Renato Rabelo: “uma vida que importa enormemente para o Brasil”
Brasileiros de todos os cantos saudaram os 80 anos do dirigente comunista, pelo conjunto de suas qualidades, que vão da ternura do amigo sincero à firmeza do combatente e ideólogo. Cada um falou daqueles pedaços de Renato que pode conhecer na vida. Os encontros de sentimentos revelam a coerência do líder destacado em seus 80 anos de formação do caráter comunista.
Foi uma feliz e emocionada fila de amigos, acompanhada de dezenas de mensagens por chat que lotaram a tela de palavras de carinho. A live de aniversário de 80 anos de Renato Rabelo acumulou elogios, admiração, muita gratidão e algumas lágrimas de saudade de tempos vividos juntos. Parece que foi fácil fazer poesia com a vida de Renato. Pelo menos dois inspirados poemas iluminaram o evento, enquanto outros sem rima ou métrica definida surgiam espontaneamente na felicidade de cada amigo de longa data.
Até quem conhece Renato dos encontros casuais e corridos da vida política, achou fácil dizer algo sincero e emotivo sobre ele. Afinal, suas palavras, conduta e direção são visíveis à distância, pela serenidade, concretude prática, pela coluna vertebral estruturada em décadas de combates experimentados. Pelo olhar paciente de quem sabe que tudo tem seu tempo, e um mundo melhor é uma conquista de gerações que ainda virão. Não há tempo para desespero, mas para confiar que as vitórias virão, a depender apenas da continuidade da luta. Essa é a inspiração perene de Renato a cada encontro com a militância.
Ele concluiu as comemorações agradecendo a cada depoimento, com a voz embargada da emoção de testemunhar sua grande conquista, que é a coletividade de quadros, militantes, amigos, família e aliados, falando em honra de seu aniversário. “O Partido Comunista do Brasil é a minha vida. Eu não posso compreender nada sem o coletivo. Essas muitas mensagens que recebi o dia todo são a maior conquista de toda a minha vida. Esse ato modesto em função da realidade que vivemos, pra mim é de uma grandiosidade que não tem limites”, disse.
Ao agradecer destacando a trajetória de cada pessoa que se pronunciou, Renato falou de Dilma e Lula. Para ele, o governo Dilma foi um período muito rico de ensinamentos. “Eu dizia que a história vai dizer qual foi o seu grande papel. Depois do golpe que tivemos, vimos isso nessa viragem anticivilizatoria que estamos vivendo.”
Para ele, Lula é o companheiro de grandes jornadas e travessias, desde o começo, em 1989. “Sempre estivemos ao lado dessa grande liderança popular; liderança de origem simples, mas inteligentíssimo, sagaz, e comprometido com os trabalhadores e nosso povo. Lula é essa capacidade e intuição. Por isso, um grande orgulho ele ter participado dessa comemoração”, afirmou.
E terminou destacando seu orgulho pelo apoio dado a sua sucessão por Luciana Santos, escolhida pelo coletivo. “Vi que a nossa camarada Luciana é muito dedicada e demonstrou uma grande confiança naquilo que eu estava propondo para ela. Não colocou obstáculo nenhum, e enfrentou com grande galhardia e coragem”.
Mas ele enfatizou durante todo o tempo seu orgulho com os quadros jovens formados na UJS e forjados na militância do PCdoB. “Tenho uma grande confiança nas novas gerações, como tive na Luciana. Tenho uma grande esperança e confiança. Por isso, não posso deixar de falar da Mel Gomes, que faleceu hoje. Que foi da secretaria de cultura da UNE. Uma mulher vibrante de grande capacidade. Quando soube, me veio com muita força o que essa juventude atual pode ser construtora, dando seguimento a todo esse trabalho feito pelos veteranos”, homenageou ele.
Ao completar cem anos, ele salienta que o Partido vai precisar dessa juventude. “Compreendi também que não podia ficar o tempo todo na presidencia do partido. Fiquei 14 anos e ja ajudava muito o Amazonas que já estava muito doente. É preciso que as novas gerações assumam o seu lugar de responsabilidade. Foi o que me norteou até hoje”.
