Será iminente um conflito entre Rússia e Ucrânia?
Nas últimas duas semanas pelo menos, o que mais se fala na imprensa nacional e internacional é sobre a iminência da Rússia invadir a Ucrânia – que um dia já foi Rússia. “Analistas” e “comentaristas” internacionais são enfáticos em afirmar que a “invasão” é questão de horas ou dias. Para esclarecer os fatos e defender a verdade, escrevo este novo e pequeno ensaio sobre a questão
A história do conflito
A Ucrânia não existia enquanto país historicamente. Sua capital, Kiev, era uma espécie de capital do Império Russo. Antes da União Soviética, eram 15 países republicanos e socialistas, que se juntaram todos em uma união – União das Repúblicas Socialistas Soviéticas-URSS.
A principal, certamente, era a Rússia e as outras, menores: Armênia, Azerbaijão, Belarus, Cazaquistão, Estônia, Geórgia, Letônia, Lituânia, Moldávia, Quirguistão, Tadjiquistão, Turcomenistão, Ucrânia e Uzbequistão.
Quando a URSS acabou oficialmente, em 26 de dezembro de 1991, dois anos antes, em 1989, o mundo tremeu muito. Em 1989 caiu o Muro de Berlim, e com ele, todo o chamado Leste Europeu: Bulgária, Tchecoslováquia (hoje República Tcheca e Eslovênia), Hungria, Polônia, Romênia, Iugoslávia, (transformou-se em sete países).
O coveiro do socialismo, nós dizemos que foi Mikhail Gorbatchov, o queridinho do Ocidente, com a sua Glasnost e a Perestroika.
Em 1978, toma posse o papa João Paulo II (Karol Józef Wojtyla, 1920-2005), polonês, grande anticomunista. Em 1979, toma posse como primeira-ministra da Inglaterra, Margareth Thatcher, também ela uma ferrenha anticomunista.
Nesses 10 anos, entre 1979 e 1989, os EUA financiam a tal da guerrilha jihadista no Afeganistão, que lutava contra a presença soviética, que se deu por solicitação do governo afegão. Não foi uma decisão unilateral de invadir. A União Soviética não é um país imperialista e, muito menos, a China, como afirma inclusive parte da nossa “esquerda”.
Esta foi a única extrapolação de fronteiras que aconteceu com a URSS, e só o fez a pedido do governo do Afeganistão, que era progressista. É certo, que a URSS apoiava os movimentos populares e revolucionários em todo o mundo. Isto é uma exportação das ideias e não uma exportação física, com tropas que ocupavam outros países.
Quando a URSS exportava ideias, era alguma coisa parecida com aquilo que fazem os cristãos, que são evangelizadores. Eles propagam as ideias de Cristo: “Ide pelo mundo e pregai o Evangelho a toda criatura” (Mc 16,15-20).
E, não apenas a Igreja católica, mas todas as igrejas protestantes tradicionais exportam suas ideias e ideologias. Sendo que alguns aplicam o lado progressista e outros, o lado conservador do evangelho.
Sobre a Ucrânia
A Ucrânia é considerada um país europeu, da Europa chamada de “Oriental”. Faz fronteira com a própria Rússia, Belarus (ou Bielorrússia), Polônia, Eslováquia e Hungria, todos ex-repúblicas soviéticas ou países do bloco socialista do leste europeu.
Em termos de tamanho, é o 43º país e o 32º em população, com apenas 42 milhões de habitantes sem contar a Crimeia (que tem oito milhões). Possui um sistema de governo chamado de semipresidencialista. Seu atual presidente é Vladimir Zemlinsky e seu Primeiro Ministro é Denys Shmygal.
É a região que deu origem à etnia dos eslavos na Europa Oriental. Nunca em toda a sua centenária história mais recente se constituiu antes de 1922, um governo propriamente “ucraniano”. O país estava sob controle do reino da Polônia até o início da revolução russa de 1917, quando começam a aflorar os movimentos nacionalistas ucranianos, sob a liderança dos comunistas. Esse movimento emancipacionista era armado, e defendia a criação do país, que não existia enquanto tal.
