Renato Rabelo: Agora, é Lula!
Isso pronunciado fora da denúncia formal apresentada, sem imputar esse crime nos autos, em flagrante delito judicial-administrativo. Apresentaram Lula como o inimigo numero um do Estado. Uma “ação política de exceção” (nas palavras de Pedro Serrano). Tudo encenado num palco em exibição de extravagante espetáculo midiático.
O procurador chefe da Força Tarefa, do alto da sua prepotência fundamentalista anuncia seu grande feito, a sua “descoberta”: “Chegamos ao topo da hierarquia dessa organização criminosa” – “Lula está no centro” dessa pressuposta Organização. Todo o modus operandi da operação se volta para esse fim.
E, me pergunto, onde aporta a dramática crise que vive o Brasil? Atinge um drama da pantomima do absurdo, que envolve a Nação. Vive-se o desdobramento de um golpe parlamentar que apeou a presidenta Dilma Rousseff do centro do poder, levando a crise a um maior aprofundamento. A soberania popular é deixada ao largo. Impõe-se a violência de um governo usurpador por meio da imposição de uma velha ordem política, com seu desdobramento econômico, social, cultural e nas relações internacionais. Completa o fecho desse drama o propósito culminante de defenestrar o maior líder político do povo brasileiro.
Então, vai ficando nítido e acintoso, que são dois grandes os objetivos políticos do consórcio oposicionista conservador, de extraordinário apelo midiático: um já realizado, com a consumação do golpe, que depôs a presidenta da República, Dilma Rousseff; outro, agora em andamento, que é a consumação final, com a criminalização de Lula e atingindo sua família, com o fito de interditá-lo às eleições de 2018.
A Operação Lava Jato tornou-se um instrumento a serviço do fraudado processo de impeachment. Atuou impassível como um relógio político disparando nos momentos aprazados, calçados em potente aparato publicitário, para montar a desconfiança e a culpabilidade da presidenta Dilma. Este processo de impedimento se revelou em toda sua nudez, agora exposta, no modo de uma grande trama conspirativa, porquanto a sua finalidade pré-estabelecida se concluiu na destituição da presidenta da República. Todo o curso do impeachment foi utilizado como uma fachada de rito legal, sem a indubitável prova de um crime de responsabilidade.
O julgamento no Senado que se consumou no dia 31 de agosto, já tinha assim uma sentença pré-definida. O resultado foi tão injusto e chocante que levou uma parte dos senadores que a condenaram, como se pudesse aplacar o seu remorso – “não podemos ser maus” — através de uma variante criada e inédita, burlando a própria lei, conseguindo livrá-la da perda dos direitos políticos e do impedimento de assumir cargos públicos. Mas a morte política já estava consumada, assim desfechada na sua destituição da presidência da República.
Em seguimento, neste momento se completa a perseguição do seu mais culminante objetivo – a denuncia de que Lula é o comandante de todo o esquema de corrupção identificado na Operação Lava Jato. Nessa Operação, que se reveste em uma simples operação policial persecutória, é borrado o papel precípuo, por dever de oficio, de cada gestor no processo judicial. Desse modo, delegados, procuradores e o juízo atuam de forma combinada e, por conseguinte, a resultante já está traçada desde o começo: a sentença condenatória do ex-presidente Lula já está fixada, vai repetir a conclusão da denúncia declarada. É o chefe da organização criminosa, por simplesmente ter sido o presidente da República, com a dosimetria e as penalidades decorrentes.
Em suma, semelhante ao simulacro do processo do impeachment, a Operação Lava Jato juntou no affaire Lula, para acusá-lo e condená-lo, os motivos de suas convicções, mais precisamente, suas convicções político-partidárias, confessadamente sem provas, em mais outra atentatória conspiração contra a ordem democrática.
Assim, deixa no seu rastro que o que realmente está em jogo é uma aguda luta política decisiva, que visa desbragadamente assaltar todo poder de Estado pelas forças conservadoras dominantes, já aberto o caminho: assumiu o governo usurpador, destituída a presidenta da República, cuspido seu aliado decisivo e incômodo, na aventura golpista, livrando seus pares ameaçados pela justiça, que passam a se proteger assomando o poder e, finalmente, impedir resolutamente que Lula volte em 2018, garantindo por todos os maios, a continuação determinada do poder usurpado. Para isso, transparece um modo de criar em nosso país um Estado de exceção, em prosseguimento à ruptura da democracia.
A resposta a essa investida politicamente orientada veio de Lula. Ele, em pungente pronunciamento, falado livremente, na tarde desta quinta-feira, dia 15 de setembro, afirmou: “que o ataque da Lava Jato contra sua imagem e da sua família é o desfecho da novela criada por setores derrotados nas urnas com o apoio da velha mídia e de membros do judiciário, para impedir que um projeto de governo de esquerda se mantenha no poder”. E a Operação avança com acusações sem fundamentos. Agora precisam concluir a novela. “O desfecho é acabar com a vida política de Lula. Não existe outra explicação para o espetáculo de pirotecnia feito ontem”. E arrematou: “Não pensem que estou desanimado ou sofrendo. Estou orgulhoso por saber que a perseguição a mim é por conta das coisas boas que fizemos nesse país”.
A direita e porta-vozes do governo golpista, externando sua vontade, verberou que a denúncia dos procuradores da Lava Jato agora vai fazer refluir as crescentes manifestações contra o governo usurpador, exigir sua saída e lutar por diretas já. Em verdade não sabem o que se passa, estão mais distantes do povo, do que do diabo da cruz. Ao contrário, agora a resistência foi mais instada a se levantar. A tendência é a resistência crescer e as manifestações populares se estenderem por todo país.
Renato Rabelo é presidente da Fundação Maurício Grabois