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Cantareira está ameaçada por pastagens, eucaliptos e emissões de gases

18 de março de 2022
Sistema cantareira chegou ao seu nível mais baixo em 2014

Estudo mostra que a sustentabilidade das atividades rurais nas áreas de recarga do sistema pode garantir água diante das mudanças climáticas. Mas desde que sejam reduzidas as emissões de gases

São Paulo – O Sistema Cantareira, que abastece um quarto da população do estado de São Paulo e já sofre os efeitos nocivos produzidos pelas pastagens e pela monocultura do eucalipto, deverá enfrentar ainda mais dificuldades diante da intensificação das mudanças climáticas nos próximos anos. De acordo com estudo da Universidade Federal de Lavras divulgado nesta sexta-feira (18), a saída será investir em ações nas áreas de recarga do sistema. “Quanto mais conservacionista for o uso do solo nessas áreas, mais efeito sobre o ciclo hidrológico e produção de água”, disse a pesquisadora Letícia Freitas.

Serão necessárias ações que preservem o ambiente natural, como o plantio de árvores nativas e a redução ou reforma de pastagens. Em todo o entorno das bacias dos rios que alimentam o Cantareira, entre eles o Atibainha, objeto de estudo do grupo de Letícia, o eucalipto toma conta. A monocultura é nociva porque consome muita água – por isso cresce rápido. E o pasto, que é pior, quando está em boas condições impermeabiliza o solo. E quando está degradado, é fonte de sedimento para os rios.

Segundo a pesquisadora, o estudo mostrou que a recuperação isoladamente de Áreas de Proteção Permanente (APP) – áreas protegidas, cobertas ou não por vegetação nativa, com função de preservar recursos hídricos e a biodiversidade – não terá o mesmo efeito sobre a produção de água do que se implementada junto com ações mais conservacionistas. Nesse caso, o aumento estimado na recarga é de 24%.

Cantareira seca de novo

Os resultados mostram ainda que todas essas ações para salvar o Cantareira, que dependem de iniciativas efetivas do poder público, com políticas e fiscalização, e de toda a sociedade, são projetadas para um cenário em que haja redução das emissões de gases de efeito estufa.

Para chegar a essas conclusões, os pesquisadores utilizaram modelos computacionais para comparar quais as ações que seriam mais eficazes em aumentar a resiliência da produção de água na bacia: a ampliação da cobertura florestal por meio da restauração das áreas de APP hídrica, a implementação de melhores práticas de manejo em áreas essenciais para a recarga, ou ambas. E verificaram se a adoção dessas ações seria suficiente para mitigar os efeitos das mudanças climáticas.

O estudo integra o Projeto Nexus, que investiga a gestão de água, energia e alimento na perspectiva da sustentabilidade dos usos dos recursos naturais, com ênfase em mananciais do Sistema Cantareira em Minas Gerais e São Paulo.

Com duração de três anos, as pesquisas foram financiadas pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e Petrobras, por meio do patrocínio ao projeto Semeando Água, e contaram com a participação de pesquisadores do Instituto Ipê.