Em 18 de março de 1921 é assinado a chamada Paz de Riga, que garantiu a paz entre o reino da Polônia e a Rússia soviética, com a Ucrânia já caminhando para ser soviética também. Isso foi uma espécie de independência da região do reino da Polônia. Mas, de alguma forma, isso dividia a nação ucraniana.
Lênin cria a União das Repúblicas Soviéticas Socialista – URSS, em 1922. A Ucrânia, já soviética e dirigida pelos comunistas, decide aderir e passa a ser chamada de República Soviética Socialista da Ucrânia.
É preciso registrar que durante a segunda Guerra Mundial, parte da população ucraniana lutou contra a URSS e defendeu a invasão nazista da Rússia. Com a chegada dos nazistas na chamada Ucrânia Ocidental, estes foram recebidos como herois e libertadores (SIC).
A Ucrânia surgiu pouco antes da morte de Lênin, em janeiro de 1924. Lenin intercedeu pela criação da Ucrânia como uma república soviética. Antes, ela pertencia à Rússia. A segunda língua mais falada no país é o russo. Eles têm sua língua e dialeto local, mas todos falam russo. O fim da Ucrânia Soviética é decretado em 24 de setembro de 1991 e sua independência é reconhecida em 25 de dezembro, desse mesmo ano, data em que acaba também a URSS.
O período mais recente da Ucrânia
No ano de 2004, o país foi palco da segunda “revolução colorida”, chamada de Laranja (a primeira ocorreu em 2003 na Geórgia, e a sua “cor” era a Rosa). Isso vai ocorrer em função da contestação dos resultados da vitória eleitoral de Viktor Yanukovych, que era simpático à Rússia e a Putin. Ele foi impedido de tomar posse e assumiram o comando do país duas pessoas completamente subordinadas ao imperialismo, que foram Viktor Yushchenko e Yulia Tymochenko.
Yanukovych fica na oposição, mas vence as eleições em 2010 e passa a governar o país, até 2014. A partir de novembro de 2013, um movimento que levou o nome de Euromaidan, que começa em 21 de novembro de 2013, exigia maior integração da Ucrânia à União Europeia e afastamento da Rússia. É importante lembrar que nesse mesmo ano, em junho, o Brasil foi abalado por manifestações que ficaram conhecidas como “Jornadas de Junho”.
Tais protestos se intensificaram a partir de janeiro de 2014 e ganharam corpo mesmo entre os dias 18 e 20 de fevereiro, desse ano de 2014. No total foram registrados 98 mortos e milhares de feridos e presos. No dia 22 de fevereiro veio o golpe final contra o presidente eleito, Yanukovych, que foi destituído pelo parlamento ucraniano. Marcaram-se eleições diretas para 25 de maio e é eleito o bilionário ucraniano da indústria do chocolate Petro Poroshenko, completamente pró-EUA e União Europeia, e anti-Rússia.
Nesse mesmo período, inicia-se um amplo processo popular, de levantes armados separatistas, na região conhecida como Donbass, leste da Ucrânia, fronteira com a Rússia, onde a maioria da população é de etnia russa ou fala o russo. Eles defendem a separação da Ucrânia e a criação de um país independente, que passam a chamar de República Popular de Donetsk.
O parlamento da região autônoma da Crimeia aprova a separação da Ucrânia em 6 de março desse ano e um plebiscito popular realizado tem o apoio de 94% dos eleitores a favor de se desligarem da Ucrânia e voltarem a se ligar à Rússia. A imprensa burguesa ocidental insiste em dizer que houve uma “anexação da Crimeia” pela Rússia (sic).
Ou seja, o governo que ocupa hoje a Ucrânia, não é legítimo, é fruto de um golpe dado em 2014. É um governo traidor da pátria, da Rússia, dos ucranianos que falam russo e não são amigos da Rússia. O país vive quase uma guerra civil hoje, para poder fazer valer a concepção do governo atual, que é nazista. Vários de seu dirigentes têm a suástica de Hitler tatuada no braço. E, é isso que os Estados Unidos apoiam, para que eles sejam anti-Rússia, enfraquecerem ao máximo a Rússia e, se possível, pretendem derrubar Vladimir Putin.