Renato declarou que o PCdoB tem orgulho de ser protagonista na defesa da Frente Ampla, pois é preciso derrotar, hoje, e tirar do centro do poder essa força de extrema-direita representada por Jair Bolsonaro, “que expressa o grande retrocesso e desmanche do país”. “A descontrução já é muito grande, por isso é preciso uma Frente Ampla e uma Federação representativa das forças populares progressistas de esquerda que possam ter um papel representativo nessa hora”.
“Essa é nossa tarefa e grande desafio: vencermos e formarmos uma nova maioria política para reconstrução do pais. Nesse sentido, o Lula, essa grande liderança popular, pode ser quem vai abrir esse caminho de transição para a grande reconstrução do nosso país”, concluiu sob aplausos e brindes.
Leia abaixo as manifestações que se somaram na noite especial desta terça-feira, 22 do 2 de 2022, que Renato alcançou cercado de abraços vindos de todos os lados, mesmo que virtualmente:
Os primeiros abraços foram remetidos pelo vice-presidente do PCdoB, Walter Sorrentino, a deputada federal Alice Portugal (PCdoB-BA), e Wadson Ribeiro, presidente do PCdoB-MG, que conduziram a festa abrindo com um video que resumia a vida de Renato com cenas marcantes, desde sua militância nos anos 1960 até a atualidade.
A deputada Alice Portugal se considera, como muitos “sua cria”. “Aqueles que já têm uma estrada maior, todos esses que você orientou e palmilhou a construção da militância, orientou de maneira absolutamente atenciosa na construção do discurso na construção do caráter, na dimensão e na largura dos passos”.
Ela o considera esse professor e preceptor; alguém que cuida do partido “como se cuidasse do seu próprio coração”. “Isso é um reconhecimento geral, essa é realmente uma unanimidade no PCdoB. Essa comemoração é de agradecimento profundo por essa trajetória. As falas mostraram isso de dentro e de fora do partido”, resumiu ela.
Assista ao vídeo aqui:
O secretário de Formação do Partido, Adalberto Monteiro leu a nota da Comissão Política Nacional do PCdoB. Leia o documento aqui.
Em seguida, a fila de homenagens começou com o afetivo depoimento da deputada federal Jandira Feghali (PCdoB-RJ). Ela falou de Renato como “uma pessoa que a gente consegue falar de admiração e amor, ao mesmo tempo”.
Para ela, melhor que falar de seu currículo já conhecido é falar de um aspecto marcante dele, que é não esconder a emoção.
“Algo que na vida política e partidária tem muita força. Não acredito em ninguém que faz política e constrói partido sem emoção. Para além da formulação e capacidade de dirigir as pessoas, precisam mostrar que se emocionam com o que fazem e acreditam”, disse ela.
Segundo, que Renato não tem medo de enfrentar a divergência, e, ao mesmo tempo, permite que a divergência apareça. “Não sufoca a divergência, permite que ela surja e a gente possa dizer o que pensa sem medo de dizer o que pensa. Você constrói a unidade na divergência. Você é um construtor da unidade, da possiblidade da gente falar o que pensa e fazer com que a divergência e a unidade aconteça a partir dela”.
Ela destacou a humildade de Renato, que caracterizou como parte de sua “baianidade”. “Você é firme, você é doce, é sereno e tranquilo”, enfatizou ela, expressando sua gratidão pelo acolhimento e solidariedade que sempre recebeu dele, em seus momentos mais difíceis.
“O que posso dizer a você, Renato, é que você é grande, em todos os sentidos. Você tem uma imensa dimensão, e teve a capacidade de manter a gente no rumo, de passar a liderança e a Presidência do Partido a uma mulher. Você é essencialmente um feminista, além de tudo. Você é uma pessoa que mantem a gente com nossos sonhos e nossas utopias”.
