O Observatório da Democracia realizou nesta segunda-feira (01), por meio de videoconferência, mais uma edição do Ciclo de Debates Diálogos, Vida e Democracia. A mesa trouxe como tema “Democracia, Sociedade Civil e Estado Democrático”. O tema central da webconferência mediada por Luzia Ferreira, que é diretora da Fundação Astrojildo Pereira e presidenta do Cidadania em BH, buscou analisar as atuais e constantes ameaças às instituições que sustentam a democracia brasileira.

Gilson Dipp defendeu a importância das eleições municipais ainda este ano, mesmo com a pandemia. Para ele, este processo será fundamental para o enfrentamento da crise política. Como ex-ministro do TSE, ele mencionou as medidas práticas que precisariam ser tomadas para garantir a participação dos eleitores. Para ele, diante do isolamento político de Bolsonaro e a queda na popularidade que vem sofrendo, este processo eleitoral seria fundamental para o confronto político.Gilson Dipp disse que há uma justificativa para Bolsonaro provocar caos em meio a uma pandemia, quando o mundo todo enfrenta a doença dedicando todas as suas energias políticas. “Ele só sabe governar para aqueles dez por cento de fanáticos, que poderão levá-lo para a final de uma nova eleição.”

Dipp considera importante observar que o presidente está acuado juridicamente. Ele mencionou o inquérito no STF das fake news, que foca exatamente nessa “militância do ódio”, que é “a alma da atuação” de Bolsonaro.

Em sua opinião, o presidente sabe disso e teme o que o Supremo pode fazer com as provas que acumula contra empresários, blogueiros e deputados envolvidos no financiamento e disseminação de mentiras contra personalidades e instituições.

Outros fatores jurídicos que acuam Bolsonaro e seus filhos são a investigação sobre sua interferência na Polícia Federal, além de processos sobre as manifestações contra o Congresso e o STF apoiadas pelo presidente. Ele diz ainda dos processos em andamento na Justiça Eleitoral contra a disseminação de notícias falsas que impulsionaram a eleição de Bolsonaro. Soma-se a isso a CPMI sobre as fake news, que quer compartilhar as provas de todas essas investigações.

“É preciso que haja uma posição mais incisiva do presidente da Câmara em relação aos vários pedidos de processo de impeachment”, relatou Gilson Dipp. De acordo com o ex-ministro, é necessário que os responsáveis pela fiscalização do trabalho presidencial adotem uma postura firme contra medidas e ações reprováveis atribuídas a Jair Bolsonaro, em vez da leniência com que tratam este governo.

Ele não acredita que Bolsonaro tenha suporte, sequer dos militares, caso as investigações se fechem sobre ele e os seus. Por isso, na opinião do ex-ministro, ele estaria tão desesperado. Ele observa que os militares, em nenhum momento, fizeram alguma defesa mais entusiasmada do presidente e seu governo. “Não dá pra ter diálogo com uma pessoa acuada e desesperada”, afirma.

 

O debate contou ainda com a participação do vice-presidente da Associação Brasileira de Imprensa, Cid Benjamin, do ex-ministro da Educação e ex-prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, e da advogada, doutora em Direito, professora da UFRJ e membro da ABJD, Carol Proner.