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Precisamos completar a obra da Independência

15 de setembro de 2022

Em artigo publicado no jornal O Globo, a reitora da UFRJ, Denise Pires de Carvalho, e o professor Luis Fernandes, do Fórum de Ciência e Cultura, defendem que é preciso completar a obra da Independência.

Em artigo publicado no jornal O Globo nesta quinta-feira, 15/9, a reitora da UFRJ, Denise Pires de Carvalho, e o professor Luis Fernandes, do Fórum de Ciência e Cultura, defenderam que é preciso completar a obra da Independência e que, para isso, as universidades têm papel relevante nos esforços para superar vulnerabilidades do Brasil.

Precisamos completar a obra da Independência

Por Denise Carvalho e Luis Fernandes

Setembro marca a sequência de eventos que culminaram, há 200 anos, na Proclamação da Independência: a afirmação do direito à auto-organização política do Brasil. Trata-se de conquista a ser celebrada por todo o povo brasileiro, e não apenas por uma de suas vertentes político-ideológicas. Mas a comemoração não pode ofuscar o olhar crítico sobre as limitações que marcaram e continuam marcando esse processo histórico.

Entre elas, destaca-se a preservação do regime de trabalho escravo por mais de seis décadas após a separação política de Portugal, mantendo e consolidando uma estrutura de desigualdade e racismo com impactos profundos e duradouros na sociedade brasileira. Do ponto de vista político, a persistência do controle dinástico (e, na sequência, oligárquico) sobre o próprio poder estatal no país, o que tolheu a afirmação da soberania popular (democrática) como fundamento da própria soberania nacional. Só há pouco mais de três décadas é que afirmamos o sufrágio universal como princípio ordenador da escolha dos nossos governantes.

A incapacidade de associar, de forma consistente e sustentada, a independência política a um projeto nacional de desenvolvimento que reposicionasse o Brasil na divisão internacional do trabalho nos deixou um legado de vulnerabilidades. A pandemia da Covid-19 revelou de forma dramática a nossa dependência do fornecimento de equipamentos, ingredientes e tecnologia do exterior para assegurar o direito do nosso povo à saúde.

Os impactos da guerra na Ucrânia desnudaram a necessidade de assegurar capacidade e controle nacional sobre o fornecimento de insumos essenciais para a nossa agricultura, bem como sobre a oferta de energia a partir de fontes diversificadas e limpas. A preservação efetiva da soberania na Amazônia brasileira exige que a ordem legal nacional prevaleça em todo esse gigantesco e riquíssimo território, e que se promova, nesta base, o seu desenvolvimento sustentável.

Nesse contexto, a universidade brasileira e as instituições do Sistema Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação têm papel central nos esforços para superar essas e outras vulnerabilidades que continuam marcando nossa trajetória como país independente. Nos paradigmas produtivos que conformam a sociedade do conhecimento do século XXI, ciência e tecnologia têm função cada vez mais central na agregação de valor e na geração de riqueza a ser redistribuída na sociedade.

Organizado pelo Fórum de Ciência e Cultura da UFRJ, o evento Bicentenário da Independência e os Rumos do Brasil, hoje e nos dias 20 e 21, será um importante momento para celebrar o passado, analisar o presente e projetar o futuro, atualizando o compromisso da universidade com a sociedade brasileira, no apoio à sua capacidade de desenvolvimento autônomo.

Garantir investimentos para alavancar a capacidade científica e tecnológica nacional — e mobilizar essa capacidade para gerar soluções inovadoras para os grandes desafios do país — é o caminho para construir um futuro com mais igualdade, justiça e bem-estar no Brasil. Precisamos completar a obra da independência. 

*Denise Carvalho é reitora da UFRJ, e Luis Fernandes é professor da UFRJ e da PUC-Rio