Lembrando da recente incorporação do PPL, mas também da morte de Sérgio Rubens, o vice-presidente do PCdoB, Carlos Lopes, falou que, a data do nascimento merece celebração para todo mundo que a gente gosta, “mas é particularmente verdade, para aqueles sem os quais o mundo seria diferente, como é o seu caso”. “O mundo seria pior sem você, então é mais um motivo para comemoração. Oitenta anos, com a maior parte deles de militância revolucionária, é uma obra que continua hoje. A obra de contribuir para mudar o Brasil e, portanto, mudar o mundo”.
“Nós, originários do PPL, mesmo os que já conhecíamos você, como é o meu caso, tivemos a oportunidade depois de entrar para o PCdoB, de te admirar, porque nos sentimos acolhidos, porque foi principalmente você que manifestou esse acolhimento”, disse Lopes.
Ele ainda destacou mais uma qualidade de Renato: sua modéstia especial. “A modéstia que o Renato é capaz, é aquela fruto da sua identificação com os demais seres humanos e com cada ser humano. Ele está identificado profundamente com a vontade dos seres humanos com a necessidade de se libertar do seu sofrimento. Isso é um traço de grandeza. Somente as pessoas grandes podem ter esse tipo de identificação e modéstia”, concluiu.
A presidenta do PT, Gleisi Hoffmann, falou de seu carinho por Renato. “Devo a você uma parte essencial da minha formação na militância política. Como se diz no jargão partidário, você foi meu capa, lá nos idos da minha juventude, quando eu militava no PCdoB e fazia parte da Viração”, lembrou ela.
“Muita saúde e muita força! Nós vamos precisar muito de você nessa fase que passa o Brasil, na luta que temos que travar”, disse a petista.
Renildo Calheiros (PE), líder da bancada do PCdoB na Câmara, disse que Renato foi sua grande referência no Partido e na política. Ele recitou “alguns versos” que compôs durante o dia para Renato, no poema De que é feito Renato?
O governador de Pernambuco, Paulo Câmara, mandou seu “abraço fraterno” pela passagem dos 80 anos de Renato, “a maior parte dessas oito décadas de vida dedicada à defesa dos valores democráticos, contra a desigualdade e a favor de uma sociedade mais justa para todos os brasileiros”. “Foi como presidente do PCdoB e como presidente da Fundação Maurício Grabois, que todo essa luta obteve grande relevância e protagonismo. Parabéns e obrigado por nos inspirar tanto”, completou.
O presidente PDT, Carlos Lupi, comemorou a juventude plena de Renato Rabelo, aos 80 anos, que ele considera um “dileto amigo e companheiro de lutas democráticas contra a ditadura”.
“O homem que tem uma história de vida construída pela consciência democrática, pela luta dos mais fracos, dos mais sofridos, pela luta de uma pátria soberana. Renato, você é um exemplo para todos os brasileiros que sonham com uma sociedade mais justa, fraterna e igualitária. Você merece toda a felicidade do mundo. O Brasil deve a você e deve muito pela sua luta, pela sua coerência e profundo amor ao povo brasileiro”, afirmou.
Ele parafraseou Leonel Brizola quando disse: “Renato, é hora da gente radicalizar, irmão”.
Manuela D’Ávila celebrou a vida de Renato como uma existência dedicada à luta em defesa dos trabalhadores e trabalhadoras do Brasil e do socialismo como experiência mais avançada de emancipação da humanidade.
“Celebrar sua existência é celebrar a camaradagem, a amizade, o dirigente tranquilo e sereno que, de maneira permanente, acompanha os quadros. E digo isso como quem testemunha esse acompanhamento desde muito jovem de perto”, relatou.
“Celebrar sua existência, Renato, é celebrar a luta para a construção de um partido que esteja conectado com a juventude, com as mulheres e com a classe trabalhadora. É celebrar a vontade de ser um partido grande, a ousadia, a luta em defesa da soberania nacional”.
Ela completou dizendo de sua “alegria imensa de ser tua camarada” e desejou muita saúde.
