A economia global afunda[1]
A “notável desaceleração” da indústria seria o fator comum à redução da expansão (EUA, zona do euro, China) ou em 90% da economia mundial, disse o FMI, em 16 de outubro. [3] Óbvio que o crescimento chinês (e da Índia), [4] de mais de 6% ao ano, diluem-se no “balaio” das estatísticas ideologizadas do Fundo.
A atividade industrial já desabava, em outubro último, nas economias desenvolvidas do centro capitalista. A indústria global [5] se enfraquecera desde que Trump “começou a elevar as tensões comerciais, no início de 2018 – independentemente das oscilações cambiais”, analisava o jornal “Financial Times” (Valor Econômico, 02/10/2019).
Mas o fenômeno é anterior e estrutural. Nos EUA, por exemplo, um importante indicador para desempenho da indústria (compra de máquinas) caíra em setembro para o seu menor nível em mais de uma década. A desindustrialização norte-americana, pari passu à nova divisão internacional do trabalho, quer dizer, a transferência de grande parte da base produtiva americana à Ásia, reforça a “financeirização” e o investimento em ativos especulativos. Numa economia já parasitária e cevada pelo complexo “industrial-militar”: belicismo, energia, lucros.
Para a OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), a economia global não deve se recuperar em 2020, tampouco em 2021. Informa que o crescimento da economia mundial não chegará a 3% no próximo ano, devendo permanecer nos 2,9% já esperado para 2019. “Estamos num período preocupante e os políticos devem estar preocupados”, alertou sem rodeios a economista-chefe da OCDE, Laurence Boone (Valor Econômico, 22/11/2019)
Na América Latina e Caribe, o desempenho da economia regional será negativo (-1,1%), em 2019, [6] estimou a CEPAL (Comissão Econômica Para a América Latina), que projeta o PIB (Produto Interno Bruto) para apenas 1%, em 2020. Evidente aqui o caos social que nos espreita, depois das rebeliões deste ano (2019)!
Reiterando que o catastrofismo em economia política é coveiro da dialética, a economia capitalista mundial, após um suspiro em 2017, voltou às cordas logo a seguir. Não havendo dúvida sobre seu agravamento já na aurora da nova década: são terríveis os efeitos da agressão imperialista dos EUA ao Irã.
Se a “estagnação secular”, de Larry Summers é uma fajutice a camuflar os impasses reais do capitalismo neoliberal – ele, um de seus principais mentores -, “financeirização”, desigualdades, desemprego, violência, desesperança, suicídio adolescente etc. tornam visíveis a ruína da sociabilidade capitalista.
NOTAS
[1] Artigo publicado no “Tribuna Independente” (AL), 15/01/2020, sem as notas.
[2] Os gráficos abaixo, publicados sob a rubrica “2019 em revisão: “Cinco gráficos que explicam a economia mundial”, datam de 18 de dezembro de 2019, são assinados pela atual economista-chefe do Fundo, a indiana americanizada Gita Gopinath. São bem mais dramáticos de que o relatório de outubro. Chamam a atenção a participação relativa dos EUA na “desaceleração” global, assim como a queda da indústria e do comércio mundial.
[3] No “Panorama Econômico Mundial”, o FMI reconhece que, em 2019, o crescimento econômico é “o menor desde 2009”; e que “os riscos persistem e ameaçam 2020” (“Valor Econômico”, 12/10/2019). Estimando-o em 3%, observe-se que, em sua metodologia, o Fundo considera um crescimento global menor que 3% “uma recessão” econômica mundial.
[4] O que não pode ser escondido em suas “projeções” 2019: China = 6,1%; Índia = 6,1% (“FMI/Valor Econômico”, 16/10/2020).
[5] Reproduzo resumo do relatório IEDI (“Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial”) sobre o desempenho da indústria mundial, incluindo Brasil:
“A partir de dados dos próprios países, da OCDE e da Eurostat, o IEDI elaborou um ranking internacional de crescimento da produção indústria com 44 países para o acumulado jan-out de 2019. O Brasil ocupou a 33ª colocação, com um resultado de -1,1% (variação que se manteve mesmo incorporando o desempenho decepcionante de nov/19). Ficamos à frente de países industrializados, como Japão (-1,7%), Coreia do Sul (-1,8%) e Alemanha (-4,0%), mas muito abaixo do dinamismo referente à mediana da amostra considerada ( 0,9%)” (“Carta IEDI”, Edição 969 – 10/01/2020).
[6] Conforme afirma a CEPAL, o crescimento econômico regional “é o menor em 70 anos”. A pobreza, que havia “deixado de crescer desde 2015”, deve crescer em 2019. A pobreza total deve ir de 30,1% da população para 30,8%; a pobreza extrema saltaria de 10,7% para 11,5%. “Esse aumento se deve, sobretudo, à alta da pobreza na Venezuela, no Brasil e na Argentina, que se encontra em severa crise desde o ano passado” (“Valor Econômico”, 29/11/2019).