Vivemos hoje, no mundo, o fim da hegemonia do dólar?
Uma das muitas consequências da guerra na Ucrânia tem sido o enfraquecimento do dólar como moeda de reserva e de comércio internacional, bem como o surgimento de novas, como o Yuan (chinês), Rublo (russo) e Rúpia (indiana). Este novo ensaio discute esse tema, que guarda uma relação direta com uma nova ordem mundial multipolar.
Tenho lido muitos textos que falam sobre uma possível nova arquitetura financeira internacional. Não estou dizendo que isso já está acontecendo. Mas, pretendo apresentar neste novo ensaio, com base em um autor indiano, Prabir Purkayastha, bem como Prabhat Patnaik e o estadunidense, nosso antigo conhecido, Michael Hudson. Até Zoltan Paz, do banco Crédit Suisse, são referenciados (1).
O conjunto de informações que eu preparei tem como base estes estudiosos intelectuais, que começam levantando uma interrogação: esta guerra na Ucrânia pode reconfigurar uma nova ordem econômica? Quais seriam as suas consequências? Ela poderá criar uma nova ordem mundial e até mesmo um novo sistema financeiro internacional, como menciona Alastair Crooke (2).
Tenho dito desde 24 de fevereiro, quando iniciaram as operações militares especiais da Rússia na Ucrânia, que o que se trava naquele conflito é a consolidação – ou não – desta nova ordem mundial que nós estamos chamando de “ordem multipolar”, a ordem onde existem no mundo muitos polos, pelo menos três.
Hoje, o mundo tem seis polos, três bem consolidados – que são EUA, Rússia e China – e três estão ainda em uma situação pendular ou, são subordinados aos Estados Unidos, ou eles tomam uma certa independência e colam, trabalham junto com os dois polos opositores aos Estados Unidos, que são a Rússia e China. Esse polos são: Brasil, Índia e União Europeia.
Quais são esses dois polos vacilantes? O Brasil e a Índia, dois países governados por autoridades de extrema-direita. No entanto, tanto o Brasil, desde a visita de Estado que o inominável fez à Rússia, quanto a Índia, que é a maior compradora de armas do mundo, compra de muita gente, mas no caso russo, que é seu vizinho, eles compram bilhões e bilhões de dólares em armamentos. Isso fez com que a Índia se abstivesse no Conselho de Segurança nas votações mais sensíveis sobre a Rússia. Da mesma forma que a China se absteve e o Brasil vacilou na primeira votação, no dia 2 de março.
Mas, em alguns momentos, de lá para cá, depois desse vacilo ele tem se colocado dentro de uma linha de neutralidade, justa, uma posição boa. Não vou entrar no mérito. Se a Rússia perder este conflito, esta batalha, essas operações militares especiais ou esta guerra, chamem do que quiserem, nós vamos viver um retrocesso de algumas décadas, não sei se de 30 anos, voltando a 1991. E teríamos que começar tudo de novo.
O presidente Lula está vindo, em janeiro. Eu continuo entusiasmadíssimo com sua eleição. Nenhuma pesquisa, nenhuma possível melhora da economia brasileira – que eu não vejo no horizonte – vai tirar até 3 de outubro, o favoritismo de Lula.
O mundo inteiro está aguardando a posse de Lula, pois ninguém aguenta mais esse inominável. Como disse Miriam Leitão, ele conspira contra a democracia, portanto, não pode ser comparado com o presidente Lula, como os candidatos da terceira via vão fazer, e o mundo inteiro sabe disso.
O portal Rússia Today diariamente noticia novas sanções contra a Rússia. Outro dia, dois grandes bancos russos foram sancionados, bem como as filhas do presidente Putin e até o primeiro-ministro também foram. Já ultrapassa seis mil o número de sanções impostas aos russos. Então, a Rússia é uma grande economia, ela não é um mercado exportador de commodities, como eu vou apresentar daqui a pouco. A Rússia participa de cadeias produtivas internacionais que são fundamentais.
A Rússia e vários outros países, que eu vou mencionar, todos eles, estão vendo as suas reservas depositadas nos Estados Unidos serem simplesmente confiscadas. A reserva russa, no valor de 300 bilhões de dólares, que significa 1,5 trilhão de reais, estava depositada no Federal Reserve, que é o Banco Central dos Estados Unidos.
