Quem abriu os debates foi Alexandre Navarro, vice-presidente da Fundação João Mangabeira, que em sua fala, trouxe à tona os vários desafios que o governo federal enfrentou, sem sucesso, ao longo do ano. Além da crise sanitária e humanitária, causada pela Covid-19, Navarro citou a falta de empatia e competência do governo e seus ministros. “Não tiveram atitudes que pudessem preservar a vida, e essas pessoas que causaram danos dolosos devem responder futuramente suas ações no Tribunal de Haia”, enfatizou. Sobre a democracia no país, Navarro disse que está suprimida e com várias insinuações de modificação do sistema. Para o futuro, ele citou o desemprego e os desalentados, aqueles que perderam a esperança e nem saem mais à procura de trabalho e prevê um 2022 muito difícil, com inflação em alta e economia estagnada, apontando os danos irreparáveis, se nada for feito hoje sobre a questão climática brasileira, principalmente na Amazônia. “Cinco graus a mais podem transformar a floresta em uma savana brasileira”.

Caetano Araújo iniciou sua fala dizendo que não é nada animador fazer um balanço de 2021. Para ele, um dos pontos positivos foi a CPI da Covid, que revelou os erros, as mazelas e a total incompetência do governo na condução da pandemia. “A partir da divulgação dessas informações, a aprovação do governo começou a cair e esperamos que se mantenha assim”, disse. Segundo Caetano, o não impeachment de Bolsonaro terá um alto custo para a sociedade e a democracia. Para ele, o Congresso será o grande responsável por isso e a população não mais confiará nas instituições democráticas. “Eu não estou vendo por parte de quem se apresenta como candidato o posicionamento contra Bolsonaro no segundo turno e isso é grave. A oposição precisa deixar claro que é contra ele e seu governo agora”, declarou Caetano.

Jovino Cândido, relatou a sua experiência na época na ditadura, quando combateu figuras como o presidente e suas ideologias. Ele destacou que esse governo nos fez doentes e infelizmente alguns, inclusive de seu partido, o Partido Verde, ainda não acordaram. “O Congresso Nacional continua a dever à nação brasileira um outro jeitinho de ver a vida e de olhar o que virá para a frente”. A expectativa de Jovino é que o povo brasileiro, a classe política e todos que desejam um país melhor lutem, se mobilizem a tempo de corrigir o que aí está. “O Bolsonaro nos fez um favor gigante de acordarmos para uma realidade brutal de um desejo terrível de desconstruir a história, tentando nos rotular como terroristas lá trás. Os terroristas verdadeiros foram os golpistas e é preciso corrigir isso”, lamentou. E fez um alerta sobre a possibilidade de o Congresso, de uma forma sólida e perigosa, fazer algo para destruir a democracia. “É preciso observarmos isso”.

Renata Mielli começou sua fala agradecendo a oportunidade e a criação do Observatório da Democracia, que visa à defesa da vida, do Brasil e da democracia e que é preciso se fortalecer a cada dia para promover a derrota do governo Jair Bolsonaro. Segundo ela, as tarefas democráticas foram interrompidas de forma abrupta, desestabilizando e comprometendo a construção da democracia. “Esse governo mergulhou o país em uma profunda crise econômica e social e é o responsável pela morte de mais de 600 mil brasileiros. É um governo que tem promovido um desmonte do estado nacional, que se coloca internacionalmente subserviente, com uma política econômica que aumenta a desigualdade”, ponderou Renata. Para ela, a tragédia social causada por esse governo é vista cotidianamente nas ruas, praças e avenidas, com famílias vivendo em situação de rua, se alimentando do lixo ou comprando ossos, junto com o desmonte dos serviços brasileiros, como educação, saúde, tecnologia e ambiental, que se agravou ainda mais com a pandemia. E finalizou: “Esse é o momento de buscarmos nossos pontos de convergência, procurando o que nos unifica para combater o grande mal que tomou conta do nosso país”.

José Fortunati encerrou o debate com a constatação do agravamento da crise econômica e do desemprego gerados pela pandemia, bem como a queda da renda média do brasileiro e o aumento da miséria e da fome. Ele destacou a crise da educação, frisando que nas escolas públicas não houve acompanhamento online de atividades e que isso pode levar a atrasos no aprendizado e uma evasão escolar jamais vista, que terá repercussão por muitos e muitos anos. “Será bem difícil o Brasil retomar. É um golpe invisível e nos próximos dez, quinze anos o Brasil estará pagando por esse problema na educação”, afirmou Fortunati. Olhando o copo meio cheio, como se referiu às boas notícias do período, ele fala sobre a eficácia das vacinas e que o movimento antivacina no Brasil fracassou. A segunda questão a se comemorar é a importância do SUS – Sistema Único de Saúde e sua eficácia. E a terceira é a solidariedade, que voltou a aflorar entre os brasileiros. “Estamos vivendo uma sociedade individualista, que cada vez mais cultua o ganho e o sucesso pessoal e que durante a pandemia teve um resgate de movimentos sociais que fizeram a diferença na vida das pessoas”. Ele destacou também sobre a postura das forças armadas, contrária ao idealismo do presidente e ao seu discurso golpista. “Tenho convicção que se Bolsonaro não avançou no rompimento institucional foi porque tivemos dentro das forças armadas um entendimento de que a manutenção do estado democrático de direito deveria ser mantido.