O seminário “O Brasil do Golpe – O Plano Temer sob análise”, promovido pela Fundação Perseu Abramo, em São Paulo, encerrou-se nesta quinta-feira, 16 de junho, com um encontro de lideranças do PT, PCdoB, PDT e PSOL, para discutir as respostas políticas da esquerda à crise política e à agenda do governo interino. Houve esboços de um balanço dos motivos que levaram a ruptura institucional, mas uma convergência em torno da unidade pela luta contra o golpe e a necessidade de uma estratégia para apontar um horizonte de futuro para os brasileiros que supere o desgaste atual dos governos de esquerda.

A vice-presidenta da Fundação Perseu Abramo, Iole Ilíada, abriu os debates enfatizando o caráter multidimensional do golpe de estado ocorrido no Brasil. Para além da dimensão mais imediata e visível, a definição simples de golpe na política, “quando alguém usurpa o poder sem legitimidade para isso, usando a força, seja militar, seja jurídica, midiática e parlamentar”.

Na opinião dela, esse golpe vai além, porque vai contra os direitos dos trabalhadores e todas as políticas que visavam reduzir as desigualdades e ampliar a cidadania aos setores mais vulneráveis da sociedade.

“Não é um golpe apenas contra os avanços conquistados nos últimos 13 anos, mas contra os direitos assinalados na Constituição de 1988, que, por sua vez, foram conquistados com muita luta”.

Iole salientou que este golpe é contra tudo aquilo de positivo que foi construído pela esquerda brasileira em toda a sua história. “E isso não é um exagero. É desta gravidade o momento político que estamos vivendo”, declarou ela.

O debate foi feito por representantes de partidos distintos de esquerda, o PT, o PCdoB, o PDT e o PSOL, com suas posições diferenciadas em relação ao Governo Dilma. Os representantes dos partidos foram Renan Alencar, presidente da União da Juventude Socialista e membro da Executiva Nacional do PCdoB, Carlos Lupi, presidente nacional do PDT, o secretário de Finanças e membro da Executiva Nacional do PT, Márcio Macedo e Juliano Medeiros, presidente da Fundação Lauro Campos, e membro da Executiva Nacional do PSOL, .

Traduzir a “Ponte para o Futuro”

Na opinião de Alencar, a primeira fagulha da atual crise política foi em junho de 2013. Embora não fosse um movimento homogêneo e puramente conservador, de acordo com ele, aquelas manifestações foram uma incubadora do MBL, Vem pra Rua e Revoltados On Line, “que aprenderam e sofisticaram sua tecnologia de mobilização”. De acordo com o líder juvenil, a esquerda também aprendeu com aquilo e, hoje, as manifestações por direitos são praticamente diárias e, praticamente, obrigam todo jovem a participar de um protesto ou ocupação.

Da mesma forma, as eleições de 2014 também não foram homogêneas, ao eleger um programa avançado com um Congresso retrógrado, fundamental para constituir o consórcio golpista da mídia, dos setores empresariais e financeiros, judiciário e partidário. “Uma das turbinas desta grave crise é, sem dúvida, a Operação Lava Jato por sua alta parcialidade, e o ataque ao setores estratégicos da construção civil e do petróleo, além das graves violações constitucionais”.

Na opinião de Alencar, as razões da crise incluem os vetores dos acertos e do programa avançado, mas também de erros e insuficiências que poderiam ter sido efetuadas para transformar a correlação de forças, “seja por não ter convicção ou não ter condições, de fato, de implementar essas mudanças mais profundas”.

A direita fez a quebra de um pacto que redemocratizou o país em 1988, defende ele. “A postura lacerdista desde 2002, de ‘não pode ganhar, não pode tomar posse, não pode governar, não pode se reeleger’, se esgotou e decidiram por dar o golpe”. Com a agenda que vem se apresentando, mais radicalizada do que a agenda apresentada nas eleições, lembra Alencar, a direita não poderia jamais ganhar uma eleição.