Como é que o mundo inteiro e outros países reagirão em relação a isso? Porque, eles fazem propaganda do dólar como moeda de reserva. Os países acumulam dólares e guardam nos bancos internacionais que, de repente, eles vêm e tomam. São exatamente estas mensagens que esta guerra está passando para o mundo.
Outra questão que também vemos hoje, não é apenas a questão do risco da perda da hegemonia do dólar, que é o título do nosso ensaio. Há um outro aspecto que eu quero levantar, que nós já vivemos na pandemia, que são as chamadas interrupções das cadeias produtivas e mundiais, especialmente, produção e abastecimento.
Essas cadeias foram montadas sob duas concepções: a primeira é mais uma premissa do que concepção, a de que o mundo é globalizado. Pode-se produzir uma peça em Cingapura, outra na Malásia e monta-se o produto final na China, pois tudo é globalizado.
O segundo aspecto é que estas cadeias produtivas foram montadas dentro de regras absolutamente seguidas por todo mundo e fixadas pela Organização Mundial do Comércio. Tudo isso está sendo quebrado, estas cadeias estão sendo desmontadas.
E nós já vimos um pouco disso na pandemia e agora vamos ver de uma forma muito mais complicada, por causa das seis mil sanções contra a Rússia. Quando Putin, logo no começo falou: “as sanções machucarão os sancionadores” ele estava inteiramente cheio de razão. O rublo é a moeda que mais valoriza hoje no mundo. O dólar é a moeda que mais está se depreciando.
A valorização do rublo é uma coisa inédita. Teremos que estudar este fenômeno. Talvez a Rússia venha a ser o primeiro país do mundo que entra em uma guerra e quando sair dela, vai sair com a sua moeda mais valorizada do que quando entrou. Isto é por causa dessa jogada de pagamento em rublos, adotada pelo seu presidente Vladimir Putin.
Parece que o mundo está descobrindo agora que a Rússia não é um país simples exportador de commodities, especialmente gás e petróleo, como veremos em seguida. A Rússia é um dos maiores fornecedores de trigo e fertilizantes do mundo, para os Estados Unidos e para boa parte boa parte de países e também para o nosso Brasil. Às vezes, é o fertilizante já pronto, às vezes, são alguns elementos para fabricar o fertilizante. Acontece que o Brasil não tem fábricas que dão conta do mercado. A que era da Petrobras, o inominável privatizou.
Então, precisa-se de nitrogênio, de fósforo, que são elementos para produzir fertilizantes. Aí, o nosso autor indiano levanta a seguinte indagação: “como é possível ter ‘fé’ na moeda estadunidense, cujo governo confisca fundos russos e também de outros países?”
Já confiscou do Irã, já confiscou da Venezuela (foi o banco da Inglaterra) e confiscou até do pequenino Afeganistão. É esse tipo de atitude que vai colocando em questão o dólar como moeda de reserva internacional e de uso no comércio internacional. Países e governos vão procurando alternativas. Ninguém quer perder suas reservas.
Eles sempre falaram para comprar tudo em dólar. O superávit comercial deve ser transformado em dólar e vai acumulando na forma de reserva e pedem para os países deixarem depositados nos bancos deles, para, às vezes, render um, dois ou 3% ao ano. De repente, o país perde tudo isso, pois os EUA eles acham que esse dinheiro é deles.
A outra indagação é: “porque países depositariam suas reservas, seu superávits da balança comercial, se eles podem ser pilhados e bloqueados a qualquer momento?” Acho que dá para ter uma noção da gravidade das coisas que estão acontecendo no mundo.
Cabe a nós analistas, pessoas que passam grande parte da vida estudando, ter esta visão mais adiante e esclarecer, debater, elucidar. Não quer dizer que nós estejamos sempre certos, mas é muito estudo e muita pesquisa, muito debate. E, o horizonte que se vislumbra, não é o horizonte florido para os Estados Unidos, ao contrário, porque eles são a potência decadente.
Sobre o Afeganistão
Eles tomaram do Afeganistão, que está entre os 15 países mais pobres do mundo, com um PIB anual de 61 bilhões de dólares, quando saíram fugidos (expulso) de lá no dia 15 de outubro de 2021, 9,5 bilhões de dólares das suas reservas. Ficaram lá 20 anos e gastaram dois trilhões de dólares, estupraram as mulheres, destruíram, mataram e, no final, roubaram o dinheirinho sofrido do povo pobre, que estava depositado no Federal Reserve, dos EUA.
