Aldo Arantes: Qual a frente política que o país necessita?
Essa escolha resultará em contribuir ou dificultar a conquista dos objetivos que o curso dos acontecimentos nos apresenta.
Para identificar qual a alternativa que corresponde às atuais necessidades do momento, há que se fazer uma distinção entre frente estratégica e frente tática.
A frente estratégica visa objetivos de longo prazo. Se relaciona com transformações estruturais da sociedade. Já a frente tática procura solucionar os problemas imediatos que a conjuntura coloca.
Confundir a frente estratégica com a frente tática tem como resultado o estreitamento da frente, impedindo que a ela se agreguem importantes setores. Isto reduz o seu alcance e limita sua capacidade de interferir no curso dos acontecimentos, com graves consequências políticas.
Assim, a opção por uma das alternativas decorre da análise concreta de quais as questões fundamentais que exigem respostas na atual conjuntura.
A crise atual indica que os problemas mais graves são: o risco de um golpe, a defesa da vida, que envolve os problemas sanitárias e os decorrentes da condição de vida das camadas mais afetadas pelo COVID-19 e o afastamento de Bolsonaro.
A realidade concreta nos mostra que são essas as bandeiras que já mobilizam importantes segmentos da sociedade. Exemplo disso é o manifesto intitulado Pacto Pela Vida e Pelo Brasil, assinado pela CNBB, OAB, ABI, SBPC, ABC e Comissão de Diretos Humanos Dom Evaristo Arns.
Partindo desses pressupostos a conclusão lógica é a de que a frente de esquerda, por sua limitação, não consegue dar respostas à gravidade da situação. Sozinha a esquerda não consegue solucionar a crise. Mesmo a frente popular, um pouco mais ampla, também não consegue incorporar os setores democráticos, indispensáveis à frente.
Para atingir esses objetivos a frente deve ser democrática, deve incorporar todos os que convergem em torno da luta pelo afastamento de Bolsonaro, em defesa da vida e da democracia.
A alternativa é, pois, a frente democrática em defesa da vida, da democracia e da Constituição.
A linha demarcatória para a participação nessa frente é o seu programa, a luta contra Bolsonaro a defesa da democracia e da vida.
É um erro tentar impedir a incorporação de determinadas lideranças do campo democrático, mesmo conservadoras e defensoras de políticas neoliberais.
Na luta contra as políticas neoliberais estaremos em lados opostos. No parlamento, por exemplo, ao discutir questões relacionadas com políticas sociais e trabalhistas estaremos separados, mas unidos na defesa da democracia e do estado democrático de direito.
Na formação da frente ampla o exemplo histórico é a luta pelas Diretas Já! Ela reuniu milhões de pessoas e agrupou lideranças das mais diferentes tendências políticas e ideológicas. No final não se obteve as eleições diretas. Mas o movimento agrupou os setores democráticos e progressistas que lutavam contra a ditadura militar e terminou exercendo importante papel para colocar fim ao período de arbítrio e alavancou as mobilizações para a Constituinte. Contribuiu com a aprovação de uma Constituição de perfil democrático e social. Constituição que exerce importante papel na atual para limitar os arroubos ditatoriais de Bolsonaro.
A definição pela frente democrática não exclui a necessidade da articulação da esquerda e dos movimentos populares, dentro da frente, para exercerem papel na definição do seu rumo. E para continuar lutando em defesa dos interesses dos talhadores, contra a política neoliberal e pela independência nacional.
Há que se distinguir entre a frente política e a frente eleitoral. Elas têm objetivos diferentes, mas devem guardar relação. A frente política visa a defesa da democracia. Já a frente eleitoral visa a conquista de governos municipais, estaduais ou federal.
Traduzir a frente política em frente eleitoral é a melhor alternativa. Todavia não sendo possível é muito importante que se estabeleça um compromisso de que o alvo das campanhas se volte contra os defensores de Bolsonaro, de sua política genocida e antidemocrática.
Finalizando reafirmo a defesa da frente ampla em defesa da vida, da democracia e da Constituição e da necessidade da unidade da esquerda em torno desse objetivo.
*Aldo Arantes é Constituinte de 1988. Coordenador Nacional da ADJC (Associação de Advogados e Advogadas pela Democracia, Justiça e Cidadania. Membro do Comitê Central.