Em que pese a timidez do governo na política de desenvolvimento industrial, considera ele, a política energética e de fortalecimento da Petrobras “foi um gol de placa”, que vem sendo atingida no coração pela Operação Lava Jato, e agora a ofensiva de José Serra, que passa incólume pelo turbilhão de denúncias contra os ministros do governo interino. Essa crise institucional, inclusive, é o que ele considera “fios desencapados que podem deixar no escuro o prédio inteiro”, ao atingir até mesmo o Judiciário.

Para o dirigente da UJS, é preciso tornar legível para a população o caráter nocivo do programa Ponte para o Futuro do governo Temer. “Conseguiram desgastar a esquerda a tal ponto, que a população pensa que, não importa o que venha depois da Dilma, vai ser melhor. O povo não se identifica com esse discurso do golpe, que veem como uma briga de elites, mas estão preocupados com emprego e renda”. Para ele, apenas negar e desconstruir o programa da direita é insuficiente, mas ajuda a conscientizar.

Há também um projeto liquidacionista da esquerda e dos movimentos sociais, que não está escrito no Ponte para o Futuro, mas está em pleno andamento. Ele lembrou que todos que resistem ao golpe, como a UNE ou os artistas, são alvos de investigações, e a tentativa de criminalizar o ex-presidente Lula também é clara.

Por outro lado, há o desafio da esquerda de construir frentes amplas, como não foram criadas até o momento. “Não existe saída sem forte mobilização e sem nos ampararmos na soberania popular”, disse ele, defendendo a convocação de um plebiscito por novas eleições presidenciais. Ele acredita que a proposta divide os adversários, fortalece a soberania do voto abalada com o golpe, suscita uma possibilidade de mobilização e cria um fato político capaz de modificar a correlação de forças. “Isso também cria a possibilidade de impedir a criminalização da presidenta Dilma, conduzindo o processo com a faixa no peito”, afirmou.

Finalmente, Alencar destacou o modo como as ruas estão se transformando de forma revigorante, fruto das transformações do último período, que podem abalar o andamento desse processo. “Eles têm medo das ruas. A bandeira que une todos esses protestos é o Fora Temer, mas nós temos que potencializar essa bandeira e encontrar uma saída e um rumo que aponte para uma luz no fim do túnel, a saída e o desfecho dessa grave crise.”

Voltar ao governo e ouvir o povo

A intervenção do pedetista Lupi foi marcada pelo otimismo e bom humor, seguro que está do retorno de Dilma ao governo. Lupi relatou com graça o modo como tem que se movimentar “clandestinamente” pelo país para não ser monitorado pela polícia ou pela mídia. Para ele existe, hoje, um mecanismo sofisticado de monitoramento das ações e ideias de políticos de esquerda. Ele exemplificou com a ação espetacular coordenada pela Polícia Federal e a Rede Globo de televisão para prender o ex-presidente Lula.

Outra característica estranha desses novos tempos no Brasil, segundo ele, é que ele nunca viu tantos “Silvérios dos Reis” ao mesmo tempo, citando o traidor do movimento inconfidente mineiro, que levou ao martírio de Tiradentes pela Independência do Brasil. Lupi se refere aos empresários e políticos presos pela Operação Lava Jato que aceitam acordos de delação premiada para entregar os amigos e parceiros de corrupção, para se safar da cadeia e obter privilégios. Lupi lembrou que Tiradentes, o mártir da independência do Brasil, demorou quase cem anos para ser reconhecido como herói, apenas quando a República derrubou a Monarquia. “Vocês devem achar que eu estou fazendo uma comparação absurda. Mas se pensarem bem, vão perceber que não é tão absurda assim. De vez em quando vão surgir esses Silvérios dos Reis para derrubar os Tiradentes.”

A “mea culpa” que propõe Lupi considera que o erro fundamental é ter tido um projeto de poder, não de nação. “Faltou a humildade de pensar que o projeto de nação é maior que nós todos e que as alianças que fizemos”, afirmou. Ele lembrou os ataques que a esquerda fazia, quando na oposição, às alianças de FHC. Segundo ele, Leonel Brizola queria obrigar FHC a renunciar, devido a uma denúncia com base nas alianças que fez com “setores espúrios, ladrões da pátria, com o atraso”. “Era com Sarney, Renan, Maluf, todos aqueles que nós fizemos aliança depois”, lamentou, dizendo não ter receita para este impasse, embora acredite que não possa ser como foi.