Como os Estados Unidos veem esses bilhões de dólares em reservas internacionais depositados em seus bancos como se o dinheiro fosse deles. E, que eles teriam então o direito de confiscar. O uso de sanções é mais do que isso. O dólar está sendo usado como arma de guerra. E mostra de forma inequívoca, que os Estados Unidos querem o controle total do sistema financeiro internacional.
Sobre a Alemanha
A Alemanha vai pagar um preço muito caro pela sua posição. Já estão pagando um preço muito caro com o racionamento energético. Já estão no primeiro nível que eles fixaram de racionamento energético. Isso vai significar desaceleração daquela que é a quarta maior economia do mundo. Isto vai significar mais desemprego, mais carestia com o preço do combustível, que está em alta.
Tem gente passando frio em casa, porque não vai pode mais pagar a conta de gás, pois o povo já está sofrendo. E as autoridades pedem que se economize gás. Quando se vê um chefe de Estado, o primeiro-ministro Olaf Scholz, mandando milhões de dólares em armas para a Ucrânia, sem contestar as sanções que prejudicam o seu próprio país, é o maior exemplo de subordinação de um país a outro. Aliás, quem manda armas para um país em conflito não quer o fim do conflito, eles querem a guerra, eles querem continuar a guerra, eles não querem a paz.
O sistema financeiro global foi montado em 1944, há 78 anos, em Bretton Woods, uma cidadezinha do interior do Estado de New Hampshire, nos Estados Unidos. Este sistema está decadente, junto com as instituições que lhe dão sustentação, normalmente denominada de arquitetura financeira internacional: Fundo Monetário, Banco Mundial, Organização Mundial do Comércio e, a partir de 1972, a criação do Swift, sistema de envio instantâneo de recursos – apenas em dólar – entre países e instituições financeiras (3).
Então, temos essa arquitetura que está sendo quebrada. Eu vou tentar mostrar com alguns exemplos concretos esta realidade. Portanto, está bastante claro que eles querem continuar controlando a arquitetura financeira global, mas não estão mais conseguindo.
Muitos dos economistas acima citados, estão prevendo um novo regime financeiro internacional, com uma nova moeda que emergirá como moeda de reserva internacional. Se vai ser o Yuan ou Rublo, nós não sabemos, ou se vai ser uma moeda pactuada por todo o mundo, mas não será o dólar. É isso que esses economistas vislumbram no horizonte e eu estou com eles, eu concordo plenamente com esta análise.
Zoltan Paznar é um perito financeiro – talvez a tradução não seja “perito”, mas um analista sênior –, do banco Credit Suisse, que é um banco muito importante no cenário internacional. Ele está prevendo que quando este conflito acabar, o dólar estará mais fraco e o Yuan muito mais forte, isto porque, o Yuan é lastreado em uma cesta de commodities que a China exporta para o mundo inteiro.
Na Conferência de Bretton Woods, 700 pessoas do mundo ocidental capitalista, participaram. A guerra não tinha nem acabado ainda, mas todo mundo já sabia que Hitler perderia. O Brasil, inclusive, mandou nove delegados para o encontro cuja decisão mais importante talvez tenha sido a abolição da Libra Esterlina como moeda de reserva internacional, moeda do comércio internacional, e moeda do entesouramento pessoal.
Mas, o pacto feito em Bretton Woods era que, uma Onça-Troy que equivalia a 33,5g de ouro, custaria 35 dólares. É quase um grama = um Dólar. E, os Estados Unidos respeitaram o acordo, até o dia 5 de abril de 1971, quando Nixon fez um pronunciamento em cadeia nacional de rádio e televisão e disse que, a partir daquele momento, os Estados Unidos estariam desobrigados a cumprir o acordo firmado em Bretton Woods de 1944. Os acordos duraram apenas 27 anos.
A partir desse momento, eles pararam de recolher o equivalente em ouro de todos os dólares que eles emitiam. Portanto, era um papel pintado de verde, papel-moeda, ainda que quase impossível de falsificar, mas não vale nada. As pessoas não podem trocar o equivalente em dólar por ouro em lugar nenhum.
Por que ele continua sendo aceito no mundo inteiro? É pelo fato do domínio do império, pela sua força, sua potência que imprime esta moeda, que era o caso da Inglaterra, mas ela entrou em decadência e a sua moeda perdeu importância. Por que o Yuan está valorizando? Devido à importância da China.
