A rejeição da especulação financeira pela China
Mesmo se desconsideramos aspectos geopolíticos, que tanto apavoram nossos patrões norte-americanos, a simples questão econômica nos deveria obrigar a dar atenção às tendências de desenvolvimento da China, assim como as decisões de sua direção. Por exemplo, vem aí a Rota da Seda, o mais ambicioso empreendimento físico a ser realizado no planeta a partir da Ásia. Enquanto a Europa patina e os Estados Unidos oscilam no fundo do poço, China e seus parceiros abrem as mais ambiciosas oportunidades de negócio no planeta.
Acaso isso não interessa ao Brasil? Ou somos tão absurdamente americanófilos que fingimos desconhecer o que está sendo planejado e executado do outro lado do mundo, envolvendo não apenas, em sua liderança, a China mas outro gigante, a Rússia. Entretanto, não há a mais remota possibilidade de retomada efetiva de desenvolvimento para o Brasil fora de uma articulação com a Ásia. Para isso teríamos, na área do financiamento, a conexão BRICS. Mas como mostrou a demissão de Paulo Nogueira Batista do Novo Banco do Desenvolvimento, há um propósito claro deste Governo de sabotar o banco dos BRICS por razões estupidamente ideológicas – ou seja, a aliança sem contrapartida com os Estados Unidos.
Os indicadores estratégicos do 19º. Congresso, este que a prostituta da imprensa brasileira sequer mencionou, apontam numa direção bem mais relevante para o desenvolvimento mundial que os indicadores físicos. Primeiro, e mais importante, assinalam um compromisso firme com a economia real. Para quem não conhece os códigos, isso significa uma rejeição cabal do que chamamos de financeirização da economia, isto é, a subjugação da economia física ao capital financeiro especulativo dominante no sistema bancário brasileiro e ocidental.
Não é um objetivo trivial. Especialistas independentes de todo o mundo, e me incluo entre eles, estão antevendo um novo estouro financeiro similar ao de 2008, e por razões idênticas, ou seja, pela completa descolagem entre sistema financeiro especulativo e economia real. A China sabe disso, e a despeito das pressões dos especuladores ocidentais, que a querem ver no baile da financeirização, não se deixará arrastar para ele, seja pelos riscos que uma nova crise colada à ocidental representaria para o país, seja pelos riscos para o mundo.
O outro ponto assinalado pelo 19º Congresso é de compreensão mais sutil. São grandes as pressões ocidentais para que a China libere o câmbio e as taxas de juros, variáveis cruciais no desenvolvimento econômico. O compromisso, nesse caso, é de subordinar câmbio e juros à política monetária, e não o contrário. Ou seja, em lugar de fixar juros e câmbio, usar a política monetária (expansão e contração da moeda) para estabilizá-los. Obviamente, isso não tem nada a ver com imbecilidades brasileiras do tipo “tripé macroeconômico”, que alguns dos próprios próceres neoliberais (Summers, Blanchar) já trataram de desmoralizar.
Publicado em Jornal GGN