Desde 1991, quando acabou a URSS, a Rússia vive um cerco pela Ordem do Tratado do Atlântico Norte-Otan. A organização foi fundada em abril de 1949, e o ato de fundação foi entre Bélgica, França, Noruega, Canadá, Islândia, Países Baixos, Dinamarca, Portugal, Itália, Estados Unidos, Luxemburgo e Reino Unido, em uma aliança muito localizada, para defender esses países de uma possível invasão da União Soviética, que jamais aconteceria. Mas, eles precisam trabalhar com o imaginário popular. Os Estados Unidos entraram depois na Otan, mas eles apoiaram a sua criação. Hoje chegou à sua formação máxima, com 30 países membros e várias ex-repúblicas soviéticas.
Desta forma, quando acaba a União Soviética, eles têm que criar um novo inimigo imaginário para justificar o ganho das indústrias bélicas, armamentistas. Então, quando estava quase acabando todo o bloco socialista – 1989-1991, os EUA eram governados, já em segundo mandato, por Ronald Regan, reeleito em 1984 e passou o governo para o Bush (pai), em 1989.
Então, Ronald Regan começa a ter encontros com Gorbatchov. E há uma série de compromissos que uns falam que eram assinados, outros, que eram verbais. Quais eram os compromissos? O mais importante deles é que a Otan jamais se expandiria para as fronteiras russas.
Terminada a URSS, a Rússia, que era a maior república, mas houve um encolhimento fenomenal de seu PIB, talvez reduzido a 40% do valor histórico. Por que? Porque era um PIB de 15 países e passou a ser PIB de um único país, a Rússia.
Começou a pauperização, a concentração de renda, as centenas ou milhares de empresas que eram estatais, foram entregues para a iniciativa privada. E, o país passou a ser dirigido por um alcoólatra, Boris Yeltsin (1931-2007) que era um agente da CIA, um preposto dos Estados Unidos no comando daquele país. Ele tramava por dentro para derrubar Gorbatchov que já era um traidor do socialismo. Assim, de 1991 até 1999, durante oito longos anos, a Rússia foi dirigida por este agente da CIA.
Em 1999, Vladimir Putin assume o comando da nação e, há 23 anos, ele está no comando. Saiu um período da presidência, virou primeiro-ministro, houve uma inversão de poder em alguns momentos. Hoje, ele é o comandante plenipotenciário incontestável e, pela nova Constituição, ele poderá governar até 2036.
Vladimir Putin tem seu lado positivo, tem seu lado polêmico, também. A esquerda identitária brasileira, por exemplo, o avalia como sendo homofóbico, de forma que lhes faz oposição, interna na Rússia e em todo o mundo. Eles não valorizam o papel anti-imperialista que Putin joga no mundo hoje. É essa parte da esquerda que trama junto com os Estados Unidos para derrubá-lo.
Haverá eleições na Rússia em 2023. Tem um agente da CIA, chamado Alexei Navalny, que está preso por corrupção, que seria o sonho dos estadunidenses para substituir Putin pelas eleições. Isto jamais acontecerá.
Não sei se essa parte da esquerda faz isto por ingenuidade ou por consciência. É como se dissessem: “eu quero o imperialismo tomando conta da Rússia”. Como disseram no Afeganistão, nos 20 anos que os EUA ocuparam aquele país, com seus soldados estuprando as afegãs. Para essa gente, naquele tempo é que era bom, tudo era uma maravilha. Eles dizem “coitadas das mulheres afegãs”, como se elas precisassem da tutela do ocidente para a luta que elas travam.
Tudo interligado. Há uma coerência nesse raciocínio e análise geopolítica que parte da esquerda faz. Temos que conviver com isto, enfrentando e combatendo os maiores conglomerados midiáticos do mundo e ainda dentro de nosso próprio campo, com nossas pequeninas televisões alternativas. Mas, mesmo dentro de nossas próprias televisões, está cheio de gente que pensa assim e torcem pelos Estados Unidos.
