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Princípios 160: Pandemia de covid-19: desafio à humanidade

3 de fevereiro de 2021

Publicada pela Editora Anita Garibaldi, a revista Princípios (Qualis A3) é o periódico científico marxista mais antigo do Brasil. (ISSN:1415-7888; E-ISSN: 2675-6609)

O ano de 2020 será lembrado para sempre pela pandemia causada por um novo tipo de coronavírus, cuja ampla disseminação fez com que mais de 80 milhões de pessoas em todo o mundo — até o momento em que este editorial é escrito — tenham contraído a doença respiratória denominada covid-19 (coronavirus disease 2019). Deste total, mais de 2 milhões de pessoas em todo o mundo já perderam a vida. No Brasil, até o momento, foram mais de 7 milhões de infectados e aproximadamente 190 mil vidas perdidas. Uma tragédia que entrará para a história.

Clique aqui para conferir os últimos números da revista Princípios.

O grau de contaminação e letalidade do vírus levou a que organizações como a OMS e governos de quase todos os países tomassem medidas enérgicas para deter o contágio e salvar vidas. A mais importante delas foi o isolamento social. Pessoas foram orientadas a permanecer em suas casas, suspendendo atividades presenciais em locais de trabalho e estudo, com consequências importantes em todos os âmbitos da vida das pessoas e na economia dos países. Medidas como a testagem em massa de indivíduos, o fechamento de fronteiras, o esvaziamento de pontos turísticos e a construção de hospitais de campanha, entre outras, foram empregadas em graus e de maneiras diversas.

Nesse processo, distintos governos adotaram posturas diferenciadas seja no que tange à interpretação da gravidade da crise, seja no que respeita às medidas sanitárias pertinentes. Algumas abordagens mais economicistas enfatizaram a manutenção das atividades regulares, mesmo com os riscos envolvidos; outras deram prioridade à saúde da população. Quando analisamos o posicionamento das duas maiores potências globais, constatamos que China e Estados Unidos assumiram atitudes diametralmente opostas no enfrentamento à pandemia, obtendo também resultados bastante distintos.

Em função das proporções que assumiu, a crise pandêmica tornou-se tema central das eleições americanas, em que duas visões diferenciadas se confrontaram. De um lado, o candidato vencedor, Joe Biden, defendeu a priorização das medidas de proteção à saúde das pessoas; de outro, o atual presidente, Donald Trump, colocou-se como principal defensor da primazia do sistema econômico sobre o cuidado com as pessoas.

O mesmo embate ocorreu no Brasil, país em que Jair Bolsonaro, aliado de primeira hora do presidente dos Estados Unidos, chegou a caracterizar a covid-19 como uma “gripezinha”. Seu governo, além de desestimular iniciativas de proteção à saúde da população, lavou as mãos diante do avanço da pandemia, abrindo mão de adotar medidas de combate aos efeitos negativos da crise sobre o emprego, a educação e outras áreas.

Foram diversas as ações e pronunciamentos do presidente da República que chocaram não só os brasileiros, mas o mundo inteiro, com grande repercussão na mídia e nos organismos internacionais. À medida que a crise se desenrolava, o presidente exonerou dois ministros da Saúde por discordar das medidas de proteção à população e do fortalecimento do Sistema Único de Saúde (SUS). Mais recentemente, deu seguidas declarações contra testes e produção de vacinas, em tentativa de politizar e ideologizar artificialmente a questão.

A par das questões de saúde acima referidas, as pessoas em todo o mundo sofrem com as consequências do isolamento social e da suspensão de atividades econômicas. No Brasil — como em outros países — foi necessário destinar um auxílio emergencial para aqueles que ficaram sem qualquer fonte de renda. O auxílio sustentou famílias e aqueceu a economia nos rincões mais pobres do país, o que fez aumentar a popularidade do presidente, apesar de sua política negacionista em reação à pandemia e de seu boicote às iniciativas e orientações de cientistas e da OMS.

Vista de conjunto, essa situação traz repercussões que, em sua totalidade, apenas começam a ser avaliadas. Cientistas das mais diversas áreas do conhecimento hoje se debruçam sobre os problemas colocados pela pandemia, buscando explicações, desenvolvendo tecnologias e práticas, promovendo reflexões políticas e filosóficas sobre diferentes aspectos da vida social e econômica que emerge da crise sanitária. Para além dos saberes científicos sobre o próprio vírus, que envolvem as medidas para interromper sua propagação — incluindo a busca por vacinas —, são realizadas reflexões sobre a saúde física e mental da população isolada, principalmente das camadas mais vulneráveis como idosos, mulheres, jovens, populações pobres, negras e em situação de risco, entre outros segmentos afetados não só pelo contágio da doença, mas também pelas restrições de contato e pelo fechamento de escolas, estabelecimentos comerciais, lugares turísticos etc.

O fechamento de instituições educacionais e a larga utilização do ensino a distância, ou apenas remoto, tem efeitos não só sobre a educação dos alunos, mas também sobre o aprofundamento das desigualdades entre os que dispõem e os que não dispõem de acesso às tecnologias, lugar adequado, auxílio de adultos e material escolar.

Além desses fatores, não são ainda conhecidos os efeitos da falta de contato com colegas e amigos no desenvolvimento social e cognitivo de jovens, crianças e adolescentes.

No Brasil, os efeitos sobre a economia nacional já se mostram graves, e nenhuma proposta viável de recuperação foi apresentada pelo governo. Essa situação gera incertezas sobre empregos, futuro das empresas e dos negócios em geral. Incertezas que se associam às preocupações com o desmonte do Estado, incluindo o cancelamento de várias políticas públicas, com resultados deletérios sobre a educação, a saúde, os direitos trabalhistas, indicando um aprofundamento da crise econômica, política e sanitária nos próximos meses.

A revista Princípios considerou importante e tomou para si a tarefa de refletir sobre as múltiplas repercussões da crise sanitária. A pandemia desatou debates que mobilizam abordagens de diversas áreas: não só das ciências da saúde, mas também da Economia, da Educação, da Sociologia, da Psicologia, da Filosofia, da Comunicação e de muitas outras. Mesmo que a crise se mostre, neste momento, ainda distante de seu desfecho, é necessário refletir desde já sobre um fenômeno cujas marcas se farão sentir por muitas gerações.

A fim de fomentar essa reflexão sobre as possíveis consequências da pandemia nas mais diversas esferas da vida e nos diferentes grupos sociais, Princípios apresenta o dossiê “O mundo pós-covid”. Ele reúne um conjunto de estudos com o fito não tanto de obter respostas definitivas, mas de ao menos colocar as questões certas sobre este grave momento histórico que vivenciamos e suas reverberações para o futuro da humanidade.

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Com esta edição, Princípios chega ao segundo número produzido sob um novo projeto editorial, com novas formas de seleção e avaliação dos textos, agora submetidos a peer review. Há duas chamadas de artigos em vigência: a do dossiê “metamorfoses do poder político” — previsto para março de 2021 — e a do dossiê “O Iseb e o desenvolvimento nacional” — previsto para julho do mesmo ano.

Ambas as chamadas podem ser conferidas no OJS da revista, no endereço https://revistaprincipios.emnuvens.com.br/principios. Aproveitamos para solicitar, junto à nossa comunidade de colaboradores e leitores, que divulguem junto a seus pares não apenas esta edição da revista e as anteriores, mas também as chamadas de artigos para as edições vindouras.

A Comissão Editorial.