Da UJS (União da Juventude Socialista), uma organização que Renato tem muito orgulho de ter idealizado e ajuda construir, mas também pela quantidade de quadros qualificados que ela legou para o Partido, veio uma espécie de jogral, em que cada liderança falou um pouco de Renato:
Tiago Morbach, presidente nacional da UJS, disse que é uma grande alegria para todos nós comunista podermos chegar ao centenário do Partido Comunista do Brasil celebrando a vida de uma das principais lideranças políticas do país. “Ele que nos ajudou a construir a concepção da nossa organização, hoje dá grandes contribuições para ao futuro do nosso país. Um futuro em que a juventude poderá ter pleno emprego, em que a juventude poderá sonhar. E esse futuro vem das nossas mãos. Agradecemos profundamente a toda a trajetória, toda a luta de Renato Rabelo.”
Bruna Brelaz, presidente da UNE, disse que Renato se encaixa muito bem na descrição de Bertold Brecht, como um dos imprescindíveis. “A sua luta e trabalho, Renato, é uma grande referência para varias gerações. Feliz aniversario, vida longa e mil vivas a Renato Rabelo”.
Pedro Lucas, presidente da UEB, fala de Renato como alguém presente na história do país como o jovem que ousou sonhar, que decidiu lutar para tornar possível o sonho de muitos. “Presente na história do PCdoB pela garra com que presidiu o Partido, presente na história da União dos Estudantes da Bahia, deixando seu legado de lutas para que novas gerações possam ter referência. Viva os 80 anos de Renato Rabelo!”
Rozana Barroso, presidente da UBES, destacou que a sua geração, “a geração Z do PCdoB”, tem muito orgulho de seguir os passos de Renato. “Agora, completando mais um ano de vida, nós estamos em festa, porque ter o Renato é ter sempre energia, força e sabedoria para falar das lutas mais necessária para a juventude e para todo o povo brasileiro”.
Guilherme Bianco, vereador em Araraquara (SP) disse que Renato significa a revolução brasileira, “aquela garra e aquela coragem para combater o fascismo, defender a democracia e construir no Brasil uma revolução socialista”.
O deputado federal Orlando Silva (PCdoB), outro quadro saído da UJS, registrou no pinga-fogo da Câmara dos Deputados o aniversário de Renato Rabelo, que ele descreveu como “um líder histórico do Partido Comunista do Brasil, um homem apaixonado pelo Brasil e devotado à causa popular, e à causa do socialismo. Parabéns, Renato Rabelo!”
Davidson Magalhães, presidente do PCdoB-BA e secretário de estado da Bahia, estado de Renato lembrou essas origens, mas alinhavou o conjunto das qualidades que definem o grande dirigente político e partidário.
“Além da sua capacidade teórica de nos orientar nos momentos mais difíceis da trajetória dos comunistas no Brasil e no mundo, onde se levantava o fim da história e da experiência socialista, segurar esse bastão passado por Joao Amazonas, nesse momento de descortinar novas e mais profundas compreensões do que é o socialismo e os seus desafios, esse é um legado histórico fundamental para a continuação deste centenário partido que você muito bem representa, que é nosso PCdoB”, sintetizou. Para ele, esta foi uma contribuição histórica para a sobrevivência do Partido. “Porque a nossa sobrevivência depende da teoria, de descortinar caminhos e a compreensão dessa coerência histórica”.
Ele ressaltou a forte ligação do PCdoB na Bahia com Renato. “Nós somos muitos filhos dessa geração dos “baixinhos” de Haroldo, de Peres, dessa turma que completou esse processo de construção do PCdoB, essa turma que veio da AP marxista-leninista, que tem uma marca muito forte na Bahia, na sua origem.
Ele também observou a generosidade, firmeza, serenidade e grandeza de Renato. “Esses são os atributos importantes e uma das grande peças desses cem anos do PCdoB, que são os grandes baluartes e alicerces dessa construção”.
Para além da teoria e da retórica, Magalhães ressaltou o exemplo de Renato. “O partido é, acima de tudo, dedicação e sacrifício pela causa, mas tudo isso se constrói com muito exemplo, experiência de vida, que vale muito mais que discursos. Você representa isso para nós.”