É pela importância que a China está adquirindo no cenário internacional. Mas, de qualquer forma, o dólar tinha algum tipo de lastro. Aí, os autores lembram que os Estados Unidos eram o país, em 1971, mais industrializado do mundo, eram o país mais militarizado e a maior potência militar do mundo e tinham o petróleo da Ásia ocidental, ou Ásia menor ou Oriente Médio.
Isso inclui os países árabes e, na expansão, depois do Golfo, inclui o Irã, país que em 1953 viveu um golpe e, o petróleo iraniano que tinha sido nacionalizado por Mohamed Mossadeh, que foi derrubado, o petróleo voltou a ser controlado não mais pela Inglaterra, mas pelos Estados Unidos. Eles também tinham o Iraque, desde o golpe de 1958. A Venezuela eles sempre tiveram, até Chaves assumir o poder em 1998.
Lembremos que, em maio de 1979, Margaret Thatcher tomou posse como primeira-ministra da Inglaterra. Um anos antes, 1978, Karol Woytila, o papa polonês, neofascista, fora entronizado em Roma. Em 1980 ganhou Ronald Reagan, um fascista, canastrão, ator de filmes B de Hollywood, fazia propaganda de liquidificador e virou presidente dos Estados Unidos.
Então, esta trinca: Papa João Paulo II, Thatcher e Regan, eles implantaram o modelo neoliberal e, 10 anos depois, em 9 de novembro de 1989 derrubaram o muro de Berlim e, dois anos depois, liquidaram a União Soviética.
No governo Carter, o Oriente Médio começou a ser tratado como era tratado o nosso Continente latino-americano, na época da doutrina Monroe (4): “A América para os americanos”. E, o Oriente Médio para os americanos também.
O Oriente Médio foi tratado como uma área de total domínio dos Estados Unidos, da qual eles não permitiam a presença de mais nenhuma outra potência, nem antes do fim da União Soviética, nem depois, com a Rússia, que só chega em 2010/1011, quando começa o levante contra o governo da Síria.
Eles então, não permitiam qualquer interferência. A China acabou de assinar com o Irã um tratado de 25 anos, onde eles vão investir no país, meio trilhão de dólares. Prabir Purkayastha menciona que muitos cartazes das manifestações antiguerra, na década de 1960, para acabar com a Guerra do Vietnã, por exemplo, eles diziam nos cartazes: nosso petróleo está por baixo da terra deles, dos árabes. Não era deles o petróleo, eram “nosso”, dos Estados Unidos.
Assim, com o desenrolar do desenvolvimento da história da humanidade, dos países, estes três fatores que garantiam uma segurança do investimento no dólar como moeda de reserva (petróleo, poder militar e industrial), foram deixando de ter importância. Eles, então, por um período, garantiram a segurança e a confiança no dólar. A partir de um certo momento, quando os Estados Unidos entram em decadência, estes fatores começam a perder importância.
Essa perda de confiança, perda de poder já ocorre e é real isso. O autor dá um dado impressionante. Em 2001, 80% dos países do mundo tinham os Estados Unidos como seu principal parceiro do comércio exterior, passados 17 anos, em 2018, apenas 30% dos países do mundo tinham com os Estados Unidos relações preferenciais no comércio. É visível a decadência e a bancarrota.
O autor dá outro número impressionante. No total, 128 países, dos 193 membros da ONU (66,32%), negociam com a República Popular da China. Em menos de 20 anos, a China ascende à maior potência industrial do mundo. Desde 2010, a China já havia ultrapassado os Estados Unidos com relação ao seu poderio industrial.
Nesse ano, a China tinha 28,7% do comércio mundial industrial e os EUA, 16,8%. Vejam que ultrapassagem a China deu em cima dos Estados Unidos. A China, integra com os países Rússia, Cazaquistão, Quirguistão, Bielorrússia e Armênia um bloco regional econômico.
Estes cinco países criaram tempos atrás, uma união econômica euroasiática. Eles já estavam avançando na discussão sobre a criação de um novo sistema monetário que pudesse ser internacional e, depois que a guerra se inicia, isto se acelera. É o que nós estamos presenciando hoje.
Um outro exemplo do autor é que Índia e Rússia já trabalham nas trocas comerciais em suas próprias moedas: rúpias indianas e rublos russos, para o seu comércio bilateral, especialmente, na compra por parte da Índia dos armamentos que a Rússia fornece.
