Legado de Marx e o combate ao neocolonialismo e neoliberalismo norteiam debate promovido pela Grabois
O evento teve como palestrantes o doutor em História e professor da UFBA, Olival Freire, e o presidente da Grabois, Renato Rabelo, e contou com a mediação da presidenta do Grupo Tortura Nunca Mais, Ana Guedes.
Linhas de pensamento
Olival abriu as discussões com uma descrição dos diversos aspectos do pensamento marxista. De acordo com o professor, trata-se de um pensador crítico do capitalismo com posicionamentos em outros campos da ciência e teses essenciais para a luta de classes. “O legado do Marx hoje é um legado que se dá em vários planos. O primeiro plano é o Marx como homem de ciência. O pensamento do Marx sobre a sociedade é análogo ao pensamento do Darwin, sobre a natureza, e do Freud sobre a psicologia individual. Um segundo destaque do pensamento do Marx, um segundo aspecto, é o Marx revolucionário, ao qual toda indignação atual contra as injustiças, as exclusões nesse mundo, nessa sociedade capitalista, estão associadas a imagem de Marx. E o último aspecto, o mais interessante e relevante, é como crítico da sociedade capitalista.”
Segundo ele, o cientista defendia que só com a conscientização dos trabalhadores as lutas de classes seriam desenvolvidas. “Então, esse Marx que identificou que a sociedade capitalista inevitavelmente gera exclusões e desigualdades, e por isso inevitavelmente gera lutas, mas essas lutas só podem ser desenvolvidas, segundo Marx, se desenvolve a consciência dos trabalhadores, esse é o Marx que mais nos interessa quando discutimos a luta atual pelo socialismo.”
As fases do Comunismo
Em sua fala, Renato falou das diversas fases do Comunismo no mundo. Segundo ele, a China é um exemplo a ser destacado, que em 40 anos saiu de uma situação crítica e se tornou potência mundial. “A nova luta pelo socialismo parte exatamente dessa necessidade de tirar lições desses grandes empreendimentos revolucionários do século passado. Porque a revolução proletária no século 20 teve que se desenvolver e se consolidar em circunstâncias históricas concretas excepcionais e singulares. Que Marx não previa. Aliás, previa o contrário. Por isso mesmo é necessário, para a compreensão de uma nova luta pelo socialismo, a gente partir destas experiências que são importantíssimas.”
Ele destacou que o socialismo é uma resposta ao capitalismo e lembrou da necessidade de combater o neoliberalismo e o neocolonialismo. “O socialismo do século 21 é resposta ao capitalismo contemporâneo. O socialismo é sempre uma resposta ao capitalismo. Por isso que digo que não é a vontade, ele surge de uma realidade objetiva. A resposta ao capitalismo contemporâneo é uma resposta a contra-revolução neoliberal e neocolonial. Nós vivemos uma nova fase de colonização. As guerras empreendidas pelo imperialismo hoje, junto com a OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte) e com a Europa, são guerras neocoloniais. O que fizeram com a Líbia foi uma grande investida neocolonial.”
Lembrou da necessidade de uma nova luta pelo socialismo. “A nova luta pelo socialismo é exatamente contra estas contra-revoluções neoliberais e neocoloniais, contra o capitalismo contemporâneo. A nova luta, portanto, é exatamente neste sentido. É preciso estudar as experiencias contemporâneas, que iniciaram no sáculo 20 e seguiram para o 21.”
Rabelo falou ainda do rentismo. “A relevância de Marx no século 21 se dá justamente pela imensa aceleração da globalização neoliberal e a hegemonia do capitalismo financeiro, é aquilo que Marx previa, capital fictício, rentismo. Que só cresce, ganhando fazendo dinheiro fora da produção.”