A Revolução Russa e a nova luta pelo socialismo
Em pouco tempo o socialismo industrializou o país, modernizou sua agricultura, promoveu um avanço educacional-cultural extraordinário, e a classe trabalhadora e o povo como um todo conquistaram direitos sociais e melhor qualidade de vida numa velocidade e abrangência inéditas na história moderna.
Em cinco décadas, o socialismo transformou a velha Rússia, país imenso mas relativamente atrasado, numa grande economia que rivalizava com os índices de produtividade das potências capitalistas da época.
O desenvolvimento do marxismo levado a cabo por Lênin, destacadamente a teoria do imperialismo, possibilitou o rompimento da cadeia do imperialismo nos seus elos mais fracos, como foi o caso das revoluções russa e chinesa. A revolução socialista nasceu das contradições do sistema capitalista dominante e a transição à nova sociedade se deu em meio a um feroz cerco político, diplomático e militar. A pátria do socialismo protagonizou a primeira experiência de estruturação continuada de um sistema alternativo ao capitalismo.
Seus ideais grandiosos e generosos ecoaram pelo mundo, chegaram ao Brasil e contribuíram para a formação do Partido Comunista do Brasil em 1922. Como na Rússia, os comunistas brasileiros e brasileiras compreenderam que um partido leninista seria o instrumento decisivo para intervenções nos processos políticos de forma inovadora. Em quase um século de história, o PCdoB, sob a perspectiva do socialismo, tem lutado pela construção do Brasil, participando e protagonizando jornadas que resultaram em conquistas patrióticas, democráticas e populares.
Os comunistas e as comunistas brasileiros, assim como os do mundo todo, beberam na fonte desse caudal de experiência revolucionária que mudou a face do planeta, subvertendo a lógica da exploração de classe e a ordem colonial, libertando povos, enfraquecendo as bases do racismo e contribuindo para a emancipação das mulheres. O socialismo, em síntese, inaugurou um ciclo que descortinou vastos horizontes para a humanidade, em contraste com o capitalismo, marcado por crises, desigualdades, obscurantismo e guerras.
Sua expansão se deu com revoluções — como a grande Revolução Chinesa, em 1949 —, com as denominadas “democracias populares” no Leste Europeu e com as guerras patrióticas na Ásia e na África, muitas delas lideradas pelos comunistas. No início da década de 1980, um terço da humanidade vivia sob regimes que se diziam tributários da Revolução de Outubro.
É impossível não destacar o papel fundamental da União Soviética na derrota das potências nazi-fascistas durante a Segunda Guerra Mundial, com o sacrifício de um sexto da sua população neste confronto. Este foi um verdadeiro legado civilizacional à humanidade.
No âmbito global, há que se sublinhar, também, que antes da União Soviética, como bem disse Lênin, o poder mundial se restringia “a poucas nações eleitas.”. Os povos não pertencentes ao mundo ocidental e branco eram tidos como “raças inferiores”, para os quais não se concebia o direito de constituírem Estados nacionais independentes. O apoio político, diplomático e militar soviético, e do campo socialista, impulsionou as forças que foram vanguardas nas jornadas de descolonização em várias partes do mundo na segunda metade do século XX.
Outro grande legado da Revolução Soviética foi a inserção da questão social, baseada na promoção de amplos direitos e na redução acelerada da desigualdade, na agenda global. Além de transformar as estruturas sociais do antigo Império Russo e promover um profundo processo de reconfiguração social com acelerada redução da desigualdade e da redistribuição da riqueza, a Revolução Russa, em função da “ameaça” que representava para as elites do mundo capitalista, tornou possível a estruturação de Estados de bem-estar e a generalização de direitos sociais na Europa, bem como a sua ampliação nos processos de desenvolvimento dos países capitalistas dependentes. Trata-se de uma realização de profundo e duradouro alcance no mundo.
