Segundo turno: é tempo de uma mobilização como foram as “Diretas”
É momento para fazer amigos e não inimigos. A principal tarefa desse segundo turno é ganhar corações e mentes para a defesa da democracia
Por outro lado, a perspectiva de uma disputa em segundo turno deixou um ar de frustração entre os apoiadores do candidato. É preciso partir do entendimento de que não existe jogo jogado e a partida só termina quando o juiz apita. Há um profundo debate a ser travado junto à sociedade brasileira até o dia 28 no sentido da defesa da democracia, dos direitos do povo e da soberania do país.
Assim, vale refletir sobre alguns rumos dos debates e construção política importantes para esse segundo turno. Podemos apresentá-los em três linhas:
PT x fascismo: Postura recorrente e previsível por parte do Partido dos Trabalhadores que acredita ser o único porta-voz da esquerda brasileira. Se ocorrer, seria um equívoco decisivo. O anti-petismo fortaleceria ainda mais a campanha pró-Bolsonaro e jogaria indecisos e eleitores de outros candidatos do primeiro turno para o lado de lá. Se isso ocorrer, podemos dar a faixa presidencial para o capitão da Reserva agora.
Defesa da democracia: A polarização com Bolsonaro torna a defesa de um Brasil democrático em grande trunfo nesse segundo turno. Essa deve ser a bandeira em torno da qual possam se unir todos os setores possíveis. Devemos buscar canalizar em torno da candidatura de Haddad e Manuela toda a oposição ao #elenão expressado nas manifestações dos últimos dias ao mesmo tempo que todos os setores interessados em um país democrático. Trabalhar, assim, na construção de um amplo bloco social e político que supere os debates mesquinhos e sectários sobre alianças. Assim, na foto devem estar de Guilherme Boulos à família Marinho, passando por Requião, FHC, Alckmin, Ciro e Marina juntamente com setores da economia nacional. Além de dividir segmentos do bloco que apoia Bolsonaro.
Programa: A defesa da democracia deve ser o lastro em torno do qual unifiquem-se amplos setores da sociedade brasileira. Para isso, é preciso materializar esse amplo espectro político e social em um programa democrático para o país. A simples defesa da democracia não ganha o povo. É preciso apresentar alternativas para o país que visem a profunda democratização da sociedade. Assim, democracia precisa significar comida na mesa do povo, direitos laborais para os trabalhadores, combate ao machismo, racismo e homofobia, além de medidas de estímulo ao desenvolvimento e à soberania nacional.
Do ponto de vista eleitoral cabe refletir sobre outras 3 direções:
Eleitores de Ciro, Marina, Boulos e Alckmin: há entre aqueles que votaram nesses candidatos posições que refutaram tanto Bolsonaro quanto o PT. Por isso, não cair na polarização PT x fascismo, assim como o programa é estratégico. Esse eleitorado se dividirá nesse segundo turno. É preciso disputá-lo.
Abstenções: se colocados em ordem, as abstenções ficariam em terceiro lugar nesse pleito. Em geral, são pessoas que estão desmotivadas e descrentes no sistema político brasileiro. Ainda que expressem uma tendência das últimas eleições convencê-los a votar e, mais que isso, fazê-lo para fortalecer a candidatura democrática é uma tarefa central.
Tirar votos da candidatura fascista: esses eleitores agem como se estivessem imbuídos de uma verdade absoluta. Acreditam que aquilo que defendem são fatos e contra fatos não há argumentos. São a maior parcela daqueles que se informam através de redes sociais. Esses são espaços para a difusão de informações descontextualizadas, parciais e difusas e são assumidas como verdade por parte desses eleitores. Nesse cenário, muitas pessoas de formação humanista e progressista tem caído no canto da sereia. É fundamental ter uma estratégia para esse público.
Por fim, deve-se compreender que esses eixos e linhas se desenvolvem simultaneamente. Tudo ao mesmo tempo o tempo todo. Como disse Mao Tse Tung, é preciso usar as duas mãos para tocar o piano. E vale agregar: não se pode esquecer dos pedais. Entretanto, não evoluem de maneira linear nem harmônica, assim como não respondem a simples atos de vontade ou desejo.
Sem confundir com posturas conciliatórias ou frouxas o caminho não é o da confrontação. Isso apenas fortalece o lado de lá. É momento para fazer amigos e não inimigos. A principal tarefa desse segundo turno é ganhar corações e mentes para a defesa da democracia, que pressupõe a democratização da sociedade brasileira em uma grande convergência democrática, assim como foi a campanha das Diretas.
*Mateus Fioretini é professor de História formado pela PUC-SP e mestrando junto ao Prolam da USP. Foi secretário Executivo da OCLAE, diretor de Solidariedade Internacional da UJS e integrou a Comissão Nacional de RI do PCdoB. Atualmente é membro da seção paulista da Fundação Maurício Grabois