O mundo e a economia em 2017
Frankfurt – As sucessivas convulsões ocorridas nos mercados financeiro e monetário creditícios confirmaram a extremamente frágil situação da economia, particularmente, da Zona do Euro, que se situa no epicentro das convulsões, tornando-se, portanto, imprescindível identificar os rumos da economia mundial em 2017, assim como apontar os prováveis motivos que poderão ocasionar a eclosão de uma nova crise.
As sucessivas convulsões mundiais já ocorridas tiveram, além de uma variedade de raízes habituais, também e, precisamente, a generalizada crise estrutural que se tornou praticamente característica das desestruturadas economias da maioria dos países, e que se tentou enfrentá-la com intervenções estatais, as quais, contudo, não conseguiram registrar solução definitiva – parcial ou total – dos problemas que as geraram.
De fato, os Estados intervieram, principalmente, com generosas liberações de liquidação de recursos pelos respectivos bancos centrais, convencidos de que conseguiriam estabilizar os mercados. Contudo, o risco mantinha-se tão forte, a ponto de obrigar o Governo dos EUA – tradicionalmente, indicado mantenedor do equilíbrio da economia mundial – a continuar fornecendo liquidez, enquanto, paralelamente, seu Federal Reserve (Fed) esquecia suas taxas de juros.
Nos meses transcorridos, os mercados, obviamente, elevaram a pressão, deixando – por uma vez mais claro – quão profundo é o beco sem saída do capitalismo monetarizado dos dias atuais, responsáveis pela emissão dos primeiros sinais, indicando que a economia mundial, provavelmente, enfrentará nova crise, ocasionada por duas razões básicas.
Deflação e autoritarismo
A primeira é que, nos anos transcorridos desde 2009 e, posteriormente, os três geradores da economia mundial – EUA, Europa e Japão – não revelaram rigorosamente nenhuma evolução rumo ao crescimento. Embora o capital não tenha revelado nenhum indício de recuperação de sua lucratividade, indicou lenta tendência de iniciar sua busca, já os salários reais foram fortemente pressionados descendentemente, enquanto o núcleo do capitalismo maduro manteve-se essencialmente imóvel, até os mais destacados manifestantes do pensamento econômico dos EUA iniciarem a mencionar sobre uma nova regularidade que seria a falta de crescimento econômico.
Seus resultados, entretanto, não tardaram: enfraquecimento do nível ocupacional, baixos rendimentos, contínuo desgaste das estruturas básicas, novo recuo do Estado de bem-estar social e a crescente desigualdade. Observa-se que a inclinação para a imobilidade encontra-se, também, atrás da tendência de deflação – que já está assumindo a feição de queda dos preços – evolução que tem sido historicamente catastrófica para a economia capitalista. E, se for acrescido ainda o autoritarismo político, que cada vez torna-se mais forte, o quadro que emerge é aterrador.
A única fonte de dinamismo na economia mundial durante este período são os alguns, poucos, países em crescimento e, apesar das críticas negativas sobre seu crescimento econômico, a China continua registrando ritmos elevados. Esta nação funcionou, até recentemente, sendo o grande mercado para os produtos de uma série de países como o Brasil e vários da África.
Porém, o recuo do ritmo de crescimento da China abaixo dos habituais níveis de 10,5% sinalizou a ocorrência de uma grande mudança: os ritmos de crescimento nos países com economia em evolução ascendente recuaram fortemente a partir de 2014, apresentando imobilidade, também, em 2015 e 2016, conduzindo a economia mundial a um “vermelho” inédito.
Inundação
A segunda razão é que nestes sete anos desde de 2009, a monetarização intensificou-se, engolfando vários países em processo de crescimento. A razão da brutal inundação de monetarização foi a abundante liquidez estatal superando o astronômico total de US$ 7 trilhões no mundo inteiro sob a supervisão do Fed.
Essencialmente, os bancos centrais absorveram os mercados interbancários retirando o tradicional conteúdo das operações interbancárias de liquidez. Para os bancos e as demais empresas financeiras, a fonte de liquidez tornou-se uma solução baratíssima e inesgotável: o banco central, criando gigantescos problemas na França e na Itália, economias que registravam um grande déficit competitivo dentro do pantanal da Zona do Euro.
Simultaneamente, a economia alemã continua disfarçando sua queda, enquanto a demanda doméstica é muito fraca ainda. Em outras palavras, a crise da Zona do Euro já foi transformada em fogo lento que praticamente consumiu as economias dos países do Núcleo Norte.
Destaca-se que os que pensam que a solução para a Zona do Euro pode ser considerada com a “a guerra de guerrilhas” contra a frugalidade da França e da Itália, considerando que a França recusou-se a manter seu deficit em 3% de seu Produto Interno Bruto (PIB) e assim continuará até este ano novo de 2017, porque, simplesmente, não compreendeu até agora a natureza do problema.
Obviamente, haverá solução, somente, se a Alemanha alterar profundamente sua política de salários e seu equilíbrio fiscal, apagando assim o vazio estrutural de competitividade no âmbito da União Monetária. E, ainda, é óbvio que isto acontecerá após uma profunda mudança social na Alemanha. Atualmente, não existe nenhum indício que será possível, mas quem sabe após as próximas eleições que poderão decretar, finalmente, a aposentadoria da chanceler, “Frau” Angela Merkel.
Pressões no fim
Neste âmbito não é nada paradoxal que a crescente tensão nos mercados de crédito mundiais tenha manifestado forte descrença para com a Zona do Euro. Especificamente, a volatilidade de desempenhos dos bônus da Espanha e da Itália foi lançada, enquanto os preços das ações registravam queda vertical.
Simultaneamente, registrou-se guinada dos mercados para os bônus alemães (mas, também, para os franceses, para as quais existe a sensação de que continuarão sendo resgatadas normalmente) como refúgio seguro. Obviamente, não houve retorno aos dias de 2010–2012, mas tornou-se visível que a Zona do Euro mantém-se a principal região de instabilidade na economia mundial.
As opções são difíceis e nas últimas semanas comprovaram o beco sem saída que o capitalismo monetarizado desta época atual enfrenta. É indispensável dizer que aquilo que está ocorrendo é um simples espasmo que revelou a natureza da instabilidade mundial. A situação, provavelmente, deverá estabilizar-se a partir deste ano novo, porque os bancos centrais agirão tranquilizando no que diz respeito a iminentes elevações das taxas de juros. Mas as previsões são claras: as pressões da economia mundial estão no fim.
Na Europa, a situação é muito diferente. Do ponto de vista técnico, as margens de intervenção do Banco Central Europeu (BCE) são gigantescas, porque seu presidente, Mario Draghi, apesar de tudo que diz-se por aí, tem restringido, consideravelmente, a liberação de liquidez desde 2012 (segundo ele afirma).
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