Apesar dos êxitos, no entanto, o socialismo sofreu uma grande derrota com o fim da União Soviética e das experiências socialistas do Leste Europeu. Os partidos comunistas e os governos desses países – fragilizados pela perda de perspectiva revolucionária e mesmo pela degeneração política e ideológica de suas cúpulas, pela petrificação da teoria marxista, pela estagnação da economia e da própria democracia socialista – não resistiram à ofensiva imperialista e sucumbiram.
O PCdoB e o movimento comunista e revolucionário mundial, desde então, se lançaram à grande tarefa de examinar os erros e insuficiências que levaram a União Soviética e o campo socialista à derrocada. Desse labor teórico, político e ideológico que vem sistematizando as lições dessa grande experiência emergiu uma nova etapa da jornada revolucionária com o socialismo renovado e rejuvenescido pelas lições da história.
Ideólogos e publicitários do imperialismo e do neoliberalismo, maciçamente apoiados pelos trustes da comunicação, ao se referirem ao centenário da Revolução Russa retomam os mais grosseiros chavões da Guerra Fria contra a União Soviética. A verdade é bem outra. Em sua grandiosa trajetória, repleta de percalços, realizou a primeira experiência histórica de planificação central, que assegurou um colossal desenvolvimento das forças produtivas ao longo dos oito primeiros planos quinquenais (1928-1960). O socialismo, ao contrário do que eles falsamente propagandeiam, nasceu no século XX, lá deu seus primeiros passos na história, sofreu uma grande derrota, mas é força viva e pulsante na contemporaneidade.
Passados vinte e seis anos do fim da União Soviética, uma nova luta pelo socialismo se desenvolve e se projeta como alternativa à própria crise estrutural do capitalismo.
Essa nova jornada brota das contradições e dos paradoxos do capitalismo contemporâneo, marcado por crises, parasitismo rentista, imensa desigualdade social, desemprego, autoritarismo, desrespeito à soberania, agressões e guerras contra as nações. Um sistema, portanto, que se revela crescentemente incapaz de dar resposta aos anseios e necessidades da classe trabalhadora e dos povos.
A nova luta pelo socialismo se ergue da brava resistência dos trabalhadores e das trabalhadoras e das nações contra as iniquidades do sistema dominante. Alimenta-se do poder criador do marxismo, que se renova e se mostra capaz de interpretar os grandes dilemas e problemas da atualidade, e da pertinácia do movimento revolucionário que, mesmo ainda sob defensiva estratégica, está presente e atuante em países de todos os continentes.
O socialismo no século XXI está vivo e pulsante nos países que, mesmo enfrentando grandes adversidades, mantiveram sua construção, segundo as singularidades de cada um, e souberam empreender reformas, renovações e atualizações. Entre eles, pode-se destacar China, Cuba e Vietnã.
Recentemente, mesmo a grande mídia dos países capitalistas foi obrigada a se curvar ao fato de que – enquanto o capitalismo vive um impasse, com um crescimento medíocre da economia de suas grandes potências – a China socialista por décadas descreve um longo ciclo de desenvolvimento soberano, proporcionando imensas conquistas ao povo chinês, e projeta, para poucas décadas à frente, se tornar a mais pujante economia do mundo e, provavelmente, a nação mais influente.
Mesmo que uma poeira cinzenta, na atual quadra histórica, esteja a cobrir o céu azul de grande parte de nosso planeta, e que nosso país esteja sob as garras de um dos piores governos da nossa história, o PCdoB, o partido do socialismo, comemora o centenário da Revolução Russa, enaltece seu legado à classe trabalhadora, aos povos, à humanidade e reafirma que o socialismo é uma relevante força viva do presente. É a alternativa e perspectiva de futuro radioso à classe trabalhadora e os povos.
Viva o centenário da Revolução Russa!
São Paulo, 5 de novembro de 2017
Comitê Central do Partido Comunista do Brasil (PCdoB)