A religiosidade da sociedade cubana está essencialmente marcada por um caráter eclético, mestiço de uma ressonância cristã com os cultos de origem africana, reunindo desde perspectivas fundamentalistas até uma materialização humana, que apara as arestas da espiritualidade conectada à história do país, mesclada com um destempero terreno. Um dos paradoxos do comunismo cubano é que ele entrega ao mundo um povo tão ou mais crente do que o recebido há cinco décadas, A identificação cultural da ilha com o Brasil é relevante porque há muitos elementos que nos permitem inferir essa identidade, incluindo a nossa condição de ex-colônia, o extermínio das populações indígenas e a escravidão dos negros originários das mesmas famílias africanas, o que aproxima nossos traços físicos, fruto de uma mistura étnica semelhante à brasileira, o gingado de nossas músicas e nossas danças, a culinária e o próprio sincretismo religioso.

Dá quase no mesmo que as ortodoxias católica e santeira, preocupadas cada uma pela pureza de seus dogmas e cultos, não deem relevância a essa poética fusão. A Santeria é o conjunto de sistemas religiosos relacionados, que funde crenças católicas com a religião tradicional iorubá, praticada por escravos e seus descendentes em Cuba.

Somente a poesia e o desejo de resistir podem explicar a partir de que momento, não sabemos exatamente qual, um ou vários negros escravos, elegeram a frágil figura do frei italiano para esconder sob suas vestimentas mendicantes a fé clandestina em Orula. Quem sabe na santidade de Francisco de Assis, uma das maiores testemunhas da sabedoria cristã medieval, alguns viram a inteligência, a valentia e astúcia de Orula?

[1] Membro do PC do B

Membro da diretoria da Associação Cultural José Martí da Baixada Santista.

 

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