Bill Clinton ganhou a eleição em novembro de 1992. Bush (pai) tentou se reeleger e perdeu. E aí o Clinton ganhou e quatro anos depois foi reeleito. Então, ele toma posse em 10 janeiro de 1993. O novo presidente já tinha também assinado alguns compromissos com Boris Yeltsin e, mesmo sendo traidor, havia um compromisso expresso de que a Otan não estenderia para as fronteiras da Rússia.
A Otan
Feita essa introdução, quero falar sobre a Otan. Em julho de 1955, portanto, seis anos e quatro meses depois da criação da Otan, o bloco do Leste Europeu, que alguns chamavam de bloco socialista, ou área de influência da União Soviética etc. fundou o chamado “Pacto de Varsóvia”, uma aliança militar defensiva integrada pela URSS e pelos países do leste europeu que eram socialistas.
Lembro que Stálin morreu em 1953. Julho de 1955, antes do fatídico 20º Congresso do Partido Comunista da União Soviética de 1956, portanto, ainda não havia uma desestalinização da União Soviética. E, parte dessa nossa esquerda, faz coro com a burguesia que odeia o camarada Joseph Stalin, o comandante do Exército Vermelho, e o grande vitorioso da Segunda Guerra.
O Ocidente não ganhou a guerra. E por falar em Segunda Guerra, há tempos eu venho relembrando as três reuniões dos três grandes da época que eram Stálin, da URSS, Roosevelt dos EUA e Churchill, da Inglaterra. Eles se encontraram três vezes: duas antes do final da guerra e uma vez depois do final da guerra, em julho de 1945, já dentro da Alemanha, na cidade de Potsdam, próximo à Berlim.
Eu tenho usado o exemplo desses encontros para justificar e defender a Frente Ampla que estamos formando para eleger o presidente Lula em outubro de 2022. Uma Frente que congrega setores de centro, centro-direita, que são os democráticos e, se possível, toda a esquerda. Mas, eleger o presidente é a tarefa, por assim dizer, mais fácil. O difícil será garantir a governabilidade, um governo de salvação nacional.
Entendam que isso é completamente diferente de um governo de União Nacional, onde todos estariam nesse governo. Será um governo daqueles que defendem salvar o Brasil e desmontar todas as maldades feitas por esse fascista que nos desgoverna. O maior desafio será termos entre 257 e 308 deputados, eleitos na base de apoio ao presidente Lula.
No caso ainda da Segunda Guerra Mundial, o Ocidente sabia que não venceria sozinho, pela tecnologia, pelo poder econômico e pelo número de soldados. Não tinha como desembarcar meio milhão de soldados na Normandia, pelo Canal da Mancha. Hitler tinha quatro milhões de soldados em todas as praias, estava tudo fortificado. Naquele dia do desembarque morreram 5,5 mil soldados.
Então, se não fosse o Leste europeu, com o Exército Vermelho, o Ocidente não venceria a guerra. Ou seja, se Hitler vencesse a União Soviética, ele fortificaria muito mais o paredão do Atlântico e não haveria desembarque. Mas, infelizmente, os livros de história não mencionam isso. A humanidade deve um tributo aos povos soviéticos das 15 repúblicas socialistas da URSS. Um dia isso será oficializado.
Mesmo a União Soviética tendo acabado, havia compromissos de que a Otan não se expandiria. A prova mais cabal disso é a chamada Ata de Cooperação Rússia-Otan-EUA, de 1997, quando (des)governava a Rússia o agente da CIA Bóris Yeltsin e os EUA, Bill Clinton. Havia o claro compromisso nessa ata que a Otan jamais se expandiria ao Leste europeu e que uma ex-República soviética integraria a Aliança Atlântica.
O Pacto de Varsóvia, que surgiu em julho de 1955, acabou em julho de 1991. Já não tinha mais sentido ele existir. Tampouco tinha sentido a continuidade da existência da Otan. O Pacto de Varsóvia acabou antes mesmo da União Soviética, que acabou em dezembro daquele fatídico ano.
