Curso gratuito sobre evolução humana será ministrado por Walter Neves no IEA
Walter Neves ministrará um curso gratuito sobre evolução humana no IEA, em parceria com a revista Scientific American. Serão nove aulas, sempre às sextas-feiras, das 14h às 16h, com início em 18 de outubro e término em 20 de dezembro. As 50 vagas disponíveis serão definidas por ordem de inscrição. A atividade é uma versão em português do que foi ministrado recentemente na Dmanisi Summer School, na República da Georgia, com estudantes de várias partes do mundo. As inscrições poderão ser realizadas pelo sistema Apolo da USP, de 18 de setembro a 10 de outubro.
Intitulado New Kids on the Block: Debates Contemporâneos em Paleoantropologia, o curso abordará as principais discussões e descobertas sobre a evolução dos hominínios ao longo dos últimos 7 milhões de anos. Sua temática é multidisciplinar, uma vez que envolve antropologia, bioantropologia, arqueologia, biologia evolutiva e paleoantropologia. Como as aulas serão baseadas em discussões de textos em inglês previamente distribuídos (não haverá aulas expositivas), é necessário que os interessados sejam fluentes na leitura em inglês [confira o programa do curso e as referências bibliográficas].
Evolução
Pesquisador sênior do IEA e professor aposentado do Instituto de Biociências (IB) da USP, Walter Neves considera que difundir o estudo da evolução de nossa espécie passou a ser uma ação fundamental na afirmação do conhecimento e do método científico.
O pesquisador Walter Neves com a réplica de Lucy, no salão de pesquisa do IEA
“Estamos sob o risco de nos tornarmos o segundo maior país criacionista do mundo”, explica o pesquisador, em seu projeto para o curso, “e vivemos momentos tenebrosos quanto ao anticientificismo, que se tornou política de Estado”. Segundo ele, a evolução humana é um dos alvos prediletos dos que atacam a ciência e o pensamento científico-evolutivo.
“Ideias como a extinção e surgimento de espécies ou a existência de um ancestral comum entre os diversos hominínios são negadas pelos criacionistas”, disse. “Cabe à USP um papel destacado em tornar disponível o que a ciência tem para apresentar sobre o processo evolutivo de nossa linhagem, que começou há cerca de 7 milhões de anos e deu origem ao Homo sapiens por volta de 200 mil anos atrás.”
O curso
Ao longo das aulas, os participantes estudarão as características biológicas e culturais mais notórias de nossa espécie, assim como o momento em que elas surgiram em nossa linhagem evolutiva, para traçar uma perspectiva das contínuas inovações evolutivas que resultaram no ser humano moderno. Com uma combinação única dessas diversas características, o Homo sapiens é uma das espécies com maior dispersão pelo planeta e com a capacidade de modificar o ambiente ao redor, adaptando-o às suas necessidades.
Neste contexto, há cinco pontos principais que os alunos terão a oportunidade de explorar:
1. A diversidade de espécies que caracteriza nossa linhagem evolutiva e o caráter não linear de nossa evolução.
2. O momento do surgimento das principais inovações biológicas que definem nossa espécie e sua importância para a evolução.
3. As diferenças e semelhanças entre nossa espécie e os chimpanzés, que representam a espécie viva mais próxima à do homem do ponto de vista genético e de capacidade intelectual.
4. As circunstâncias ambientais, ecológicas e sociais que permitiram a evolução e o sucesso de nossa espécie.
5. A tensão entre os diversos pesquisadores em relação aos últimos hominínios fósseis encontrados.
Walter Neves
Um dos maiores nomes nas áreas de biologia evolutiva, antropologia e arqueologia no Brasil, Walter Neves foi o responsável pelo estudo de “Luzia”, esqueleto humano mais antigo (11 mil anos) até agora descoberto no subcontinente. Sua pesquisa mais recente, divulgada em julho, pode revolucionar a história da evolução do gênero humano. Com uma equipe de pesquisadores brasileiros e italianos, ele descobriu na Jordânia ferramentas de pedra lascada que teriam sido produzidas há 2,4 milhões de anos, segundo os métodos de datação utilizados. A descoberta indica que representantes do gênero Homo teriam saído da África 500 mil anos antes do que tem sido afirmado até agora (há 2.0 milhões de anos). Além disso, a pesquisa ainda indica que o primeiro hominínio a sair da África pode ter sido o Homo habilis, e não o Homo erectus, como defendem os estudos paleoantropológicos até o momento.