Rosanita Campos, que coordena a Cátedra Cláudio Campos da Fundação Maurício Grabois, relatou que, como presidente da Fundação Lauro Campos, do PPL, coube a ela e a Nilson Araújo fazer o enlace com a Fundação Maurício Grabois, quando da incorporação ao PCdoB. Na conversa com Renato, segundo ela, ele deu a ideia de criar a Cátedra Claudio Campos, à qual ela coordena junto com Nilson, como professor titular.
“O Renato é assim. Acolhe a gente, abre os braços, chama para a luta política, chama para a discussão. Não tem esse negócio de não dizer isso e aquilo. Tem que dizer tudo que pensa”. Ela se disse muito a vontade em todas as discussões que tem na Fundação Maurício Grabois e observou que o dirigente foi fundamental na criação do Programa Nacional de Desenvolvimento, na luta teórica que tem sido travada no Partido, nesses anos todos.
“Renato é um grande brasileiro, que quer um Brasil democrático, soberano, desenvolvido e, mais para a frente, socialista, que está no nosso horizonte. Tem um rumo, um caminho que é um Brasil brasileiro, soberano com a centralidade da questão nacional. O Renato nos dá essa força e segurança no nosso partido centenário, com muita história de luta, em que ele tem cinco décadas de construção. Eu confio em você. Quando a gente confia no dirigente, a nossa capacidade de atuação é muito maior”, testemunhou Rosanita.
O sindicalista e dirigente do Rio de Janeiro, Joao Batista Lemos, chamou Renato de “nosso comandante”. Ele o parabenizou por tudo que já contribuiu com a luta da classe trabalhadora e do povo brasileiro, pelo fortalecimento do partido. Para ele, a marca maior do dirigente é que ele nunca se acomodou no ponto e vista teórico, ideológico e sempre desbravou novos caminhos. “Renato ajudou a gente a criar a Corrente Sindical Classista, num momento importante de ascenso do movimento operário, no início da década 1980. Era necessário criar uma corrente socialista e patriótica no nosso país. Foi também um grande incentivador da criação da CTB. Coube a mim, que era o coordenador nacional da CSC e era o secretário Sindical do Partido, correr o país. Mas tinha o respaldo do Renato, que deu o sinal verde para a gente construir uma nova alternativa classista, unitária, democrática, combativa e de luta. Então construimos a Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil”, contou ele.
Por isso, ele acredita que, tanto a CSC deveu muito, como a CTB ainda deve à contribuição de Renato para a organização dos trabalhadores do país. “Eu tenho comigo que a maior lição que eu tive, que você sempre ensinou é que é necessário aprender sempre através do estudo, do balanço crítico da nossa história. Só assim, a gente pode criar uma síntese e uma praxis revolucionária e abrir perspectivas para nosso povo. Ficamos tristes com a perda da Mel, que era uma grande admiradora sua”, concluiu ele.
Guilherme Boulos foi apresentado como uma jovem liderança de grande talento na esquerda brasileira, tendo chegado ao segundo turno nas últimas eleições em São Paulo. Liderança de um partido, que ao lado do PCdoB, tem travado lutas importantes em todo o país.
“Chegar aos 80 anos com altivez, com lucidez, não é uma tarefa fácil. Aliás, chegar aos 80, para quem decidiu dedicar a vida à luta do povo, às agruras, às ousadias de lutar por uma nova sociedade, é um grande feito.
Boulos parabenizou Renato, destacando-o como parte de uma geração que enfrentou e derrotou a ditadura militar no país. “Uma geração que nos inspira a luta que a gente trava hoje. Quero deixar um abraço muito forte, cheio de admiração e respeito pela tua caminhada e sua trajetória, e estendo isso a todos os companheiros do PCdoB. Que venham agora os próximos 80!”
Rovilson Britto, presidente do PCdoB-SP, disse que Renato é aquele exemplo do intelectual da classe operária. “Não compreenderíamos o Brasil, os impasses, a nossa formação, os desafios do nosso país, se não fosse a capacidade que nos ilumina através do trabalho do Renato. Foi sempre aquele que procurou construir um pensamento original e marxista sobre o Brasil”, disse ele.
