15 mil personalidades assinam carta contra Bolsonaro
Segundo informações da colunista Mônica Bergamo, o objetivo é exigir das “lideranças políticas democráticas e da sociedade civil que se empenhem num entendimento mais amplo para enfrentar o risco” que significa a candidatura Bolsonaro.
Os cineastas Walter Salles e Arnaldo Jabor, o banqueiro Fernão Bracher, o ator Wagner Moura, o economista Eduardo Gianetti, o editor Luiz Schwarcz e o historiador Boris Fausto estão entre as mais de 15 mil pessoas que assinam um manifesto suprapartidário contra a eleição de Bolsonaro e que será divulgado nos próximos dias.
Já o Ministério Público do Estado de SP, a Defensoria Pública de SP e a OAB-SP lançam nesta quarta (17) uma nota que ressalta a “importância da convivência pacífica de distintas opiniões políticas em nossa sociedade”.
O texto pede para todos os cidadãos buscarem o amplo debate de ideias e posições, mas “zelando pelo respeito ao pensamento divergente e refutando toda e qualquer espécie de violência”.
Tempos tenebrosos
O editor Luiz Schwarcz, presidente do Grupo Companhia das Letras, enviou a colaboradores uma carta com críticas ao presidenciável Jair Bolsonaro (PSL) e um pedido de voto em Fernando Haddad (PT).
O documento foi enviado a autores, editores e livreiros do e-mail pessoal de Schwarcz, na tarde desta terça-feira (16), e começou a circular entre o meio literário.
“A candidatura de Bolsonaro é falsamente nova e é irmã de tempos tenebrosos de nossa vida política e cultural”, escreve o editor em trecho do documento.
Na carta, Schwarcz diz ainda ter uma visão pouco positiva dos governos do PT, mas afirma acreditar numa renovação do partido. Ele acrescenta esperar que Haddad faça uma autocrítica dos “erros pregressos” da sigla.
“Sugiro a todos os colegas editores que prezam a liberdade de expressão que votem em Fernando Haddad, se posicionando contra o discurso difusamente preconceituoso, contra o autoritarismo e a intolerância, símbolos do outro polo que se anuncia como alternativa no segundo turno desta eleição”, escreve o editor.
O presidente da Companhia das Letras diz ver em Bolsonaro uma ameaça à tolerância e à liberdade de expressão. “Temos que afastar o grande risco de retroceder décadas em aspectos fundamentais da nossa vida pessoal e profissional”, diz ele na carta.
Leia a íntegra do documento:
Carta aos autores, editores e livreiros
Não costumo me manifestar publicamente e nunca pedi voto ou sugeri votar em qualquer candidato. Posicionei a linha editorial do Grupo Companhia das Letras com independência em relação às minhas opções políticas, mas com ênfase clara em causas justas, publicando livros de apoio a minorias, que refletem a pluralidade e são contra a discriminação racial e a favor da liberdade de expressão.
Tenho uma visão pouco positiva sobre parte importante do legado dos anos do PT no poder, e espero que Fernando Haddad ainda mostre que a esquerda é capaz de fazer autocrítica, que a volta do partido ao poder seria embasada no reconhecimento de erros pregressos, oriundos da associação a formas viciadas e incorretas da prática política no Brasil, em proporções inimagináveis e contrárias à origem e vocação de um verdadeiro partido dos trabalhadores.
Por acreditar na possibilidade de que um PT renovado se apresente numa nova gestão nacional, se comprometendo, por exemplo, com políticas de equilíbrio fiscal, sugiro a todos os colegas editores que prezam a liberdade de expressão que votem em Fernando Haddad, se posicionando contra o discurso difusamente preconceituoso, contra o autoritarismo e a intolerância, símbolos do outro polo que se anuncia como alternativa no segundo turno desta eleição. A candidatura de Bolsonaro é falsamente nova e é irmã de tempos tenebrosos de nossa vida política e cultural.
Construímos nas últimas décadas um mercado editorial vigoroso, tivemos governos comprometidos com a educação e especificamente com a formação de leitores e de bibliotecas públicas, que levaram o livro a quem não pode comprá-lo devido ao histórico fosso social de nosso país. Isso foi feito de maneira criativa e inédita por governos como o de Fernando Henrique Cardoso e o de Lula, que acreditavam na educação. Fernando Haddad se destacou nessa área como ministro, o que também o qualifica para contar com o voto da classe editorial. Além disso, ele coloca a educação entre as prioridades do país, e não podemos aceitar menos que isso de nenhum candidato. Seu perfil moderado dentro do partido nos permite viver a esperança de que os inúmeros equívocos do PT, em várias áreas, não se repitam e que o partido volte aos compromissos que marcaram sua origem.
Autores, editores e livreiros têm força para pedir a todos que prezam a democracia que contribuam, criticamente, se unindo em favor da tolerância e da liberdade de expressão, que estão ameaçadas. Falta um gesto mais claro do PT em busca de um governo de coalização, mas os futuros danos à democracia têm sido verbalizados pelos seguidores do PSL continuamente e são graves.
Temos que afastar o grande risco de retroceder décadas em aspectos fundamentais da nossa vida pessoal e profissional. Desejo um bom voto a todos.