Declínio dos EUA e ascensão da China: CT&I é vetor central da reconfiguração do poder mundial
Capacidades nacionais em ciência, tecnologia e inovação se tornaram um vetor central da reconfiguração do poder mundial. Essa é a conclusão do artigo publicado na última edição da Revista Tempo do Mundo, do IPEA, pelos professores Luis Manuel Rebelo Fernandes, Ana Saggioro Garcia, Samuel Rufino de Carvalho e Lucia Viegas.
Capacidades nacionais em ciência, tecnologia e inovação se tornaram um vetor central da reconfiguração do poder mundial. Essa é a conclusão do artigo publicado na última edição da Revista Tempo do Mundo, do IPEA, pelos professores Luis Manuel Rebelo Fernandes, Ana Saggioro Garcia, Samuel Rufino de Carvalho e Lucia Viegas.
A partir do conceito marxista de “desenvolvimento desigual”, os autores examinaram a evolução das posições relativas ocupadas por Estados Unidos, União Europeia (UE), China, Japão, Índia, Rússia, Brasil e Coreia do Sul na economia global entre 1990 e 2020 em três dimensões: dinamismo produtivo; dinamismo científico e tecnológico; e dinamismo de inovação.
O dinamismo produtivo foi medido pela participação relativa no produto interno bruto (PIB) mundial calculado por paridade de poder de compra (PPC). O dinamismo científico e tecnológico foi calculado pela participação relativa na autoria de artigos publicados em revistas internacionais indexadas. Já a base de comparação do dinamismo de inovação foi a participação relativa no registro de patentes no mundo.
Declínio dos EUA e ascensão da China
Os resultados apresentados evidenciam a erosão do poder relativo das “potências tradicionais” (Estados Unidos, Europa e Japão), a ascensão acelerada da China e a emergência de novas “potências relevantes” (com destaque para a Índia e a Coreia do Sul).
Do ponto de vista do dinamismo produtivo, a China aumentou o seu PIB/PPC mais de dezoito vezes no período, passando de US$ 1,3 trilhão em 1990 para US$ 24,3 trilhões em 2020, ultrapassando a UE e os Estados Unidos. Em relação ao dinamismo científico e tecnológico, a China, aumentou em oito vezes a sua participação no total de publicações indexadas (passando de 3% em 1996 para 16% em 2020). Em 2020, a China ultrapassou os Estados Unidos e passou a ocupar a segunda posição na produção científica e tecnológica global. A Europa ainda aparece em primeiro lugar nesse quesito, mas em declínio. Já no dinamismo de inovação a China ultrapassou, de longe, o desempenho das potências tradicionais (Estados Unidos, Europa e Japão) no indicador, passando de 1% do total de patentes requeridas em 1990 para 43% em 2020.
Um exemplo a ser seguido pelo Brasil
O argumento dos autores é que “os países em desenvolvimento não estão condenados a posições periféricas, subalternas e de baixa agregação de valor na divisão internacional do trabalho”. Se o argumento está correto, a tarefa urgente do Brasil para alterar sua posição relativa no sistema internacional é incorporar de forma consistente “a pesquisa, o desenvolvimento tecnológico e a inovação às suas políticas e ações de promoção do crescimento econômico”.
Diga-se de passagem, um dos autores do artigo, o diretor do Instituto de Relações Internacionais (IRI) da PUC-Rio, Luis Manuel Rebelo Fernandes, foi um dos responsáveis pelo programa de governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva que foi apresentado publicamente no mês passado. Ex-Secretário Executivo do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, ex-presidente da FINEP e Membro do Comitê Central do PCdoB, Luis Fernandes foi indicado pelo partido para participar da formulação do programa de governo da chapa Lula/Alckmin, em particular no conteúdo sobre C, T & I.
O artigo na íntegra pode ser encontrado aqui.