Ele considera que o pensamento de Renato parte da compreensão da nossa formação, que tem a ideia do racismo e do machismo como traço cultural e estrutural, formação sempre dependente do capital externo, mas que cumpriu ciclos importantes de avanços civilizatórios. “Tudo isso a gente tem convicção mas que tem um aporte indispensável do nosso camarada Renato, que nos deu através do debate, da formulação. Um intelectual que formula para a luta política concreta e não para a abstração apenas”.
Rovilson também quis falar do Renato amigo. “Cheguei em São Paulo, moleque ainda, na década de 1980, e Renato acompanhava a juventude; acolheu todos nós; ele nos formou. Com esmero, foi mostrando que a gente precisava de ousadia e generosidade, com abertura para o debate, franqueza, depois de coesionar a nossa luta, o nosso pensamento e atuar como um só exército”. Ele relatou que Renato os provocava se conseguiriam aprovar o voto aos 16 anos, apostando uma caixa de cerveja que não conseguiriam, “só pra nos incentivar”. “Ele pagou com prazer, quando ganhamos a aposta”.
“Sempre incentivou a juventude a conquistar espaço e nos formou gerações e gerações de comunistas que seguirão com a bandeira do Partido. O poeta Thiago de Mello dizia que não somos melhores nem piores, somos iguais, melhor é a nossa causa. Mas eu acho que o Renato é dos melhores, é dos grandes, é o nosso presidente”.
Vandilson Costa, ex-deputado estadual, atual advogado eleitoral baiano, um dos grandes da luta pela Anistia, revelou sua admiração pela pessoa de Renato, pela capacidade que demonstrou ao longo de sua vida, pela sua coerência, pela sua simplicidade, pela sua paciência, sobretudo pelo seu destacado papel de dirigente comunista, “o partido que assumi para minha vida”.
“Você tem sido uma grande referência para mim e para muitos da minha geração, e das gerações atuais também. Quero desejar longa vida, que continue sendo essa pessoa paciente, simples, de uma firmeza inabalável, admirado por muitos”.
Falou ainda a cunhada de Renato, Ana Guedes, viúva de Agnaldo Rabelo, dirigiu o comitê de Anistia na Bahia, foi para as portas de presídio e lutou pela volta de Renato, após viver na clandestinidade. “Não é todo dia que se faz 80 anos com uma longa e bela trajetória de lutas e dedicação ao povo brasileiro. Desejo vida longa e muitas felicidades ao longo da sua existência para toda a sua família e todos nós”.
Gestora pública em Recife e vereadora, Cida Pedrosa disse que é uma felicidade enorme viver nesse mesmo tempo histórico que Renato. “Sua vida importa enormemente para o Brasil”, disse.
Escritora ganhadora do Prêmio Jabuti, Cida “mandou uns versinhos”:
Ter um camarada, é ser manhã e tarde posta, é ser multidão e vazios abissais, é ser par e parte, pedra e água, caminho e ponto, voz e voo; é saber-se vela em tempestade, e vento em mar sereno, é saber-se aurora e orvalho, lua e imaginário, palavra e murmúrio. Ter um camarada, é ter a terra lavrada em comunhão, é luzir na escuridão, é junto partilhar amores e também temores, e esquinas e curvas e colchões raros e camas vastas e janelas e portas e parques e partos e pontos. Ter um camarada, é saber que as bandeiras serão bordadas carinhosamente com fio das estações e o pano tecido pelo povo. Ter um camarada é não estar sozinho, quando olhamos o subversivo voo das borboletas.
Dilma Rousseff saúda Renato Rabelo por seus 80 anos
Luis Inácio Lula da Silva disse:
“Querido companheiro, Renato Rabelo,
É para mim muita alegria poder te cumprimentar nesse instante que você está comemorando oitenta anos de idade. Eu, daqui a pouco, estarei lá, porque estou com 76 e vou continuar te perseguindo, para te alcançar até a gente completar uns 120 anos.