Lupi está seguro que estamos vivendo um momento muito rico, que pode tornar a esquerda mais forte do que estava. Para ele, um fato novo muito positivo desse processo é a juventude que se levanta em defesa da democracia. “Até então, os protestos nas ruas eram como lava de vulcão, ninguém sabia pra onde ia, só queriam queimar.”

Para o dirigente partidário, a juventude está assumindo as bandeiras da esquerda. Em sua opinião, isso não ocorre por estímulo da esquerda, mas pelos erros cometidos pelo consórcio golpista. “Eles fazem merda pra caramba, mais do que a gente. Eles roubam desde a República, têm PhD em ladroagem,” defendeu Lupi. Mas ele não acha que é o caso de ficar lavando roupa suja, “mas falar mal deles”.

Ele contou que sua mãe reza o terço para Michel Temer morrer antes de mexer na aposentadoria dela. “Praga de mãe, de véio e de padre é uma desgraça. Ninguém se libera!” disse ele, citando o que acontecia com o ex-presidente Fernando Collor de Mello, por ter mexido nas economias dos aposentados.

Lupi mencionou também o fato de ministros do Governo Temer estarem caindo gradualmente, envolvidos em corrupção, conforme são citados em delações. Segundo ele, numa conversa com Lula, o ex-presidente estava desanimado com a derrubada do Governo Dilma, achando que o processo de desgaste do governo interino estaria arrefecendo. “Presidente, isso não acaba mais. Ninguém segura mais, Poder Judiciário, polícia… Esses caras se acham! Estão pegando até a Madre Tereza, quer dizer, a Marina…”, disse ele, provocando risos. “E vão acontecer mais umas cositas, por aí.”

“Não pode ter conversa nenhuma que não seja a extinção do golpe que houve no Brasil”, defendeu ele, enfatizando que Dilma tem que voltar ao poder. Se os senadores achavam que tinha que votar o impeachment porque a rua pedia, lembrou Lupi, “vai pra rua, hoje, que a rua é outra”. “Pode ver que aqueles nem estão mais indo pra rua. Desmobilizou. Não era bem o que eles queriam”.

Segundo ele, um segundo ponto a ser considerado é que “não dá pra Dilma voltar e dizer que está tudo bem, que está consagrada e resolvida a parada”. “Não está! Voltou, ela tem que propor ouvir a população. Tem que ouvir esse povo, o que ele quer. Temos que disputar na população o que nós queremos. Nós nunca tivemos medo de povo”, afirmou, apontando para a necessidade de um plebiscito. “E não adiante fazer eleição presidencial e esquecer que o Congresso Nacional é sócio majoritário da Lava Jato”.

Lupi defende que haja uma nova Assembleia Geral Constituinte Exclusiva para a Reforma Política. “Se os deputados se negarem, bota a população pra falar!” O pedetista diz que é preciso aprofundar o processo democrático brasileiro, com democracia direta, ouvindo o povo permanentemente. “Pra mim, esse é o único pontinho de luz no fim do túnel pra gente.”

A promessa e o perdão

Medeiros salientou o fato do PSOL ter mantido um lugar de oposição ao Governo Dilma, embora se encontre com os partidos de esquerda da coalizão de governo no combate ao golpe. “Ocupamos este lugar singular da crítica ao governo, com o dever e o compromisso da defesa da democracia, nos engajando muito na luta contra o golpe”, disse ele, celebrando o momento significativo de encontro dos partidos de esquerda nesta conjuntura.

Para ele, é importante fazer um balanço dos erros políticos e apostas equivocadas, assim como opções conscientes que levaram à crise política, assim como facilitaram a vida dos adversários. Para ele, o reformismo fraco e o pacto de classes empreendido pelo Governo eram “estruturalmente inviáveis pelo caráter golpista da burguesia brasileira”, resumiu ele, citando intelectuais que discutem estes temas.

