Peru, Nicarágua e Honduras. Sábado (4) a programação continua o dia todo no Teatro Municipal de Santo André, à partir das 9 horas. “Estamos fazendo uma vi agem no tempo para dar luz a histórias que foram silenciadas e esquecidas pelo tempo. Mas essa história de coragem precisa ser aprendida pelas novas gerações. Eles precisam saber que, se hoje estamos aqui falando sem medo é por causa de pessoas como elas”, disse a Secretária de Políticas para Mulheres da Prefeitura de Santo André, Silmara Conchão.
Programação completa em mulheresnaosilenciadas.org
SERVIÇO:
“Guerrilheiras ou para a terra não há desaparecidos”
Data: sexta-feira, 16h
Teatro Conchita de Moraes
Praça Rui Barbosa, 12, Santa Terezinha
Entrada Franca