Mas Renato, estou gravando para você, de agradecimento por tudo que você representa para mim. Pela nossa relação sincera, pela sua decência, dignidade na relação comigo, na relação com o PT, nas coisas que nós construimos juntos nestes últimos 40 anos.
Você sabe da minha gratidão ao PCdoB, desde que a gente começou a trabalhar juntos na campanha de 1989.
Você sabe da minha gratidão a você durante todo o tempo que você exerceu a presidência no PCdoB, e agora que você está na Fundação, para mim, você continua sendo o presidente do PCdoB, da mesma forma que o João Amazonas continua sendo o presidente do PCdoB, e agora a Luciana continua sendo a encarnação do João Amazonas e do Renato Rabelo na Presidência do PCdoB.
Eu quero te dizer, Renato, que você pode ter certeza de que eu tenho por você o mais profundo respeito, mais profunda lealdade, o mais profundo reconhecimento do homem que completa 80 anos de dignidade de caráter, de luta revolucionária em defesa de melhores dias para o povo brasileiro.
Eu espero estar junto com você, quando você estiver completando 81, querido.
Um abraço, boa sorte para você e uma boa sorte para os nossos queridos companheiros e companheiras do PCdoB,
Até o próximo aniversário.”
A filha de Renato, Celina Rabelo, a Nina, que suportou todo o período da clandestinidade, tendo mudado de nome três vezes, nem tendo onde morar algumas vezes, disse que considera um privilégio, “com essa idade, a lucidez e determinação, energia e combatividade”, que Renato mantém. “Vivemos dias muito difíceis em todas as esferas, e em todos os sentidos, mas juntos a gente vai conseguir realizar dias melhores. Estou falando em nome da família, que te admiramos muito e amamos muito, pai. Viva os 80 anos do Renato e viva os 100 anos do PCdoB!”
A deputada estadual e sambista Lecy Brandão (PCdoB-SP) falou de seu contato recente com Renato, ainda em 2009, quando chegou no Partido. “Queria dizer uma coisa para você muito simples e objetiva. O meu meio era o meio artístico, o meio do samba, como todo mundo sabe. Eu sempre ouvi políticos, muitas pessoas, e posso dizer com muita honestidade e muito carinho, que, dentro do cenário politico, você foi a pessoa que melhor passou para mim o entendimento do que é democracia. O seu discurso sempre foi uma sabedoria e um ensinamento para mim. Eu comecei entender melhor o que era pertencer a um partido como o Partido Comunista do Brasil, ouvindo as suas palavras e o seu posicionamento. Você me explicou muito bem, foi a pessoa que me explicou melhor, o que é esse país. Muito obrigado por tudo, muito obrigado pela sua sabedoria, pelo seu ensinamento. Tenho muita honra de pertencer ao PCdoB e tenho muita honra de ter podido ter a oportunidade de ouvi-lo sempre. Deus abençoe você, e a toda a sua família”, declarou ela.
A presidenta do PCdoB e vice-governadora de Pernambuco, Luciana Santos, disse que é muito bom ver os camaradas no país inteiro celebrando os 80 anos de Renato, mesmo de longe.
Ela falou de sua grande admiração pela trajetória dele. “A gente vai olhando para tudo que você fez e construiu nessa caminhada de oito décadas, e vai se dando conta de tudo que isso significou, da beleza, do DNA da luta, e de como isso se confunde com a história do Brasil, da maneira assertiva da condução das posições do nosso glorioso Partido Comunista, em momentos tão difíceis”.
Ela lembrou o momento pós-guerra fria, com os impasses do socialismo real, atravessar o momento sem timoneiros como Renato e Amazonas, que deram a continuidade à elaboração teórica e à busca por saída desses impasses do mundo e do Brasil. Ela observa como essa firmeza diante das adversidades germinou no movimento estudantil secundarista, depois no movimento universitário, na Juventude Universitária Católica (JUC), na Ação Popular, atravessando “o amargo da ditadura e do exílio”, e que se ampliou na luta pelo restabelecimento da democracia no Brasil. “Quem olha para você, para a serenidade que você conserva, não imagina as durezas que você enfrentou”.