Ele lamentou o fato das esquerdas terem sido derrotadas no projeto de Reforma Política, prejudicando partidos como o PSOL, assim como não ter avançado de forma mais estrutural nos mecanismos de participação popular. A política econômica conservadora do governo também foi criticada pelo dirigente do PSOL, lembrando que o PT, o PCdoB e o PDT também emitiram resoluções atacando aquelas decisões econômicas.

Para Medeiros, o “pacto de classes” promovido desde Lula, teve um efeito nocivo sobre a consciência de classe. “Há uma regressão geral da consciência de classe dos trabalhadores, o que explica a passividade com que parte das classes populares assiste à crise política no país”, afirmou ele, citando índices de pesquisas de opinião.

“A agenda das esquerdas neste momento é denunciar a ilegitimidade do Governo Temer e colocar em evidência o caráter regressivo. O jogo não está jogado,” defendeu ele, afirmando que a contribuição do PSOL pode ser nas ruas, desde que perdeu seus quatro senadores.

Medeiros mencionou as diversas iniciativas que surgem como rumos para a crise política (plebiscito, antecipação de eleições, eleições gerais, Fica Dilma, constituinte exclusiva), mas acredita que elas apenas dividem a frente de resistência ao golpe. “É preciso ampliar esse processo de unidade política social, dos partidos, e entidades progressistas, considerando que apenas 14% da população percebe o caráter regressivo do Governo Temer. Do ponto de vista tático não é conveniente defender propostas que pressupõem a saída de Temer, que não está no horizonte concreto.”

“O balanço de que o governo foi um desastre é o balanço da direita, mas um balanço de que o governo foi tão bom, que a burguesia não aceitou e rompeu o pacto, também não é razoável”, disse Medeiros. Para ele, um balanço honesto será fundamental para um futuro de médio e longo prazo para entender os acertos e equívocos desses 13 anos. “A partir deste momento, vamos ter que repensar e atualizar o programa das forças populares do país para o futuro”, apontou ele, lembrando uma série de bandeiras de agitação da esquerda, que não tiveram consequência no governo. Para ele é importante que a esquerda tenha claro o lugar do nacionalismo, do Estado, das reformas, do capitalismo, etc, para avançar.

“Nós precisamos oferecer uma promessa para as novas gerações de lutadores e lutadoras do Brasil. Ou os erros que a esquerda cometeu não serão perdoados. Só uma promessa poderá validar um perdão. A promessa é que não se repetirão os erros cometidos: não teremos a relação que tivemos com o capital privado, nem com os elementos do estado cuja função era a de operadores de benefícios a agentes privados e públicos; não nos limitaremos às reformas possíveis, mas lutaremos pelas reformas mais amplas. Há uma energia brutal e sensacional, nas ruas. Uma nova geração de lutadores e lutadoras nas ruas que não se contentará com o que temos na esquerda, hoje. 

O desmonte de conquistas consolidadas

Macedo defendeu a necessidade do PT fazer um balanço importante e profundo de tudo que aconteceu. Ele acredita que o Encontro Extraordinário que o partido realizará no final de novembro deverá ser a oportunidade para isso. “Mais do que isso, o PT vai ter que fazer um balanço com o país, sincero e objetivo”, diz ele, acrescentando que, este instante, agora, é o momento da resistência ao golpe.

“As nossas estruturas partidárias não dão conta de absorver a juventude que está indo para as ruas”. O dirigente petista afirmou que as estruturas partidárias não têm espaço para o debate, nem sequer “modelos adequados para trazer essa energia pulsante nas ruas”. Para ele, sem isso, essa energia de luta vai se dispersar e se encontrar em outro lugar, que não será o da luta política e da conscientização.

Macedo se indaga algumas questões que ele considera central nesse balanço a ser feito. Como se justifica que a maioria dos jovens beneficiados pelo Bolsa Família, Prouni, Projovem e Política de Cotas, não votarem na Dilma? Será que fizemos o debate adequado de disputa de hegemonia na sociedade e de politização dos nossos projetos?