Então, a Rússia está aceitando rúpias e, ao contrário também, nas compras a Índia aceita rublos como pagamento. Este é um movimento que fatalmente irá enfraquecer, cada vez, mais o dólar como moeda de comércio internacional e moeda de reserva. A Índia também importa petróleo e fertilizantes da Rússia. O país já tinha criado também um sistema de comércio bilateral direto com a República Islâmica do Irã, para poder comprar o seu petróleo.
Vou registrar o que já ouvimos falar, que a Arábia Saudita, no dia 17 de março, anunciou ao mundo que estava iniciando estudos para aceitar por parte da República Popular da China, o pagamento do petróleo que ela vende para a China em moeda chinesa, o Yuan (5).
O nome oficial da moeda chinesa não é Yuan, é Renminbi. Mas, vamos continuar tratando por Yuan. Isto é uma quebra de um compromisso firmado pessoalmente por ninguém menos que Franklin Delano Roosevelt, presidente dos EUA.
Em fevereiro de 1945, ele estava à bordo do cruzador US Quincy – ele não desembarcou – e fez uma visita ao rei da Arábia Saudita, Abdulaziz Ibn al-Saud, que subiu à bordo, e estabeleceram um compromisso em troca de os Estados Unidos protegerem a Arábia Saudita para sempre, ou até quando durar a história. Em troca disso, a Arábia Saudita se comprometeria a vender o seu petróleo, exclusivamente em dólares. Por isso o termo petrodólares. E, agora, eles sinalizam com a quebra deste acordo histórico.
Isto, porque, eles já estão percebendo a mudança no mundo e todo mundo árabe vai começar a olhar para a Ásia, para a China. Não é por acaso que o presidente da Síria, dr. Bashar al-Assad, que foi expulso da Liga dos Estados Árabes, pela sua luta contra o terrorismo, visitou os Emirados Árabes Unidos (6).
Ele foi recebido pelo primeiro-Ministro Mohammed bin Rashid al-Maktum. Isso no dia 18 de março. Não é coincidência que isso tenha ocorrido no dia seguinte que a Arábia Saudita sinalizou à China que aceitaria a sua moeda na compra de petróleo,
Nenhum país árabe, à exceção de Omã, mantém até hoje relações diplomáticas com a Síria. Pois eis que o presidente dos Emirados disse que não via a hora de reatar as relações e iria propor na próxima reunião da Liga, o retorno da Síria. Nós ainda não aquilatamos o significado de a Arábia Saudita quebrar o tal acordo.
Vejam que não existem situações que sejam eternas. Tudo está em transição, tudo se move, nós estamos vendo o mundo se movimentar e essa é a beleza da forma como nós analisamos o mundo. Nós, marxistas-leninistas, usando a melhor metodologia que se pode ter à disposição de quem queira usar, que é o materialismo dialético e o materialismo histórico, conseguimos ver que o mundo está mudando, o Oriente Médio está mudando.
A Arábia Saudita deve concluir os seus estudos em breve – que não são simples. Hoje todas as transações se dão pelo sistema Swift e só podem ser feitas em dólar. O cliente aperta um botão e manda um bilhão de dólares que cai na conta da Arábia Saudita. Em seguida eles mandam os super petroleiros para entregar o petróleo. É assim que funciona. E como seria acabar com isso?
Como será receber a moeda chinesa no lugar do dólar? Será em papel moeda mesmo ou em barras de ouro? Estão discutindo também sobre o lastro para o Yuan. O Yuan não pode transitar no sistema Swift, nem o Rublo, nem o Iene japonês. O SWIFT é do dólar. Será que vamos ver um sistema alternativo que aceite as principais moedas sem discriminar o dólar?
Então, nós estamos presenciando um momento histórico fantástico. Temos que vibrar com isso, porque, às vezes, quem não faz um raciocínio dialético, olha e não vê mudança nenhuma. Olha, mas não enxerga, porque não é dialético.
Muitas vezes, as mudanças são imperceptíveis, que só por meio de uma análise mais acurada, que leve em conta a luta de classes, que leve em conta a correlação de forças, que leve em conta o potencial de cada país em jogo nesse tabuleiro, o chamado players do cenário internacional, que poderemos compreender a totalidade. Esta é a nossa análise neste momento. Eu fico satisfeito em ver esses economistas que não se proclamam marxistas, fazendo uma análise com a qual nós temos uma profunda identidade.