“Gosto de pensar que essa serenidade vem da convicção de quem sempre esteve do lado das causas mais justas, mas vem também da perspectiva de quem sempre defendeu o seu povo e o seu país, com amor e com coragem, como expressa o lema do nosso centenário”, disse Luciana.
Ela também mencionou a formação de tantos quadros comunistas sob a serenidade, bondade, justeza, companheirismo e acolhimento de Renato.
“Eu lembro que você, nada mais, nada menos, tomava conta da juventude, nos tempos que eu era militante do movimento estudantil nos congressos da UNE. Como disse Gleisi, você era nosso capa, que quando vinha as confusões maiores, que a gente pensava que o mundo ia desabar, chegava o Renato para dar a luz e o rumo para a gente acertar”, relatou.
“Era aquele porto seguro das posições que a gente precisava tomar, ainda nesses momentos que eu estava começando a militar no PCdoB. Então, Renato, quando você conversou comigo sobre a indicação para sucedê-lo na Presidência do Partido, eu tomei um susto enorme, porque eu sempre achei que existem quadros muito mais preparados e melhores que eu para assumir aquela tarefa, naquele determinado momento”, confessou a dirigente comunista.
“Portanto, eu tinha consciência de que estava diante dos maiores desafios da minha vida. Você tem sempre receio e medo e dúvidas se que você vai dar conta do tamanho e da altura das ideias e dos desafios. Mas, ao mesmo tempo, no meio do processo de discussão e análise, também me dei conta de que não poderia haver um exemplo melhor para me espelhar e pra me guiar nesse processo, do que ter você por perto. Foi muito importante, porque assim me deu segurança.
Porque aqui eu tenho um esteio que vai impedir que a gente cometa qualquer erro no caminho”, explicou.
Ela se lembrou da enorme alegria com a surpresa que o Partido fizera no ato da posse na Presidência, em Pernambuco, quando ela se virou e viu Renato entrando no local da recepção sem que ela esperasse. “Eu até postei umas fotos dessas nas redes, com a cara de alegria por ver o Renato”, contou.
Luciana encerrou sua homenagem citando Para os que Virão, do poeta Thiago de Mello:
Não tenho o sol escondido
no meu bolso de palavras.
Sou simplesmente um homem
para quem já a primeira
e desolada pessoa
do singular – foi deixando,
devagar, sofridamente
de ser, para transformar-se
– muito mais sofridamente –
na primeira e profunda pessoa
do plural.
Não importa que doa: é tempo
de avançar de mão dada
com quem vai no mesmo rumo,
mesmo que longe ainda esteja
de aprender a conjugar
o verbo amar.
É tempo sobretudo
de deixar de ser apenas
a solitária vanguarda
de nós mesmos.
Se trata de ir ao encontro.
(Dura no peito, arde a límpida
verdade dos nossos erros.)
Se trata de abrir o rumo.
Os que virão, serão povo,
e saber serão, lutando.
“Você é isso, Renato: um abridor de rumos, sempre conjugando o verbo no plural, você é um ideólogo do nosso partido, um militante disciplinado, um dirigente abnegado e generoso com quem sempre podemos contar para qualquer escuta atenta e crítica, muitas vezes. Você é um construtor do partido, porque você é um democrata, porque você escuta e dialoga com o novo pensamento. Você é um homem aberto para as novidades e as ponderações. Mas você está sempre ali com essas suas ponderações assertivas e precisas. E repito, mas é, sobretudo, um amigo, muito querido a quem dedico um afeto que só é possível partilhar com aqueles a quem devotamos os melhores sentimentos de solidariedade, de compaixão de fraternidade. Com quem partilhamos os sonhos de um mundo mais justo, de uma vida e justiça e oportunidade para toda nossa gente. Viva o socialismo, Renato! Viva o Partido Comunista do Brasil!”