A deputada federal Jandira Feghali (PCdoB-RJ) defendeu uma inversão no paradigma de debate sobre a vacina da Covid-19, frequentemente tratada pelo presidente Jair Bolsonaro (ex-PSL) como algo nocivo e desnecessário. Para ela, construir uma estratégia para a população confiar na vacina é decisivo pra todos que querem neutralizar os efeitos dramáticos da pandemia. “Bolsonaro gera na sociedade um comportamento distanciado desta descoberta da ciência tão importante, quando a retomada da própria economia depende da vacina”, disse ela, sem minimizar a importância das manifestações do governo para o sentimento da população sobre a pandemia e a vacinação.

As declarações foram feitas, na sexta (18), em live do Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé, que reuniu cerca de 40 comunicadores da mídia alternativa para o debate “Vacina Já! Como reforçar essa campanha?”. O bate papo de jornalistas ocorreu também o médico infectologista Marcos Boulos, a deputada federal Luiza Erundina (PSOL-SP) e com o deputado federal e ex-ministro da Saúde, Alexandre Padilha.

Conversa de comunicadores discutiu campanha de vacinação contra a Covid-19
O debate teve o objetivo de articular uma campanha conjunta do campo progressista para combater a desinformação e fake news que prejudicam a aceitação da vacinação pela população brasileira, devido ao desestímulo promovido pelo presidente Jair Bolsonaro e seu ministro da Saúde, Eduardo Pazuello.

Jandira considera importante reunir comunicadores para discutir como sair dessa situação, em que governos transformaram algo que pode ser uma solução, “daqui a pouco”, em disputa política, negacionismo e oportunismo. “A possibilidade de ter a vacina já é algo palpável. Estamos partindo de algo que nem sabíamos que podia ser tão rápido. Por isso, precisamos criar uma campanha que seja oposta à estratégia do governo”, defendeu.

Como desmerecer uma das maiores descobertas da ciência

Para a parlamentar, os efeitos da pandemia têm duas faces. Expôs de forma dramática a desigualdade no Brasil. “Vemos todos os partidos falando bem do SUS (Sistema Único de Saúde). Até então, o embate era entre quem defendia o SUS e quem queria privatizar. Agora, a estrutura do estado se consolida como fundamental patrimônio dos brasileiros e dos direitos humanos”, celebrou.

Mas a pandemia também revelou “quão obscuro é nosso governo”. O presidente continua minimizando a pandemia, desde o início até estes quase 200 mil mortos. “Dizia que defender a vida era acabar com a economia, quando as medidas deviam ser sinérgicas e simultâneas. Desacreditou protocolos de prevenção, defendeu a culpabilidade da China, fez um alinhamento aos EUA em todas as críticas, agora desacredita as vacinas e a politiza com um confronto político eleitoral”, pontuou.

Outras medidas irresponsáveis do governo que distanciam o brasileiro comum da vacinação e da ciência, é que o presidente enfatiza que não vai tomar vacina, que vai gerar um absurdo termo de consentimento de que a pessoa precisa se responsabilizar por “eventuais efeitos colaterais”, tirando a responsabilidade do estado e da Anvisa.

A gravidade disso, segundo ela, se expõe na pesquisa que mostra a resistência da população brasileira à “vacina chinesa” (a Coronavac, desenvolvida pelo Instituto Butantan) e a adesão às vacinas americanas, que terão que ser importadas caras e que dificilmente os brasileiros terão acesso. As vacinas da Pfizer e da Moderna são tecnologias inovadoras e avançadas, financiadas por fundos americanos que provavelmente comprarão tudo que for produzido para seu país. Também são vacinas que demandam logística de armazenamento pouco disponível no Brasil.

“Somos reféns da face mais obscura da extrema-direita, expressão do capital financeiro”, resume. Ela qualificou de inócuo o Plano Nacional de Imunização apresentado pelo governo, com assinaturas falsas, e que, depois de pressão social e parlamentar, “melhorou um pouco, mas com pecados”. “Ainda é um plano que não garante toda a população vacinada, não incorporava todas as vacinas, não é claro na logística interfederativa, e as seringas continuam sendo um problema, pois a primeira encomenda vai ser feita agora”.

Comunicação afirmativa

A deputada defendeu para os comunicadores que é preciso construir uma estratégia para a população confiar na vacina. Para isso, ela sugere uma campanha positiva, afirmativa, solidária e emotiva. Isso aliado a medidas restritivas para quem não se vacinar, para colocar as pessoas no rumo da vacina. Ela observou que  Suprema Corte tem enfatizado estas medidas ao defender a obrigatoriedade da imunização.

Ela acredita que as mídias progressistas precisam reunir depoimentos de formadores de opinião dizendo “eu quero a vacina”. “Mas precisamos colocar uma campanha de empatia, um sentimento contrário ao ‘não vou me vacinar’. Mostrar que, sem vacina, só há sofrimento”, salientou.

Para ela, é preciso desvincular efeitos colaterais da vacina, por serem frequentemente usados para estratégias de desinformação, quando na maioria das vezes não estão relacionados com a vacina. “A vacina precisa estar vinculada com abraço, com encontro, com afeto. A marca da campanha tem que ser o abraço, o oposto da morte. Netos abraçando avô, reencontro, sala-de-aula, indo às ruas, campanha de leveza, de sorriso, de alegria, de trabalho, do pulsar da vida”, sugeriu.