O que virá em 2018? “Demanda agregada” e/ou “economia política”?
Chamado pelo Portal Vermelho para falar sobre os prognósticos à economia brasileira em 2018, só posso responder de forma sucinta que 2018 poderá ser a continuidade do espasmo vivido em 2017, e que 2019 poderá ser muito melhor. E a razão disso é um tanto quanto óbvia: não existe subsolo num fundo de poço vivido após retração de quase 9% do PIB real entre 2014 e 2016. E o crescimento de 1% previsto para 2017 confirma isso.
Nossa economia continuará a colher alguns frutos de nossa potente agricultura, da taxa de câmbio favorável e do crescimento econômico mundial. E sofrerá pela ação especulativa que se elevará em ano eleitoral e, principalmente, pela falta de investimentos públicos; elemento este essencial à sustentabilidade de qualquer crescimento digno deste nome.
É sobre este último ponto que devemos nos ocupar, pois é nessa variável que podemos encontrar um ponto de encontro – essencial em ano de eleições gerais . A brutal recessão da qual estamos iniciando lenta trajetória de saída inicia-se justamente no momento em que instala uma política punitiva sobre os gastos públicos no início de 2015 combinado com aumento das taxas de juros. Não se pode esperar investimentos privados em realidades marcadas por 1) ausência de investimentos públicos indicando efeito de encadeamento industrial a ser explorado pelo setor privado; 2) taxas de juros acima da taxa de lucros no setor privado e 3) alta volatilidade cambial.
É muito evidente que, na falta os elementos acima indicados, o crescimento só pode vir por efeitos de externalidades (demanda externa), desempenho de algum setor dinâmico (agricultura industrial) ou pontuais incentivos ao consumo (por exemplo, a liberação de saques do FGTS). Foi o caso do Brasil em 2017. Será o mesmo em 2018?
Dificilmente. O professor Nelson Marconi, em sua análise última postada em sua página pessoal no facebook, já adianta que em 2018 não haverá medida semelhante de liberação de saques do FGTS, nem tampouco o desempenho da agricultura industrial será o mesmo de 2017.
Marconi aponta corretamente alguns pontos de restrição. É importante apontar outros, em especial a grande contração pela qual está passando o BNDES. E essa contração não pode ser “corrigida” pela via da injeção de recursos na economia (os já citados saques do FGTS) ou pelo aumento dos compulsórios bancários. O crédito de longo prazo é uma questão estratégica que vai além dos recursos para compra de máquinas e equipamentos. O buraco é mais embaixo nesse ponto.
O ano que se inicia será de muitas dificuldades também por outro motivo apontado por Nelson Marconi. Juros e câmbio sentirão a ação de “investidores” sobre as incertezas políticas que virão e a possibilidade de queda da nota do país pelas agências de risco, o que certamente afetará a já combalida taxa de investimentos. Sem a capacidade de intervenção estatal sobre o ciclo (fruto da PEC do teto de gastos e a contração institucionalizada do BNDES), ficaremos à mercê de alguma “novidade de fora”. E essa novidade de fora não poderá ser boa diante da possibilidade de aumento da taxa de juros nos EUA.
É evidente que se somam a tudo isso problemas estruturais graves cuja solução não está na vontade humana, nem tampouco na capacidade de nossa heterodoxia econômica pensar grandes soluções progressistas ao nosso país. Duas décadas de instabilidade macroeconômica, combinação de juros altos e câmbio tendencialmente valorizado, são uma questão de “Grande Política” que deve ser tratada com o cuidado devido. A troca do “consenso da estabilidade” por outro de caráter desenvolvimentista claro é uma construção estratégica que demanda conquista plena da sociedade e não de alguns círculos acadêmicos, políticos e de movimentos sociais mais sérios.
Sobre 2018, também posso dizer que 2019 poderá ser muito melhor. Acredito que a grande questão de 2018 não passa por discussões sobre os elementos de demanda agregada que poderão dar empuxe ao crescimento. O problema do país é puramente político.
É legitima a existência de mais de uma candidatura no campo Nacional e Popular. Esta legitimidade poderá se elevar na medida em que, de forma imediata, costure-se um acordo mínimo entre os três candidatos do campo (Lula, Ciro e Manuela). Esse acordo teria dois objetos: 1) o alvo político principal a ser atacado neste ano pelas três candidaturas e 2) Uma agenda de retomada do crescimento pós-golpe, a começar pela proscrição completa da PEC do teto de gastos. Em pauta: os investimentos públicos.
Por fim, outros elementos a serem considerados em uma análise de conjunto. Refiro-me ao papel destrutivo da operação Lava Jato, do Ministério Público e do braço armado do golpe, a Polícia Federal. Não existe retomada do crescimento possível sem que esses elementos sejam postos em seus devidos lugares de origem. Fora do lugar como estão, são tão nocivos ao país quanto os efeitos de duas décadas de juros altos e câmbio valorizado.
*Elias Jabbour é professor do Programa de Pós-Graduação em Ciências Econômicas da FCE-UERJ. Membro do Comitê Central do PCdoB.