Encontro entre MST, Consulta Popular e Grabois discute resistência ao golpe
Os dirigentes do Movimento de Trabalhadores Rurais Sem Terra e Via Campesina, João Pedro Stédile, e da Consulta Popular, Ricardo Gebrim, reuniram-se na manhã desta quinta-feira (20) com o presidente da Fundação Maurício Grabois, Renato Rabelo, o secretário-geral da entidade, Adalberto Monteiro, além dos secretários de Movimentos Populares e Juventude, André Tokarski, e Sindical, Nivaldo Santana, ambos interlocutores do PCdoB na Frente Brasil Popular. O vice-presidente do PCdoB, Walter Sorrentino também participou do encontro.
O encontro teve como objetivo avaliar a conjuntura de profunda crise política e econômica do país, e verificar convergências entre as organizações para elaborar ações comuns de enfrentamento das contrarreformas trabalhista e previdenciária, que o consórcio golpista vem impondo a passos largos contra o povo.
Segundo Rabelo, esta foi a primeira vez que “as lideranças dessas importantes organizações” mantém um diálogo mais direto com a Fundação Maurício Grabois. A questão importante da reunião, em sua opinião, foi a busca de um trabalho comum, “algo importante numa hora como essa”, no sentido de avançar na unidade entre o Partido, a Fundação e essas organizações. “No momento atual, todas as organizações têm que buscar através do diálogo um avanço e um processo maior de unidade”.
Rabelo ressaltou a “grande afinidade ideológica” observada entre as organizações, do ponto de vista de uma visão estratégica. “O Partido e a Fundação deixaram muito claro que nós temos essa compreensão de que é preciso definir um Projeto Nacional de Desenvolvimento para o País, e isso faz parte, inclusive, do programa do Partido”, afirmou, contando do esforço similar mencionado por Stédile e Gebrim.
Para Rabelo, o problema não é apenas responder à situação atual, mas também apresentar perspectivas. “Na questão atual, a unidade de reunir com visão ampla muitas forças políticas e sociais é o que convém. Do ponto de vista estratégico, o esforço de elaborar perspectivas, algo que nós vimos trabalhando, sobretudo a Fundação Maurício Grabois”, destacou. “Disse a eles, que essa passa a ser a grande questão da atualidade: a questão da alternativa”, concluiu, relatando que aquelas lideranças sociais estão nesse esforço de reunir elaboradores, convidando a Fundação a fazer parte disso. “Foi um encontro muito positivo, feito de forma muito amigável. É um resultado que contribui de forma mútua para uma parceria entre essas organizações”.
Agenda ambiciosa
Stédile disse ter feito a visita, em primeiro lugar, para trocar ideias e conferir leituras sobre a conjuntura. “Porque estamos muito preocupados com o agravamento da crise política do país e com o apodrecimento do atual regime que não representa mais ninguém. A gente percebe que a base parlamentar está ruindo, setores empresariais aumentando o tom e a operação Lava Jato adquirindo uma autonomia que acaba gerando fricções mesmo entre o bloco que deu o golpe”, analisou.
Stédile considera o MST, a Via Campesina, a Consulta Popular, a Fundação Maurício Grabois e o PCdoB, movimentos e organizações co-irmãos, já que do ponto de vista dos interesses estratégicos, “somos parceiros”. “Tanto os movimentos de massa, aos quais o PCdoB tem influência, como o próprio Partido e os nossos movimentos, todos sonhamos com um Brasil igualitário, justo, fraterno e socialista. Temos uma mesma comunhão de ideais”.
Na avaliação que o sem-terra faz, os resultados principais da leitura comum feita, é a de colocar força na implementação da greve geral, para de fato barrar a reforma da previdência e a reforma trabalhista. Também foi tirado de comum acordo que é preciso acelerar a apresentação para o povo de um plano nacional de emergência, para mostrar que há saída para a grave crise. “A economia brasileira é forte e pode se recuperar. A democracia brasileira precisa ser reconstruída com eleições. Mas, para isso, nós teríamos que ter um plano de saídas que esteja subjugado aos interesses do povo”, completou, informando que dia 24 de abril, segunda-feira, a Frente Brasil Popular vai se reunir para deliberar sobre essa proposta acordada.
Stédile espera que, no 1o. de maio, esse plano já comece a ter ampla difusão, por meio de um pontapé para uma grande agitação e propaganda, com a finalidade de mostrar para o povo que a saída para o Brasil passa pelo Fora Temer, por novas eleições e um novo programa econômico que resolva os problemas do povo.
E, por último, de acordo com o líder sem-terra, houve uma troca de ideias ainda incipientes, de eventualmente nos próximos meses convocar um Grande Congresso do Povo Brasileiro, convocando todas as forças sociais que comunguem com a ideia de mudança. “Não só os movimentos que estão no nosso campo, mas os intelectuais orgânicos, os economistas, parlamentares progressistas, mesmo setores progressistas do Poder Judiciário, as igrejas, não apenas ligadas à CNBB, mas as igrejas pentecostais e religiões de matriz afrodescendente. Um grande congresso que fosse representativo do povo brasileiro, para refletir sobre os dilemas que a sociedade enfrenta e traçar rumos comuns entre nós”, explicou Stédile, admitindo ser esta uma agenda ambiciosa.
Resistência crescente e combativa
O vice-presidente nacional do PCdoB, Walter Sorrentino, acredita que, para além do compromisso de luta imediata de resistência, é preciso que a resistência seja fortalecida com a perspectiva. “A perspectiva nesse momento não é de um partido ou de outro, mas de uma ampla unidade de forças, e, oxalá, adquira esse caráter de um Grande Congresso do Povo para formular um projeto para o país. E nos manifestamos aqui, tanto a Fundação Maurício Grabois, quanto o PCdoB, que estamos inteiramente comprometidos com essa exigência e estimulados a ombrear com os companheiros, lado a lado, esse tipo de esforço”.
Sorrentino julga de alto valor o encontro havido “entre camaradas e amigos”, por haver bastante afinidade ideológica, e também nos projetos estratégicos. “E o fato de ter acontecido nesse momento é uma alvíssara”.
O dirigente comunista está otimista com a pauta discutida, na medida em que o povo vai compreendendo que caiu no engodo da realização do impeachment, sem que boa parcela dos trabalhadores o tenham contestado. “Forças vivas da nação vão se dando conta dos grandes perigos em que o Brasil mergulhou no que refere à soberania nacional, aos direitos sociais e sobretudo da democracia”.
Então, diz ele, há o otimismo de que a resistência será crescente e combativa, com boas expectativas da greve geral e da luta pelo estado democrático de direito. “Inclusive com a defesa de que a justiça seja feita para todos; principalmente, para Lula, que não sejam cassados seus direitos políticos”, acrescentou.
“Agora, estamos muito penalizados pela situação brasileira. O Brasil e seu povo não merecem, e só com muita luta nós conseguiremos reverter isso. Não se trata de falta de otimismo, mas de uma consciência clara de que essa luta será dura, tenaz e prolongada para desfazer tudo isso que foi feito”, afirmou ele, diante do líder sem-terra.