Princípios 161: O poder em mutação
Publicada pela Editora Anita Garibaldi, a revista Princípios é o periódico científico marxista mais antigo do Brasil.
Acaba de ser lançada a nova edição da revista Princípios 161
Em seu desenvolvimento, o capitalismo passa por inúmeras transformações no plano econômico. Tão ou mais dinâmicas são as mudanças políticas e ideológicas que o singularizam em sua forma financeirizada atual. As últimas décadas têm sido pródigas em sinalizar a incorporação, pelo sistema, de novos institutos, práticas e modos de funcionamento, que tornam ainda mais complexa a dimensão que o marxismo clássico chamou de superestrutural.
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A virada do milênio havia trazido mais dúvidas do que certezas. Distintamente do início dos anos 1990, quando pontificaram os postulados peremptórios do pensamento único – entre eles o de um suposto “fim da história” –, o que se viu no início do novo século não foi um campo aberto e desimpedido para a implementação do chamado Consenso de Washington. Já em 1998 a vitória de Hugo Chávez na Venezuela representou uma primeira contestação à ortodoxia neoliberal. Outras viriam no Brasil, no Uruguai, na Bolívia, na Argentina, no Equador, no Paraguai e em outros países. A despeito de suas distintas fenomenologias, todas essas experiências tinham ideias e projetos convergentes, que rechaçavam a ausência de alternativas e propunham novos modelos de desenvolvimento soberano e democrático, comprometidos com a valorização do trabalho e o combate às injustiças sociais.
A reação a esses projetos não tardaria a vir. Presenciamos, no período mais recente, o recrudescimento do neoliberalismo. Ideias gastas ressurgem sob novas vestes políticas e ideológicas — seja no Novo, seja no Velho Mundo. Essa reconfiguração tem sido alvo da reflexão de cientistas sociais das mais diversas áreas. Eles identificam e buscam compreender fenômenos como a atualidade do imperialismo (em oposição a uma noção anódina de “globalização” que assolou o meio acadêmico nos anos 1990); o estatismo autoritário e as novas formas de Estado de exceção, entre elas o que tem sido chamado de neofascismo; as mutações nos instrumentos da ação política, incluindo partidos e movimentos sociais; os inéditos modelos táticos e abordagens padrão fundados no uso de técnicas ideológicas, psicológicas e informacionais, a exemplo daqueles que hoje se veem codificados em termos como guerras híbridas, golpes brancos e revoluções coloridas.
Essa realidade inclui novos campos de conflito e resistência que reconfiguram seja o campo dos instrumentos de ação política e coerção estatal, seja a esfera da fabricação de consensos e liderança pelo discurso. Vivemos um tempo de metamorfoses nas instituições e gramáticas do poder. O caudal marxista — que nasce no século XIX e atravessa o século seguinte, chegando ao momento presente como teoria viva e atual — tem muito a dizer sobre este novo momento e suas tendências inéditas. É o que mostram os textos reunidos nesta edição de Princípios. Por meio deles, a revista dá vazão àquela que é uma das diretrizes de seu novo projeto editorial: promover um “acerto de contas” com o(s) marxismo(s) das gerações mais recentes, sempre em diálogo com os grandes temas da atualidade — que incluem, com destaque, os fenômenos do capitalismo contemporâneo.
É assim que, como verá o leitor, os textos desta edição detalham e aplicam a problemas da atualidade as contribuições de autores como Althusser, Adorno, Gramsci e Poulantzas, entre outros — alguns deles mais contemporâneos — que contribuíram, ao longo das últimas décadas, para o desenvolvimento e a renovação da teoria marxista. Os artigos aqui publicados revisitam conceitos caros a essa tradição de pensamento, como os de Estado, ideologia e hegemonia, e se debruçam sobre o entendimento de fenômenos como o fascismo — que, hoje o constatamos, está longe se ser objeto circunscrito ao século XX —, bem como sobre as novas formas de controle e repressão do Estado capitalista (incluindo sua forma democrática liberal), as crises dos partidos tradicionais (incluindo os de esquerda), a emergência de novos atores e movimentos e as novas táticas por meio das quais a agenda neoliberal impõe sua hegemonia.
O dossiê Metamorfoses do poder político reúne os resultados de pesquisas e reflexões teóricas inéditas que contribuem para o conhecimento das novas tendências e formas de exercício do poder político no âmbito de sociedades do capitalismo avançado. As reflexões perfazem tanto o diagnóstico da situação atual quanto os cenários emergentes. Reconhecendo neste um objeto complexo, com interfaces em diferentes campos do saber, o dossiê reúne contribuições de distintas áreas, especialmente Ciência Política, Sociologia, Filosofia, História e Economia, a fim de compor um quadro multifacetado sobre o tema das mutações por que passa a política neste primeiro quarto do século XXI.
A edição traz ainda artigos e ensaios que abordam temáticas relacionadas à educação, à conjuntura política e à elaboração de políticas públicas em áreas como habitação, inovação e geração de emprego e renda. Uma resenha sobre o livro Pensamento nacional-desenvolvimentista, organizado por Nilson Araújo de Sousa e Rosanita Campos, além de indicações de leituras, fecham esta edição de Princípios, a terceira sob um novo projeto editorial — um passo a mais no esforço de consolidação da revista no cenário editorial como periódico científico multidisciplinar, de orientação marxista, que busca o avanço do conhecimento e da compreensão sobre o socialismo e o desenvolvimento nacional.
Boa leitura!
A Comissão Editorial.