Na sua avaliação, a centro-direita se despedaçou. “O PSDB perdeu a capacidade de reunir em torno de seu candidato a grande parcela do eleitorado dessa vertente. A cada dia fica mais provável que a disputa se dará entre Fernando Haddad e Jair Bolsonaro”, constata. 

Maria Herminia, no entanto, afirma que a interpretação de que o segundo turno se dará entre duas formas de populismo e que Haddad e Bolsonaro seriam igualmente nefastos para a estabilidade e a permanência de democracia não se sustenta à luz da experiência dos últimos 30 anos de democracia plena.

Apesar de fazer críticas ao PT, ela defende que “é impossível ignorar o imenso e bem-sucedido esforço de inclusão promovido pelos governos petistas, que transformou a paisagem social brasileira e trouxe ganhos que vieram para ficar, apesar da profunda crise econômica”.

“É míope quem atribui o extenso e duradouro apoio a Lula entre a maioria dos pobres à mera ilusão produzida por um prestigitador populista. Tem motivos bem racionais para gostar de Lula o eleitor do município onde a eletricidade só chegou na última década do século passado, com o Luz para Todos, e cujo filho foi o primeiro negro da família a entrar na universidade, graças ao Prouni e à política de cotas, assim como aquele que passou a trabalhar com carteira assinada ou tem a proteção mínima do Bolsa Família”, escreve.

Ela lembra ainda que, desde a sua fundação, o PT apostou tudo na disputa pelo poder pela via eleitoral. “Derrotado em 1989, 1994 e 1998, aceitou os resultados sem contestá-los. Ao ascender ao Planalto, a agremiação consolidou uma liderança moderada de centro-esquerda e governou rigorosamente dentro das regras democráticas. Não procurou calar a imprensa que lhe fazia oposição, nem controlar o Judiciário que exerceu com liberdade sua vocação antimajoritária”, completa.

De acordo com ela, o PT não tratou de alterar as instituições em benefício próprio e, mesmo após o impeachment, buscou a via judicial para contestar as penas recebidas e investiu forte nas eleições, reafirmando-as, assim, como a única forma legítima de conquistar o governo.

“Nesta hora, a democracia corre risco, mas o perigo vem da extrema-direita”, encerra Maria Herminia, pesquisadora do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento.

 Publicado no Portal Vermelho