O fim da URSS foi uma derrota para os povos do mundo inteiro, um retrocesso para a humanidade. Mas, estamos recuperando, a despeito desses setores da esquerda que não conseguem compreender o que está acontecendo no mundo hoje, que temos que nos unir contra o fascismo que está forte.
Então, a partir de 1997, havia esse compromisso da não expansão da Otan. No entanto, oito países do chamado campo socialista filiaram-se à Otan depois disso, a saber: Albânia, Croácia, Eslováquia, Hungria, Montenegro, Polônia, Romênia e Eslovênia, alguns deles eram do desmembramento da Iugoslávia e da Tchecoslováquia.
Quatro novos países ainda podem entrar, que são a própria Ucrânia, Geórgia (ex-repúblicas soviéticas) e mais a Suécia e a Finlândia. Hoje a Otan tem 30 países-membros. Três deles são emblemáticos, são ex-repúblicas soviéticas, da região do mar Báltico, por isso são chamados países bálticos: Estônia, Letônia e Lituânia.
A Ucrânia na Otan
Ucrânia e Geórgia fazem fronteira com a Rússia. Estes dois países querem entrar na Otan. A Rússia colocou as cartas na mesa e disse que esta é a linha vermelha que não poderá ser cruzada e haverá consequências graves se isso acontecer. O recado foi dado novamente dia 21 de janeiro, quando uma série de reuniões ocorreram na Europa para tratar do tema da Ucrânia, quando houve um encontro entre Lavrov e Blinken.
Nessa reunião a Rússia colocou na mesa as suas três grandes questões: 1. Contenção da expansão da Otan no Leste da Europa (em especial o não ingresso de Ucrânia, Geórgia, Suécia e Finlândia); 2. Não instalação de mísseis de ataque nas proximidades das fronteiras russas e 3. Retorno dos efetivos de infraestrutura militar da Otan ao nível de 1997.
No dia 26 de janeiro, o embaixador dos EUA na Rússia entregou um documento protocolar, formal e diplomático, junto ao ministério das Relações Exteriores da Rússia, com todas as respostas dos EUA e da Otan às três mais importantes questões russas. E foram unânimes: negaram todos os pleitos.
O mais estarrecedor de tudo isso, é que eles dizem assim: “olha, nós temos que respeitar a autonomia. a soberania e a independência da Ucrânia. Nós não podemos influenciar na decisão deles de entrar na Otan” (sic). É um contrassenso. Eles invadem, ocupam, colocam tropas, dão golpe e põem testa-de-ferro a serviço deles em dezenas de países em toda a história mais recente e agora vêm dizer que eles não podem dizer nada para a Ucrânia que é soberana. Quanta hipocrisia!
Isto é uma mentira e uma provocação que sinaliza a desastrosa política externa do governo de Joe Biden. Ele não está entendendo que o momento que vivemos no mundo seria de união dos mesmos três grandes da Segunda Guerra, que lutaram contra o fascismo. Biden elegeu o seu inimigo principal a ser destruído, a Rússia e a China, que lutam contra o terrorismo, contra o separatismo e contra qualquer tipo de extremismo.
Isso é uma demonstração do baixo nível de compreensão de Biden. Quem tem assistido as entrevistas que ele têm dado, tem visto que ele faz ameaças à Rússia. Fala na hipótese de a Rússia invadir a Ucrânia – hipótese inexistente na atualidade – e diz que os EUA tomarão medidas drásticas.
Mas, existe a possibilidade de a Rússia invadir a Ucrânia?
Primeiro, quero dizer que a maior mentira já contada no mundo e que praticamente todo mundo acredita, porque ela é repetida dezenas e dezenas de vezes, é a de que a Rússia “está na iminência de invadir a Ucrânia” (sic).
Podem entrevistar qualquer cidadão médio que assiste Globo, Record, SBT e Band, pergunta para ele se acha que a Rússia vai invadir a Ucrânia. Nove em cada 10 devem responder que sim. Analistas do “nosso campo”, jornalistas do “nosso campo”, afirmam a mesma coisa. A Rússia não quer invadir a Ucrânia, não precisa invadir a Ucrânia, não é o seu objetivo. Esta é a pior coisa que poderia acontecer.