Macedo analisa que este é um golpe que tem financiamento e inteligência de setores estrangeiros, em parceria com a burguesia brasileira, “que cansou de nós, mais pelos nossos acertos do que pelos nossos erros, que foram muitos”. Para ele, é preciso compreender que foi organizado, sincronizado, financiado e teve inteligência local e importada, contando com setores da justiça, do Ministério Público, da Polícia Federal, da grande mídia, e de forma sistêmica se arrastou pelo Brasil afora. “Se não compreendermos que a oposição era apenas a reverberação dessa engrenagem nós não saberemos enfrentar adequadamente o golpe, como não soubemos enfrentar no processo da Câmara”.

Ele também acredita que a esquerda não fez a leitura adequada das manifestações de 2013, quando, segundo ele, o golpe já estava em andamento, em sincronia e com financiamento de direita. “Precisamos compreender com a dimensão exata o que está em curso no Brasil. Talvez, a linha de frente da operação tenha nuances tabajaras, como é a formação desses ministérios, agora, a concepção a organização e a execução é altamente sofisticada e planejada com grandes possibilidades de sucesso para eles. Sabemos que estamos enfrentando uma engrenagem muito poderosa, organizada com proteção da mídia e dos órgãos do Estado”, afirmou.

Para ele, o que está em jogo é a cadeia produtiva do petróleo e do pré-sal, que está sendo desmontada para as grandes multinacionais se apropriarem desse patrimônio do Brasil. “Está em jogo a flexibilização das leis trabalhistas e a desregulamentação do mercado de trabalho, assim como a reforma da Previdência com menos direitos para os trabalhadores e aposentados”, denunciou ele, citando tantas outras conquistas que serão desmontadas pelo Plano Temer. Este receituário em curso, de acordo com ele, representa Temer colocando em prática o modelo econômico que o financiou e ao golpe. “O modelo que o mercado quer para a América Latina, que o Brasil lidera”.

Macedo acredita que este processo golpista representou uma ruptura com o “pacto de classes” e um “pacto democrático” estabelecido nos governos progressistas. Ele não imagina quais sejam as consequências dessa ruptura daqui pra frente.

Ele procura ver um “lado bom” disso que ele considera uma tragédia nacional. “O reencontro das esquerdas e o reencontro das esquerdas com as massas, as ruas e as redes. Além da reafirmação da liderança de Lula como maior líder popular da história desse país, mesmo num cerco cruzado como este, num processo odiento”, afirmou, alertando para não se acomodar a isso, mas entender o fenômeno. “A massa está olhando a briga, e pensando: vai sobrar pra mim!”, brincou, mencionando que o povo apenas observa, enquanto não mexem com Lula.

O dirigente petista citou as resoluções do PT, salientando a necessidade de resistência e luta, sem entrar no debate sobre eventual antecipação de eleições e plebiscito. Para ele, o desafio sobre futuro de um retorno da presidenta Dilma, é complexo e envolve muitas alternativas, que desviariam o foco da luta premente. “A palavra de ordem que nos une nas ruas é o Fora Temer, e com a volta de Dilma, reestabelece-se o estado democrático de direito, e, só então, discutimos os caminhos que temos pela frente”. 

Macedo considera importante ter um debate aprofundado sobre a Operação Lava Jato e seus custos pra o Brasil. Segundo ele, os sindicatos já têm uma medição do desemprego gerado pelo impacto da operação sobre as grandes empresas nacionais. Qual a alternativa para amenizar esse impacto? Por que a seletividade sobre políticos e empresários, de determinados partidos, presos sem provas ou investigação adequada? Questões retóricas que colocam a esquerda num impasse sobre sua posição com a investigação da Polícia Federal.

Ele ainda apontou conquistas civilizatórias enraizadas na cultura social do país, depois de tantos anos de governo progressista, “mesmo que a população não as credite aos partidos de esquerda”. As reações das ruas ao ataque a essas conquistas vão mostrar que não é simples desmontar isso com a Ponte para o Futuro de Michel Temer. É o que acredita ele.

O balanço necessário, segundo Márcio Macedo, precisa envolver a ilusão de que ganhar a eleição significava conquistar o poder. “Navegamos num estado forjado pelas elites em regimes totalitários, que não conhecíamos plenamente seus meandros. E não fizemos a reforma tributária, a democratização da mídia, entre outras medidas de reestruturação do estado brasileiro”, concluiu.