Marcos Dantas: Revista Princípios para a nova etapa do capital
A edição 159 da revista Princípios chega às mãos dos leitores com uma nova proposta editorial. Com quase quatro décadas de existência, a revista renova seu formato, perfil e conselho editorial para se inserir no debate nacional qualificada para os desafios da nova ordem política e econômica.
Foi com este tom que a nova edição foi lançada neste início de setembro (3), com apresentação dos envolvidos na empreitada, sob a mediação da socióloga Ana Prestes, também editora-executiva da revista.
O professor de Comunicação da UFRJ, Marcos Dantas, representa os autores da edição 159, considera este número de Princípios particularmente expressivo, porque capta, em função da realidade que estamos vendo nas ruas, a mudança dos processos de trabalho, por expressões como uberização, precarização, gig economy, que caracterizam novas relações de trabalho que vêm sendo implementadas dentro da lógica capitalista de acumulação há uns trintas anos.
“Agora explodiram e são visíveis, a Covid-19 nos convidou a ver o que esta acontecendo com essa moçada que fica se sacrificando doze horas por dia para levar comida, bens de consumo para as casas das pessoas que estão resguardadas por causa da pandemia. Uma parte da classe trabalhadora teve que continuar na rua atendendo a demanda do restante da sociedade”, afirmou.
Esse é um processo que caracteriza uma nova etapa do capitalismo, na opinião dele. “O capital é muito criativo, se renova, vive em crise e busca sempre novas soluções. O tipo de trabalhador que Marx investigou no século XIX já não era o mesmo trabalhador fordista que conhecemos no século XX, a massa concentrada nas fábricas e escritórios”, observou.
Dantas pontua que, com a acumulação flexível, começa esse processo de precarização, terceirização, alargamento e distanciamento dos espaços-tempo de trabalho e as cadeias produtivas começam a se expandir. “E o capital começa a investir em tecnologia que permita adaptar sua lógica produtiva à mesma lógica flexível de acumulação”.
Esses investimentos tecnológicos que o capital vem fazendo, conforme explica ele, reorganizam o sistema de trabalho. “Uma reorganização na divisão internacional do trabalho profundamente punitiva e prejudicial à periferia capitalista. Mudaram as relações de dependência, o pacto colonial é outro”, analisou. No âmbito concreto do mundo do trabalho, mudam as relações de solidariedade com a precarização e individualização das relações de trabalho, provocando competitividade entre explorados.
“Precisamos discutir, porque há um privilégio para um núcleo de trabalho criativo, científico e tecnológico, e uma massa sendo massacrada, aviltada e forçada a emigrar achando que vai encontrar condições melhores num outra situação precária qualquer”, defendeu.
Ele considera que uma revista como Princípios, que se propõe a “acolher, a qualificar, a intervir” no próprio debate acadêmico onde se faz esse estudos, para tentar construir ou reconstruir marcos teóricos que permitam entender e ter uma prática política transformadora e superar a lógica do capital, “é extremamente saudável e nos dá otimismo e estímulo para o trabalho intelectual que fazemos”.
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