Centrais procuram Fiesp para discutir ‘agenda de crescimento’
Reunião das centrais: retomada da produção industrial e dos investimentos para a criação de empregos
São Paulo – Enquanto articulam com governo e Congresso uma medida provisória para reduzir o impacto da Lei 13.467, de “reforma” trabalhista, centrais sindicais querem retomar conversas com empresários em torno de uma “agenda de crescimento” econômico. A ideia é retomar o chamado Compromisso pelo Desenvolvimento, firmado no final de 2015 entre trabalhadores e setor produtivo, mas atropelado pela crise política. Os primeiros contatos já foram feitos com a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), mesmo identificando na entidade uma das principais apoiadoras do processo que culminou com o impeachment de Dilma Rousseff, há um ano.
Cinco das centrais reconhecidas formalmente discutiram esses e outros temas na tarde de hoje (14), na recém-inaugurada sede da CTB, na zona oeste de São Paulo. Além da anfitriã, estavam lá representantes da CSB, Força Sindical, Nova Central e UGT. A CUT não participou do encontro. As entidades planejam realizar, em 1º de setembro, uma plenária com as categorias que têm data-base no segundo semestre. O encontro com empresários está previsto para o dia 17 do mês que vem, mas a data pode ser alterada.
O presidente da CTB, Adilson Araújo, defendeu a necessidade de “retomada de uma agenda em defesa do Brasil, que vive um momento dramático”, sem perspectiva de recuperação. “A gente não vê uma luz capaz de retomar o crescimento e a geração de emprego se não retomar a produção industrial em alta escala, com retomada dos investimentos”, afirmou. “A opção do governo por essa agenda ultraliberal só faz o rentismo sorrir.”
Segundo ele, mesmo apoiadores do golpe “estão sentindo os impactos desse engessamento”, referindo-se à crise política. “O Compromisso pelo Desenvolvimento era um diálogo com o setor produtivo. Esse diálogo vai ser retomado. Divergências à parte, todos nós queremos que o Brasil retome o seu caminho.” Para o presidente da CTB, a crise política interrompeu um processo de mudanças sociais que havia sido iniciado no governo Lula.
O diálogo deve ser tentado, argumentou Adilson, “independentemente do posicionamento político que a Fiesp tenha adotado”. Mas o dirigente acredita que caberia uma “autocrítica” à entidade empresarial: “Eles financiaram o golpe e estão pagando caro”.
Simultaneamente, as centrais, ou pelo menos parte delas, continuam discutindo os termos de uma medida provisória que contemple alguns itens incluídos no projeto de reforma da legislação, como trabalho intermitente, negociação individual, homologação, presença de gestantes e lactantes em locais insalubres e custeio da atividade sindical. O secretário-geral da Força, João Carlos Gonçalves, destacou a unificação de campanhas de várias categorias neste segundo semestre. Metalúrgicos ligados a várias centrais já se organizam para realizar um dia de protestos e uma plenária nacional, em setembro.
Também há uma preocupação no sentido de que a MP seja aprovada antes que a Lei 13.467 entre em vigor, em novembro. “A nossa intenção é retomar o diálogo o quanto antes”, comentou o secretário de Organização e Políticas Sindicais da UGT, Francisco Pereira de Sousa Filho, o Chiquinho. “A gente deve retomar essa conversa com o presidente Temer e abrir espaço no Congresso Nacional.”
Ele afirmou que há um acordo entre senadores e o Executivo que permitiu votar o projeto de reforma sem alterações, desde que fosse editada uma medida provisória “ajustando” alguns itens, como a questão do financiamento. “Se não bastasse o fim dos direitos dos trabalhadores, se feriu de morte as entidades sindicais”, disse o presidente da CTB, lembrando que conselhos profissionais e entidades de classe, como a OAB, são financiadas por seus representados. No caso dos sindicatos, a ideia é criar uma contribuição cuja percentual seria aprovado em assembleia.
Representantes de centrais voltarão a se reunir na semana que vem, desta vez na sede da UGT, na região central de São Paulo.