Se a Ucrânia entrar para a Otan, a Rússia vai cruzar a fronteira. E, tem muita gente na Ucrânia, boa parte lá é russa ou fala russo e estão do lado da Rússia e acham o atual governo fascista. Eles não têm unanimidade. Tanto que na região de Donbass, eles decretaram a secessão, a autonomia e proclamaram a República de Donetsk.
São duas províncias que estão em guerra e tomaram o poder, expulsaram as tropas ucranianas. Antes eles queriam ir para a Rússia, agora eles querem ser um país independente, um novo país. O que vemos ali é a violação dos acordos de Minsk, conhecidos como Protocolos de Minsk, assinados em 5 de setembro de 2014, quando ocorreu um cessar fogo na região.
Conclusões
Os canais alternativos à mídia internacional tem dado excelente cobertura da situação tensa na fronteira russa-ucraniana. Eles falam de uma “cortina de fumaça” a propagação da mentira sobre a invasão exatamente para esconder que estão enviando armamentos para a Ucrânia. É isso que está acontecendo e, portanto, não devemos acreditar jamais que a Rússia prepara a invasão.
No entanto, isso não está descartado e ocorrerá se e quando a Ucrânia for aceita na Otan. Eu pessoalmente, acho que isso não vai acontecer. O Biden não vai pagar para ver. Por isso também estou seguro, por ora, que não teremos uma eclosão de uma guerra regional da Europa Oriental. Mas, tudo pode acontecer.
Há uma norma não escrita com relação à Otan, que países que vivem conflagrações internas, especialmente secessionistas, que é o caso que acontece na Geórgia, na Ossétia do Sul, e é o caso que acontece na região leste da Ucrânia, no oeste da Rússia, não podem ser admitidos na Organização.
Isso tem certa lógica porque se a Ucrânia entrar na Otan e pedir ajuda militar, a que lado do país eles vão socorrer. Ela vai mandar soldados para a República Popular de Donetsk ou para a Ucrânia? Por isso eu acho que eles não vão pagar para ver, não cruzarão a linha vermelha estabelecida pela Rússia. Por isso, que a hipótese de invasão russa é pequena, mas não é zero.
É preciso dizer ainda, finalmente, que as armas que são enviadas para a Ucrânia têm, muito provavelmente, o destino para dar combate aos lutadores da República Popular de Donetsk. Se a Ucrânia com seu exército cruzar a fronteira da região de Donbass, também aqui a Rússia se sentiria impelida a ocupar essa parte do território pelo menos, onde vivem milhares de russos étnicos.
Hoje, percebemos claramente um racha na União Europeia e mesmo na Otan. A agressão à Rússia, o seu certo por parte da Aliança Militar não é e jamais será consenso. Vários países discordam dessa política estadunidense, em especial Alemanha e França, que abriram dissidência contra os EUA, que já não tem a hegemonia que teve no passado.
A Alemanha, com seu novo governo social-democrata, negou autorização do uso do seu espaço aereo para que a Real Força Aerea da Inglaterra sobrevoasse seu país em direção à Ucrânia, para lá descarregar toneladas de armas e equipamentos militares. A França já se reuniu com Putin e a mesma coisa deve ocorrer com a Alemanha.
Um dos problemas que devem ser enfrentados é a crise energética na Europa, que vive o paradoxo de estar desativando todas as suas usinas nucleares, mas não tem energia suficiente para suprir o déficit decorrente dessa decisão. Nos rigorosos inversos europeus, como o que atualmente se vive, faz muita falta o gás russo, que custa apenas 20% do valor que a Europa paga da compra de outros países.
Se eu pudesse resumir em poucas linhas o que vimos presenciando no meio dessa tensão militar e política na região da Europa Oriental, eu diria que são as dores de um parto de uma nova era, uma nova Ordem Mundial, onde o mundo será muito mais multipolar e o hegemonismo estadunidense vai chegando ao fim. Vamos conferir.