Nascido em 1953 no bairro da Brasilândia (zona noroeste), ele foi o sexto de sete filhos de um casal de migrantes do sul de Minas Gerais – o pai era carpinteiro de obras, e a mãe, lavadeira. Em 1962, com 9 anos, Cintra ficou órfão de pai. Aos 16, matriculou-se no Senai e virou mecânico da antiga CMTC (Companhia Municipal de Transportes Coletivos).

Ao terminar o colegial (atual ensino médio), foi trabalhar no Banco Andrade Arnaud e entrou na Faculdade de Direito da USP, no Largo São Francisco. Aprovado em concurso público, tornou-se servidor da Caixa Econômica Federal. Numa época de ascenso da oposição à ditadura militar e renascimento dos movimentos comunitário e estudantil, Cintra se envolve com as lutas de bairro e o Movimento do Custo de Vida na região da Freguesia do Ó/Brasilândia, além de aderir, na USP, à corrente Caminhando.

Em 1975, quando o MDB (Movimento Democrático Brasileiro) cria um diretório na Freguesia do Ó, Cintra é eleito para presidi-lo. Nas eleições municipais de 1976, o jovem líder da Freguesia/Brasilândia, de apenas 23 anos, candidata-se a vereador com várias credenciais: servidor público, ativista estudantil, líder comunitário e dirigente partidário.

Mais do que isso, Cintra já é um respeitado porta-voz da oposição ao regime autoritário dos generais-presidentes. Sua campanha, assim, recebe o apoio de inúmeras associações amigos de bairro, do jornal alternativo “Movimento” (liderado por Raimundo Rodrigues Pereira), de militantes do ainda clandestino PCdoB e de estudantes universitários (caso de nomes como André Singer, Alon Feuerwerker, Sérgio Buarque de Gusmão e Igor Fuser).

Beneficiado, de resto, pelo avanço do MDB em São Paulo – que elege 13 vereadores no pleito de 15 de novembro, contra oito da governista Arena –, Cintra conquista nada menos que 32.381 votos e é o primeiro suplente no “chapão” emedebista. O resultado foi comemorado pelos apoiadores, dada a possibilidade concreta de Cintra assumir uma vaga na Câmara Municipal.

Da mesma maneira, as atenções do PCdoB se redobraram. Na reunião do Comitê Central comunista de dezembro de 1976 – que ficaria marcada por seu desenlace trágico, a Chacina da Lapa –, o informe do dirigente Pedro Pomar sobre eleições municipais destacou o desempenho do jovem candidato. De acordo com Pomar, “os comunistas deveriam dar continuidade ao trabalho em conjunto com Cintra: criar um jornal do bairro onde ele atuava, reconstituir a ação na campanha contra a carestia e organizar uma sede”. Haroldo Lima complementou: a campanha de Cintra, mesmo “boicotada pela direção do MDB”, alcançou “grande receptividade entre o povo do bairro, que aceitou seu programa verdadeiramente de oposição à ditadura” e mobilizou mais de 400 voluntários. Havia “condições favoráveis para o desenvolvimento, no futuro, da ação do PCdoB no bairro”.

De 1977 a 1979, Cintra, de fato, assumiu como vereador por dez vezes, cobrindo licença de outros parlamentares. Em 1979, tomou posse em caráter definitivo. Ao todo, ficou por seis anos na Câmara – até ser eleito deputado estadual, em 1982, com outro desempenho expressivo: mais de 64 mil votos.

Em uma década com mandatos legislativos, sempre voltado às causas populares, aos movimentos sociais e às lutas em defesa da democracia, Cintra virou referência de parlamentar combativo, amplo, comunista. Muitas entidades, em fase de reorganização, usavam o gabinete de Cintra como uma espécie de sede informal. Nenhuma frente se aproveitou tanto dessa oportunidade quanto o movimento negro.

Graças a conquistas que seus mandatos ajudaram a viabilizar – como o Centro Esportivo da Vila Brasilândia, o Clube da Comunidade de Vila Palmeiras, a Praça Luísa Mahin e o Pronto Socorro Municipal 21 de Junho –, a Freguesia/Brasilândia entrou no mapa político de São Paulo. Em sua homenagem, uma ocupação popular em Guaianases, na zona leste, batizou uma via como Rua Benedito Cintra.

Finda a fase parlamentar, sua trajetória teve várias facetas. Cintra foi fundador da Unegro (União dos Negros pela Igualdade), diretor da escola de samba Unidos do Peruche e dirigente do Sindicato dos Bancários de São Paulo. Durante o governo Lula (2003-2010), foi assessor da Presidência da República e um dos idealizadores e articuladores do Estatuto da Igualdade Racial, aprovado em 2010.

Aos 65 anos, Benedito Cintra mora na região da Freguesia do Ó e é membro da direção do PCdoB da Zona Noroeste. Continua a ser um valoroso e genuíno filho das lutas do povo e um ícone histórico do PCdoB.

 

(Foto: André Cintra com o pai, Nivaldo Santana (esq) e o tio Benedito (dir))