Se Arábia Saudita concluir os seus estudos e dizer: muito bem, você venceu, pode pagar em Yuan. Naquele momento, provavelmente, o Yuan vai valorizar muito, talvez 25% como calculam os autores do estudo. Isso porque, um quarto do petróleo mundial comercializado é saudita, pois eles tiram do fundo da terra, todos os dias, 12 milhões de barris. Eles produzem seis vezes mais que o Brasil e têm uma reserva de 290 bilhões de barris, menor apenas que a Venezuela, com 305 bilhões de barris.
Vou apresentar aqui os últimos dados do artigo de Prabir, para mostrar as cadeias produtivas. Eu fiquei impressionado, pois não sabia de alguns detalhes. As fábricas de chip, supercondutores, dos quais até uma geladeira hoje precisa, os carros precisam, dependem de alguns materiais especiais para serem fabricados.
Porque carros no Brasil e no mundo, estão demorando seis meses para entregar? Porque, está faltando o chip no mercado. No mundo há apenas três empresas que fabricam o chip. Nos Estados Unidos tem a Intel; tem uma na Coréia do Sul e outra em Taiwan. Os países membros da APEC – Asia-Pacific Economic Cooperation (Cooperação Econômica Ásia-Pacífico), que é um sistema que reúne países do sudeste asiático (6), tem experimentado um novo sistema de envio de recursos paralelo ao SWIFT.
Os chips, para fabricá-los é necessário um componente chamado substrato de safira, que só a Rússia produz. Com as sansões, como é que a Rússia vai exportar o substrato? Vão parar a produção de supercondutores no mundo?
O outro importante elemento que a gente não sabe porque não é do nosso dia a dia, é um componente chamado “neon”, que vemos em lâmpadas. É um gás. Os principais fornecedores de neon do mundo estão exatamente em Mariupol, na Ucrânia e Odessa. A primeira, já ocupada pelo exército russo e, Odessa ali do lado, não sabemos se eles vão ocupar ou não.
Outro elemento é o níquel, o mais importante para a fabricação de baterias elétricas. A Rússia é o terceiro maior fornecedor de níquel do mundo. Por fim, países como Rússia, Ucrânia e Bielorrússia, produzem a maior parte dos componentes necessários para a fabricação de fertilizantes do mundo inteiro: fósforo, nitrogênio etc.
O autor conclui pedindo para as pessoas se prepararem para a escassez de trigo na humanidade, de maneira a você preparar seu bolso, seu coração, para pagar o dobro do preço na padaria. Estes assuntos sinalizam um novo mundo e uma nova era, uma nova ordem. Portanto, uma nova arquitetura financeira internacional, onde o dólar não seja mais a moeda hegemônica.
Notas
1. Neste link <https://bit.ly/3x7Dbl2> o artigo original pode ser lido;
2. O texto original desse ex-diplomata inglês pode ser lido no original neste link <https://bit.ly/3KDCoMI>;
3. Visite o site do SWIFT e veja que até pessoas físicas podem abrir contas para enviar dinheiro para quaisquer lugar do mundo: <https://bit.ly/3JyhihD>;
4. Veja mais sobre a doutrina Monroe neste site <https://bit.ly/3uDMBDf>;
5. Veja neste link a matéria sobre isso <https://bit.ly/3vjwvOg>;
6. Bloco econômico que tem como principal objetivo apoiar o crescimento econômico sustentável e a prosperidade da região do Pacífico. Sua fundação deu-se em 1993 e é integrado pelos países: Austrália; Brunei; Canadá; Chile; China; Cingapura; Coreia do Sul; Estados Unidos; Filipinas; Hong Kong; Indonésia; Japão; Malásia; México; Nova Zelândia; Papua-Nova; Guiné; Peru; Rússia; Tailândia; Taipé – China e Vietnã. Vejam mais informações neste link: <https://bit.ly/3DSXJPJ>;
* Sociólogo, professor universitário (aposentado) de Sociologia e Ciência Política, escritor e autor de 18 livros (duas reedições ampliadas), é também pesquisador e ensaísta. Atualmente exerce a função de analista internacional, sendo comentarista da TV dos Trabalhadores, da TV 247, da DCM TV entre outros canais, todos por streaming no YouTube. Publica artigos e ensaios nos portais Vermelho, Grabois, Brasil 247, DCM, Outro lado da notícia, Vozes Livres, Oriente Mídia, Vai Ali e no Jornal Tornado, de Portugal. Todos os livros do Professor Lejeune podem ser adquiridos na Editora Apparte (www.apparteditora.com.br).
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